Pior blecaute da história agrava ainda mais crise da Venezuela
Com boa parte do país sem energia elétrica há mais de 24 horas e diversos setores afetados, Venezuela enfrenta maior falta de fornecimento da história
Internacional|Da EFE
O longo blecaute que deixou a Venezuela sem luz desde a tarde de quinta-feira (7) e se mantém nesta sexta (8) já se transformou no maior apagão da história do país, afetou diferentes setores da economia e ampliou ainda mais a grave crise que o país atravessa.
Os venezuelanos ficaram no escuro por volta das 17h locais de ontem (18h em Brasília). Caracas e pelo menos 14 dos 23 estados do país sofrem desde então com a falta de eletricidade, um problema que atingiu também as redes de telefonia e de internet.
O apagão ocorreu após uma falha na usina hidrelétrica de Guri, no estado de Bolívar, no sul da Venezuela, responsável pelo fornecimento de energia de 70% do país.
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O governo de Nicolás Maduro, que suspendeu as aulas e decretou feriado para os servidores públicos hoje, tinha afirmado ontem que o problema seria resolvido em três horas. Sem sucesso.
Por isso, depois uma noite de total escuridão, as ruas das cidades afetadas amanheceram quase em silêncio. Poucos moradores ousavam sair de casa e todas as lojas permaneciam fechadas.
Só era possível ver movimento nos poucos postos de gasolina que funcionavam apesar do apagão. A Guarda Nacional Bolivariana foi chamada para controlar as longas filas e proteger as bombas.
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Mas as cenas mais tristes foram registradas nos hospitais públicos do país. Metade deles não tinha geradores elétricos para atender sequer os casos de emergência ou manter em funcionamento as unidades de tratamento intensivo (UTIs).
A Agência Efe visitou sete hospitais de Caracas. Em quatro, as emergências estavam fechadas, apesar haver pacientes esperando na porta do local para receber atendimento.
Segundo a última Pesquisa Nacional de Hospitais, apresentada pelo porta-voz da organização Médicos pela Saúde, Julio Castro, entre 19 de novembro do ano passado e 9 de fevereiro de 2019, 79 pessoas morreram enquanto eram atendidos em hospitais venezuelanos.
As mortes coincidem com falhas no fornecimento de energia.
Enquanto isso, o chefe da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, que em janeiro se autoproclamou presidente interino do país, dedicou o dia para percorrer as ruas de Caracas e acompanhar de perto os problemas enfrentados pela população sem luz.
Guaidó disse estar preocupado com as pessoas que estão nos hospitais e aproveitou para reiterar a convocação para as manifestações que ocorrerão amanhã para exigir a saída de Maduro.
"Estão como sempre dando a desculpa da sabotagem, mas não existe sabotagem. É simplesmente corrupção, falta de manutenção e de técnicos especializados", disse Guaidó depois de participar de uma cerimônia do Dia Internacional da Mulher em Caracas.
O governo de Nicolás Maduro responsabilizou o senador americano Marco Rubio e a oposição pelo problema na usina de Guri, afirmando que houve um "ataque tecnológico" e uma "sabotagem".
Mas Guaidó lembrou hoje que o próprio governo chavista decretou uma crise no setor elétrico há uma década, em 2009, e anunciou investimentos de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 387 bilhões) para resolver o problema.
Além disso, o autoproclamado presidente interino citou a aprovação pela Assembleia Nacional em 2017 de um voto de censura contra o ministro da Energia Elétrica, Luis Motta Domínguez, culpado pelos opositores pela crescente crise no setor.
"Denunciamos a crise elétrica desde 2017, isso infelizmente não é novo. Essa crise e essa tragédia são responsabilidade do regime (de Maduro)", criticou Guaidó.
Já tensos pela crise econômica e social atravessada pela Venezuela, a população do país agora teme a continuidade do blecaute. O medo é que a falta de luz estrague os poucos alimentos que eles mantêm na geladeira e que o comércio continue fechado.