Por que países constroem muros em suas fronteiras?
Linhas nos mapas são transformadas em barreiras de concreto para controlar o fluxo de pessoas e para mostrar poder
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
As fronteiras entre países são linhas imaginárias traçadas no mapa e, na maior parte do mundo, facilmente atravessáveis. Em outras regiões, entretanto, as fronteiras são reais e aparecem na forma de muros, com arame farpada e guardas.
As barreiras mais emblemáticas foram construídas entre os Estados Unidos e o México; no enclave espanhol de Melilla, no Marrocos, e Ceuta, na Espanha, que separa a Europa da África; na zona desmilitarizada entre as Coreias e na Faixa de Gaza, região em disputa por Israel e Palestina.
Leia também
As justificativas pelos responsáveis por erguer essas estruturas nos limites entre dois países são controlar a entrada de imigrantes, criar zonas de segurança e garantir um cessar-fogo. No entanto, a explicação para construção dessas barreiras é, no fundo, mostrar quem manda na região.
“A materialização do muro expressa o distanciamento e materializa o poder. É a expressão do poder e da opressão, quem controla esse muro tem o poder”, diz a professora de Relações Internacionais da ESPM-POA, Ana Simão.
Controle da imigração ilegal
Os muros construídos na fronteira entre México e os Estados Univos e no reduto espanhol em Melilla e em Ceuta, no norte do Marrocos, surgiram com a premissa de controlar a imigração ilegal. Do lado norte-americano, a obra foi justificada também com uma medida necessária para combater o tráfico de drogas e a criminalidade.
"A criação das fronteiras não controla o tráfico e nem elimina o terrorismo o muro aumenta a vulnerabilidade das pessoas, das regiões e expressa o poder”, diz a professora da ESPM.
Pessoas que vivem em situação de crise política, econômica ou humanitária deixam suas casas em busca de uma situação de vida melhor e fogem para regiões mais desenvolvidas. Apesar de existir possibilidade de conseguir asilo ao cruzar a fronteira, o volume desses pedidos é grande e o processo lento.
Nos últimos anos, a União Europeia se mostrou mais aberta à entrada de imigrantes, com exceção a Itália, que fechou portos e recusou ajudar navios que circulavam próximo a sua costa. O ultradireitista Matteo Salvini chegou a ser julgado pelo bloqueio de uma dessas embarcações.
“A barreira física é uma demonstração de problemas diplomáticos prévios. Mostra que a questão chegou em um ponto em que as negociações diplomáticas se esgotaram”, diz o coordenador do curso de Relações Internacionais da FAAP, Carlos Gustavo Poggio.
Nos EUA, o ex-presidente Donald Trump foi eleito com um discurso contra a imigração e, durante seu governo endureceu as medidas para asilo e recebeu críticas pelo tratamento dado aos latinos nas dependências de centros da Agência de Imigração e Alfândega (ICE).
Joe Biden chegou à Casa Branca com uma proposta mais flexível em relação aos imigrantes, mas deixou claro que não vai abrir as portas para todos.
Zona de segurança
A fronteira entre Israel e Palestina é uma zona de guerra e, em maio deste ano, um confronto que durou semanas terminou com 100 mortes no lado árabe do muro.
“Essa é uma região de bastante tensão política. Tem uma questão econômica e política, com elementos religiosos, culturais e históricos”, explica Poggio.
Com a saída de Benjamin Netanyahu do poder no começo de junho, é possível que a situação de fato mude. “É preciso aguardar para ver como ficam as relações com a nova política em Israel”, diz Ana.
A guerra que ainda não acabou
A Zona Desmilitarizada entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul é uma das regiões mais armadas e vigiadas do mundo. Os dois países ainda estão em guerra, apesar de não trocarem tiros desde os anos 1950, quando a divisão do território foi formalizada.
Ainda assim, nunca houve um tratado de paz e as conversas sobre uma reintegração das Coreias ficam no campo das possibilidades para o futuro. Por hora, o maior perigo na região é o poderio militar da isolada Coreia do Norte, que rejeita as tentativas de diálogo com países do Ocidente e vizinhos.
O território sob o comando de Kim Jong-Un está isolado do restante do mundo desde o fim da guerra e relações principalmente com a China, que também tem um governo comunista. Enquanto isso, a Coreia do Sul cresce no campo da tecnologia, soft power e conta com aliados poderosos na Ásia e é próxima dos Estados Unidos.
Nesse muro não há imigrantes tentando passar para o outro lado. Os dissidentes da Coreia do Norte precisam enfrentar jornadas dificílimas para deixar o país e podem correr o perigo de serem traficados para outras regiões.
Para o professor Poggio, a permanência da proibição de circulação de pessoas entre as Coreias e a presença de outros muros pelo mundo vai contra o que era esperado para o mundo no século 21.
"A criação de todos esses muros é uma negação ao discurso pós-Guerra Fria de que viveríamos em um mundo aberto, globalizado, com trocas globais de comércio”, afirma.