Tunísia teve domingo de protestos contra o governo
Zoubeir Souissi/ReutersO presidente da Tunísia, Kais Saied, anunciou na noite deste domingo (25) a suspensão das atividades do parlamento e a destituição do primeiro-ministro, Hichem Mechichi, após um dia de protestos contra as autoridades do país.
Saied anunciou essas medidas, adotadas com base no artigo 80 da Constituição, após uma reunião de emergência no palácio presidencial de Cartago, em um momento em que a Tunísia enfrenta uma forte onda da covid-19 e uma profunda crise política que paralisa o país há meses.
"Tomei as decisões que a situação exige para salvar a Tunísia, o Estado e o povo tunisianos", afirmou o presidente após se reunir com autoridades das forças de segurança. "Estamos em momentos muito delicados na história da Tunísia", acrescentou.
Saied anunciou que assumirá o poder executivo com "a ajuda do governo" e nomeará um novo primeiro-ministro. Além disso, ele suspendeu a imunidade parlamentar dos deputados. A medida foi condenada pelo partido governista, Ennahda, de orientação islamita, que a qualificou de "um golpe de Estado contra a revolução".
"O que Kais Saied está fazendo é um golpe de Estado contra a revolução e a Constituição, e os membros do Ennahda e o povo da Tunísia defenderão a revolução", manifestou-se o partido em um comunicado publicado em sua página no Facebook.
Apesar do incômodo do partido, a decisão do presidente foi recebida com uma buzinaços e fogos de artifício, com centenas de pessoas reunidas na avenida Bourguiba, a principal via da capital, assim como em vários bairros da cidade e em outras cidades do país.
"Finalmente chegaram as boas decisões! Finalmente se livraram dos principais males da Tunísia: o Parlamento e Mechichi", exclamou um homem identificado como Maher no noroeste da capital.
As comemorações ocorreram horas depois de milhares de tunisianos protestarem no domingo contra a classe política, especialmente contra o Ennahda, partido majoritário no Parlamento, mas confrontado com o presidente.
A Constituição do país, de 2014s divide os poderes entre o presidente, o primeiro-ministro e o parlamento.
Os tunisianos se revoltaram em 2011 contra décadas de autocracia, instalando um sistema democrático que garantiu novas liberdades, mas não gerou prosperidade econômica.
"Muitas pessoas foram enganadas pela hipocrisia, traição e roubo dos direitos do povo", disse Saied em um comunicado divulgado na mídia estatal.
“Advirto quem pensar em recorrer a armas ... e quem disparar uma bala, as Forças Armadas responderão com balas”, acrescentou.
Logo após a declaração, carros encheram as ruas de Tunis desafiando o toque de recolher da pandemia, enquanto os apoiadores de Saied buzinavam e gritavam das janelas.
“Vamos mudar de regime” ou “O povo quer a dissolução do Parlamento” foram algumas das principais proclamações nos protestos, marcados por muitas críticas ao primeiro-ministro Mechichi.
A opinião pública tunisiana se mostra incomodada com os conflitos entre partidos no Parlamento e a queda de braço entre o chefe do Legislativo, Rached Ghannouchi, líder do Ennahdha, e o presidente Saied, que paralisou os poderes públicos.
A população também reivindica a falta de resposta do governo à crise sanitária, que deixou a Tunísia sem abastecimento de oxigênio.
Com cerca de 18.000 mortos neste país as 12 milhões de habitantes, a Tunísia apresenta uma das piores taxas de mortalidade no mundo por covid-19.