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Presidente do Paraguai sabia de acordo de Itaipu, diz jornal

Mario Benítez negava ter conhecimento, mas mensagens mostram que ele fez pressão para assinatura de acordo desfavorável ao Paraguai

Internacional|Beatriz Sanz, do R7

Benítez pressionou presidente de estatal
Benítez pressionou presidente de estatal

Após um momento de trégua, uma nova tempestade parece se formar no horizonte do presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez.

Na última semana ele escapou de sofrer um processo de impeachment depois que cancelou um acordo secreto com o Brasil que era economicamente prejudicial ao seu país.

Contudo, o jornal paraguaio ABC revelou nesta terça-feira (6), uma série de conversas no WhatsApp que provam que o presidente não só sabia da negociação secreta de Itaipu como fez pressão para o que Pedro Ferreira, o então presidente da estatal de eletricidade (Ande) assinasse o acordo desfavorável ao Paraguai. Ferreira pediu demissão em julho.

Após as revelações, a oposição abriu um processo de impeachment contra Benítez, mas a base do presidente deve rejeitar a votação.


Os diálogos entre Benítez e Ferreira divulgados pelo periódico começam em 5 de março, pouco mais de dois meses antes de o acordo ser assinado em Brasília.

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Naquele momento, as conversas já indicavam que o Brasil estava fazendo pressão para encarecer os custos da energia elétrica para o Paraguai e Ferreira não estava contente com a situação. Ainda assim, o presidente paraguaio pedia para que a solução fosse apressada. "Temos que movimentar a economia, Itaipu é uma ferramenta", afirmou o presidente.


Pouco tempo depois, no dia 12 de março, Benítez viajou com uma comitiva para renegociar uma parte do Tratado de Itaipu com o presidente Jair Bolsonaro.

Na ocasião, Benítez sugeriu a Ferreira que não demonstrasse suas críticas ao projeto para não prejudicar a negociação. "Espero que não briguem entre si em Brasília. Se houver diferenças, elas não podem estar em público", escreveu Benítez.


'Todos os dias tenho que ingerir bebidas amargas'

Já em abril, Benítez se mostrava preocupado com a cobertura da imprensa sobre o tema. O jornal ABC havia publicado uma nota relatando a pressão brasileira contra os benefícios paraguaios.

O presidente reagiu da seguinte maneira: "Me preocupa. Isso afeta nosso governo. E muito. Ninguém aqui vai ganhar se o governo enfraquecer. Devemos resolver o mais rapidamente possível".

Ferreira respondeu que iria colocar "todo o esforço" na questão. Benítez agradeceu ao presidente da Ande e confessou: "Aqui temos que negociar. Não acredite que eu faço tudo o que quero. Todos os dias tenho que ingerir bebidas amargas, mas hoje o país está nas nossas mãos e acho que está nas melhores mãos. Força!".

"Não discuta"

Em maio, o acordo finalmente foi assinado por autoridades paraguaias em Brasília. Mas ainda assim, foi mantido em segredo. Isso porque a ata registrava um aumento de custo de US$ 341 milhões a mais do que o valor que foi tratado das primeiras converas.

Pedro Ferreira não estava nessa reunião, que decidia alguns rumos a serem tomados pela empresa que ele dirigia.

Esse aumento preocupou Ferreira, que alertou o presidente outra vez. Entretanto, Benítez apenas recomendou: "Você tem que ficar calado e não discutir".

O presidente da Ande continuou se recusando a tratar com negociadores brasileiros que iam ao lado paraguaio de Itaipu.

Brasil faz pressão

Posteriormente, o Itamaraty passou a convocar autoridades paraguaias para demonstrar o "mal estar do governo brasileiro" pela demora do acordo para entrar em prática.

A situação já começava a sair do controle com a recusa de Ferreira a ceder à pressão brasileira. Benítez, por outro lado, não dá margem para discussão e enfatiza: "quero uma solução".

Pedro Ferreira não se intimida e responde ao presidente: "nós também queremos, como já expliquei, existem pontos que não estão claros e que podem levar a um aumento de tarifas".

Ferreira continua firme contra a ideia. "Não gosto que a Ande assuma o que outros assinaram, sem sequer participar da decisão".

Já Benítez condiciona investimentos na estatal ao acordo de Itaipu. E demonstra mais claramente as pressões brasileiras. "O Brasil congelou relações conosco por não cumprir o que assinamos".

Foi então que Ferreira se viu à beira do precipício e decretou: "presidente, negocie a minha cabeça, não a da Ande. Sei que é difícil seu trabalho como presidente, mas não posso assinar algo contrário ao meu país". Este diálogo aconteceu no dia 4 de julho. Cerca de 20 dias depois, Pedro ferreira pediu demissão de seu cargo na empresa.

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