Ponto fraco gigante no campo magnético da Terra está ficando maior e pode impactar satélites
Nova análise de 11 anos de observações por satélites da ESA mostra expansão acelerada da Anomalia do Atlântico Sul
Internacional|Do R7
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O campo magnético da Terra, escudo natural que protege o planeta da radiação cósmica, está passando por mudanças significativas. Um ponto de fraqueza sobre o Atlântico Sul e a América do Sul, conhecido como Anomalia do Atlântico Sul, vem se expandindo de forma constante, segundo dados mais recentes da missão Swarm, da Agência Espacial Europeia (ESA). A área enfraquecida já cobre quase 1% da superfície terrestre e se estende em direção à África.
Lançada em 2013, a constelação de satélites Swarm mede sinais magnéticos provenientes do núcleo, manto, crosta e camadas atmosféricas da Terra. Após 11 anos de observações contínuas, o estudo liderado por Chris Finlay, da Universidade Técnica da Dinamarca, revela que a região de campo mais fraco sobre o Atlântico cresceu quase metade do tamanho da Europa desde 2014. Em paralelo, o campo magnético sobre a Sibéria se intensificou, enquanto o do Canadá perdeu força.
A anomalia não é nova: foi identificada pela primeira vez no fim dos anos 1950, quando satélites começaram a detectar radiação espacial. Mas sua expansão recente preocupa operadores de satélites e cientistas. Ao passar sobre a área enfraquecida, equipamentos em órbita baixa ficam expostos a níveis maiores de radiação, o que pode causar falhas em sistemas eletrônicos, perda de dados e redução na vida útil das missões.
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Para a população em solo, os efeitos são mínimos, já que a atmosfera continua funcionando como uma barreira eficaz. No entanto, o enfraquecimento do campo afeta tecnologias dependentes de magnetismo, como sistemas de navegação e bússolas digitais de smartphones, que precisam de modelos atualizados a cada cinco anos para manter a precisão.
Os pesquisadores associam o fenômeno a processos que ocorrem cerca de 3 mil quilômetros abaixo da superfície, na fronteira entre o núcleo líquido e o manto rochoso. Nessa região, o ferro fundido em movimento gera o campo magnético global. Alterações na direção ou na velocidade desse fluxo criam áreas de polaridade invertida, conhecidas como “manchas de fluxo reverso”, nas quais as linhas magnéticas mergulham de volta ao núcleo em vez de emergirem. Uma dessas manchas, sob o sul da África, está se deslocando para o oeste, intensificando o enfraquecimento da anomalia.
A dinâmica do campo magnético não é uniforme. Enquanto o Atlântico Sul enfraquece, o polo norte magnético continua migrando rapidamente em direção à Sibéria, em um movimento impulsionado pelo fortalecimento do campo naquela região. Desde 2014, o campo canadense perdeu cerca de 0,65% de sua área de influência, o equivalente ao território da Índia, enquanto o siberiano cresceu 0,42%, tamanho comparável ao da Groenlândia.
Essas mudanças afetam também a aviação e a navegação marítima, que dependem de coordenadas magnéticas para ajustes de rota e calibração de instrumentos. Companhias aéreas e órgãos de navegação revisam periodicamente seus mapas magnéticos para acompanhar o deslocamento do polo norte e evitar erros de orientação.
Apesar de o fenômeno despertar especulações sobre uma possível inversão dos polos magnéticos, os cientistas ressaltam que as evidências atuais apontam apenas para variações localizadas. Estudos geológicos mostram que o campo da Terra já sofreu enfraquecimentos semelhantes, chamados de excursões, nos quais os polos se deslocaram por séculos antes de retornarem à posição original, sem causar colapso global.
A missão Swarm, que já fornece o mais longo registro contínuo do campo magnético obtido do espaço, deve seguir em operação até pelo menos 2030. Segundo a gestora da missão, Anja Stromme, os satélites permanecem em excelente condição e continuarão oferecendo dados inéditos sobre o funcionamento do núcleo terrestre.
A expansão da Anomalia do Atlântico Sul e a variação entre os hemisférios confirmam que o interior da Terra é um sistema dinâmico e em constante transformação. Para os cientistas, compreender essas mudanças é essencial não apenas para proteger satélites e astronautas, mas também para entender como o planeta mantém há bilhões de anos o escudo invisível que sustenta a vida na superfície.
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