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Por que o drone dos Estados Unidos espionava o mar Negro?

Região próxima à Crimeia, atualmente território controlado pela Rússia, é de grande interesse de Kiev, Moscou e Washington

Internacional|Lucas Ferreira, do R7

Lloyd Austin (à esq.) e Mark Milley (à dir.) em coletiva sobre incidente no mar Negro
Lloyd Austin (à esq.) e Mark Milley (à dir.) em coletiva sobre incidente no mar Negro

O drone americano MQ-9 Reaper que caiu no mar Negro na última terça-feira (14) iniciou uma nova fase da já conturbada relação entre Estados Unidos e Rússia. Apesar de estar sobrevoando águas internacionais, caças de Moscou supostamente contribuíram para a queda do equipamento não tripulado de Washington.

O MQ-9 Reaper tem a capacidade de carregar até oito mísseis ar-terra em sua estrutura, mas estava desarmado no momento da interceptação da Rússia. Acredita-se que o veículo, estimado em mais de 55 milhões de dólares, estivesse em um trabalho de espionagem a serviço do governo de Joe Biden. Mas por que espionar essa grande porção de água no Leste Europeu?

Antes de entrar nessa questão, é importante lembrar que o mar Negro banha a Crimeia. Essa área ganhou força no cenário internacional em 2014, quando a Rússia anexou esse território, que antes pertencia à Ucrânia.

Segundo o professor de relações internacionais da Facamp James Onnig, Moscou tem como objetivo mostrar força e domínio sobre toda a área do mar Negro, em um sinal de que não pretende devolver a região a Kiev.


“A escalada de tensão na região do mar Negro passa por outro estágio, justamente por causa da Crimeia. Os russos vão defender aquela região conquistada em 2014 com unhas e dentes, muitos diriam até reconquistada, porque foi cedida pela Rússia soviética à Ucrânia soviética”, conta Onnig em entrevista ao R7.

O assunto é tema recorrente nos discursos do presidente Volodmir Zelenski, que exige a devolução da Crimeia e a retirada de todos os soldados russos da península. Segundo o mandatário de Kiev, a guerra com Moscou começou, na verdade, quando a região foi tomada, e não em fevereiro do último ano.


O mar Negro também faz parte do atual conflito no Leste Europeu, já que é por lá que a Ucrânia consegue exportar grãos para o restante do mundo. Com os portos ao sul controlados pela Rússia, diversos órgãos internacionais, incluindo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), exigiram que Moscou permitisse o escoamento de trigo e outros alimentos pela região com o objetivo de evitar um desabastecimento global.

Uma das poucas negociações em andamento entre Ucrânia e Rússia hoje é justamente sobre a passagem de navios carregados de grãos pelo mar Negro. Por intermédio da Turquia, os dois países chegam a repetidos acordos que renovam o trânsito marítimo pelo local.


Apesar do alto controle militar russo na região, grande parte dos países nem sequer reconhece que a Crimeia é um território russo.

“Esta é uma advertência técnica dos russos para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que diz: ‘Olha, não brinquem com isso. A gente não vai aceitar’”, explica Onnig. “Os russos não vão aceitar nenhum tipo de ameaça que venha da terra, do mar ou do ar.”

Sem a Crimeia, restaria à Rússia apenas Krasnodar como saída para o mar Negro. Ao sul da região também está a Turquia, que, apesar de ter construído uma boa relação com Moscou nos últimos anos, é Estado-membro justamente da Otan.

A região, portanto, é essencial para uma vitória ucraniana na guerra, mas também para o longo jogo diplomático dos Estados Unidos e da Rússia, que novamente ganha ares de Guerra Fria. Para Washington, é vital entender como opera a Marinha de Moscou no mar Negro, além de identificar qualquer movimentação atípica na região. 

“Os russos não vão aceitar nenhum tipo de ingerência nessa região nem ameaça. Para eles, drones a partir de agora vão ser derrubados”, conclui Onnig.

Conheça o drone dos EUA supostamente derrubado pela Rússia

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