Por que a tensão na fronteira entre Coreia do Norte e Sul explodiu
Norte coreanos explodiram escritório de cooperação com país vizinho nesta terça-feira (16). Território de Kim Jong-un passa por um crise interna e fome
Internacional|Do R7
Na madrugada desta terça-feira (16), a Coreia do Norte explodiu o escritório de cooperação com a Coreia do Sul em Kaesong, perto da fronteira entre os dois países e da Zona Desmilitarizada.
O que para grande parte do mundo parece uma loucura extrema de Kim Jong-Un é só mais uma estratégia da Coreia do Norte em momento de crise.
O jornalista Alexandre Aguiar, que esteve na Coreia do Norte há dois anos, explica que a Coreia do Norte não toma decisões extremas sem ter motivos maiores por trás.
Nesta semana, desertores norte coreanos foram até a região da fronteira entre os dois países e soltaram balões com propaganda anti-Coreia do Norte, dinheiro e pendrives com programas de televisão, filmes, música e noticiários sul-coreanos.
A ação irritou as autoridades norte coreanas, que apelaram para uma medida mais dura, como explodir o escritório, que era um símbolo da comunicação entre os dois países, com funcionários sul e norte coreanos trabalhando juntos.
Aguiar explica que, com a pandemia, o escritório está vazio há quase 6 meses.
Crise interna e concessões econômicas
A explosão do escritório acontece em um momento de crise interna na Coreia do Norte, motivada pela fome e pela subnutrição no país. Desde que a pandemia começou, as fronteiras com a China estão fechadas e o país foi assolado por uma seca.
“A agricultura da Coreia do Norte é primária, é muito antiquada, não tem o mesmo maquinário agrícola do Brasil e de outros países, não tem uma escala na produção”, explicou Alexandre.
A ONU já havia feito um alerta sobre a situação no país e afirmou que parte da população está passando fome, comendo uma ou duas vezes no dia e a subnutrição está grave. No país, os principais cultivos são de arroz e milho e, com a seca, a produção de arroz foi comprometida. Também há relatos de que os remédios ficaram mais difíceis de serem adquiridos, diz Aguiar.
Com fronteiras fechadas e um país fechado para a maior parte do mundo, a Coreia do Norte tenta artificializar uma situação de conflito para tentar conseguir algumas concessões e um alívio nas sanções econômicas vigentes. O país sofre com sanções totais dos Estados Unidos, não tem vínculos econômicos com a maior parte do mundo e nem um histórico de grandes importações.
“A Coreia do Norte é muito dependente da China”, explica o jornalista.
Antes da pandemia, a Coreia do Norte importava mão de obra para países na Europa e na Ásia. Agora, com as fronteiras fechadas, uma das principais formas de renda do país está paralisada e as autoridades começaram a sentir o impacto.
As ameaças de Kim Yo-jong
O ataque desta terça-feira (16) foi só uma das ações da Coreia do Norte nos últimos tempos para criar uma tensão. Antes, eles haviam colocado tropas em áreas não militarizadas, o que rompia o acordo fechado com a Coreia do Sul.
Quem está criando as ordens e o conflito, porém, não é Kim Jong-Un, o líder norte coreano, mas sua irmã, Kim Yo-Jong, apontada como uma possível sucessora de Kim. Antes, existia uma ideia de que ela seria mais moderada e diplomática se chegasse no poder, mas as últimas medidas mostram que ela adotaria um regime duro semelhante ao do irmão.
Alexandre destaca que a Coreia do Norte ainda pode tomar outras duas ações contra a Coreia do Sul, como uma nova ação militar contra desertores, caso eles decidam soltar novos balões na fronteira, ou usar os agentes norte coreanos no país para matar, prender e sequestrar esses cidadãos.