Por que embaixada do México na Bolívia virou incidente diplomático
Como o abrigo a ex-funcionários do governo Evo Morales na embaixada se tornou mais um problema nas já estremecidas relações entre os países
Internacional|Fábio Fleury, do R7
Nos últimos dias, militares e agentes do governo da Bolívia têm cercado a embaixada do México em La Paz, em um episódio que desgasta ainda mais as já complicadas relações diplomáticas entre os dois países desde a renúncia do ex-presidente Evo Morales, no último dia 10 de novembro.
Diplomatas e o governo mexicano dizem que o "cerco" é uma maneira de intimidar o pessoal da embaixada, que abriga ex-funcionários graduados do governo Morales, como o ex-ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana. O México foi o primeiro país a abrigar o ex-presidente depois que ele deixou a Bolívia.
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Nesta quinta-feira (26), o governo do México denunciou a Bolívia à Corte Internacional de Justiça (CIJ), por "violação de obrigações diplomáticas". Eles consideram que a presença dos agentes no portão da embaixada é uma transgressão da autonomia mexicana sobre o local.
Reclamações mexicanas
O chanceler mexicano Marcelo Ebrard disse em entrevista coletiva que, a partir do último dia 23, cerca de 90 agentes bolivianos passaram a cercar a embaixada, quando o aparato normal de segurança não passa de seis por dia.
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"Embaixadas são consideradas parte do território nacional que representam. Pedimos que as intalações sejam respeitadas e que sua integridade seja preservada, assim como das pessoas que estão na embaixada", afirmou Ebrard.
O presidente do México, Andrés Manoel López Obrador, fez o mesmo pedido em um pronunciamento, e disse que "nem mesmo (o ex-ditador chileno Augusto) Pinochet fez algo assim".
Mandados de prisão
O governo interino da Bolívia emitiu mandados de prisão para quatro ex-funcionários do governo Morales que estão na embaixada, incluindo Quintana. Os mexicanos, por sua vez, afirmam que todos eles já tinham solicitado asilo e aguardam o salvo-conduto para deixar o país.
"Segundo o direito internacional, o que predomina e prevalece é o direito de asilo" que já havia sido concedido, declarou Ebrard.
As autoridades bolivianas, por sua vez, negam que haja um cerco. Dizem que os agentes estão ali para prevenir um possível atentado por parte de correligionários de Morales que sentiriam "traídos" pelos que estão abrigados na embaixada.