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Poder militar mantém Maduro, mas pode ser ponto fraco do governo

"Toda vez que deixaram de apoiar um governo, ele caiu", diz especialista

Internacional|Marta Santos, do R7


Forças Armadas são aliadas fortes do governo de Nicolás Maduro
Forças Armadas são aliadas fortes do governo de Nicolás Maduro

As Forças Armadas da Venezuela exercem um papel fundamental na administração do país e são aliadas fortes do governo. Ao mesmo tempo em que seu apoio é peça-chave para a continuidade da atual administração do presidente Nicolás Maduro, a dependência do setor também pode se tornar um "calcanhar de Aquiles" do governo, caso essa parceria seja quebrada.

A última vez em que isso aconteceu foi em 2002, quando um golpe de Estado promovido com apoio do empresariado e de uma minoria de militares depôs o presidente Hugo Chávez. A resposta rápida das Forças Armadas leais ao governo devolveu o poder a ele dois dias depois.

Desde então, a pesquisadora Carolina Silva Pedroso, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), explica que as declarações oficiais das Forças Armadas são sempre de apoio ao governo. Quando forças contrárias se manifestam, elas são logo abafadas.

— Toda vez que as forças armadas deixaram de apoiar um governo, esse governo caiu, mesmo que ele tenha caído pelas mãos de civis. Hoje, a gente sabe que uma parte da oposição saiu justamente do Exército, quando teve o golpe. O problema é que a gente não sabe se aqueles militares de 2002 ainda têm algum tipo de entrada nas Forças Armadas. Por isso, a chance de um novo golpe de Estado é bem possível, na verdade.

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Como parte de sua pesquisa sobre a Venezuela, Carolina conversou com o ex-militar e líder entre os exilados venezuelanos nos EUA, José Antonio Colina.

— Ele me disse que, quando Pedro Carmona [então presidente de um sindicato patronal de empresários] assumiu o poder após o golpe de 2002 e dissolveu o parlamento, ele traiu o movimento. Colina diz que os militares que apoiaram o golpe não queriam um outro ditador, mas sim outro regime. Então, ele deixou claro para mim que se as Forças Armadas empreendessem algum tipo de tentativa de tirar o atual presidente, Nicolás Maduro, do poder, elas não dariam o poder para um civil, ia ficar para elas.

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Maduro assumiu a presidência da Venezuela em 2013. Na época, houve muita especulação sobre se o novo líder civil conseguiria se manter no poder após a morte de seu mentor, Hugo Chávez, que possuía raízes militares.

Como forma de se aproximar das Forças Armadas e de garantir sua fidelidade, Maduro deu amplo poder a militares e ex-militares em seu gabinete. Eles ocupam 11 dos 32 ministérios, incluindo Defesa, Agricultura e Alimentação.

— Eles estão, basicamente, com as mãos nas maiores riquezas do país. Maduro colocou os militares em vários setores estratégicos justamente para garantir que eles iriam bancar o governo dele. Um dos setores estratégicos é o de distribuição de alimentos, que é onde está o grande nó da crise venezuelana. É importante notar que a oposição diz que, pelo fato de as Forças Armadas estarem no controle da distribuição de alimentos, o Exército garante que, pelo menos, as suas famílias estejam bem alimentadas. Então isso, de certa forma, faz com que as forças armadas consigam garantir que o governo continue porque elas mesmas não estão sofrendo diretamente os efeitos da crise.

A oposição venezuelana critica a ampla participação dos militares no governo e sua “politização”.

— Não é o ideal ter tantos militares participando da vida política do país e em setores tão importantes. Na Venezuela, existe um princípio dos militares terem que ser um braço de ajuda aos civis até mesmo no sentido de implementar políticas públicas. Boa parte da política do Chávez se apoiou nesse princípio de que os militares tinham que colocar a mão na massa literalmente, construir rodovia, distribuir alimento, ajudar no atendimento médico da comunidade. Então criou-se lá uma convivência um pouco mais harmônica entre militares e civis. O problema é que neste contexto atual de crise, essa relação é problemática.

Maduro tem recebido muitas críticas da comunidade internacional pelo uso excessivo da força militar na repressão dos protestos contra o governo. As manifestações vêm se intensificando desde abril desde ano com a convocação da Assembleia Constituinte, eleita em agosto.

Um total de 124 pessoas morreram e 2.000 ficaram feridas (veja galeria abaixo) na onda de protestos deste ano. Além disso, a ONU (Organização das Nações Unidas) denunciou maus-tratos e tortura, de forma "generalizada e sistemática", entre os 5.000 manifestantes detidos no país.

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