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Presidente justiceiro das Filipinas abusa do populismo de “vestiário”

Rodrigo Duterte coleciona polêmicas e recentemente até xingou de “filho da p...” o líder americano Barack Obama

Internacional|Fábio Cervone, colunista do R7

Rodrigo Duterte em meio aos militares filipinos
Rodrigo Duterte em meio aos militares filipinos
Família filipina exige justiça durante enterro de jovem que foi executado sumariamente pela polícia
Família filipina exige justiça durante enterro de jovem que foi executado sumariamente pela polícia

Há muito tempo o mundo não assistia tantos políticos populistas reunidos nas principais manchetes internacionais, mas Donald Trump, Bolsonaro e Berlusconi parecem fichinha se comparados ao novo presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte.

Eleito com 39% dos votos no primeiro semestre deste ano, Duterte — ou o “Justiceiro”, como apelidou a revista americana Time — conseguiu com pouco tempo de governo elevar o termo populismo a um novo nível. Com seu jeito falastrão, o líder filipino tem a capacidade de surpreender a todos sempre que faz uma declaração pública.

Recentemente, ele chamou Barack Obama de “filho da p...”, causando um incidente diplomático tão grande que o encontro oficial entre os dois presidentes acabou cancelado. Horas depois, Duterte veio a público pedir desculpas, o que não resolveu muita coisa.

Tal atitude lembra muito a daquele colega chato e mimado do futebol domingueiro que, depois da pelada com os amigos, sempre solta comentários exagerados, provocativos e muitas vezes faz bulliyng contra alguém no vestiário. O motivo de tais provocações é sempre o mesmo: chamar a atenção da “galera”, mesmo que de forma ofensiva.


Esta é exatamente a tática do populista de “vestiário”: chocar o público presente e conquistar cinco minutos de atenção, mesmo que para isso os valores morais e o respeito sejam completamente deixados de lado.

Duterte fez sua carreira em cima de declarações incômodas e inconvenientes e, por isso, coleciona uma série incidentes diplomáticos. Por exemplo, o político afirma, em alto e bom som, que certa vez atirou em um colega da faculdade de direito. Apesar de ter sofrido represálias pelo ato violento, ele conseguiu ainda se formar. O filipino também foi acusado de xingar o Papa Francisco, em 2015, por causa do congestionamento que a visita do líder religioso causou na região.


Tudo isso seria até cômico se Duterte limitasse as polêmicas apenas aos seus discursos. Porém, a realidade é outra. Desde que assumiu o poder, o “Justiceiro” deu início a uma verdadeira carnificina no seu país. Pregando o assassinato de traficantes e criminosos, sua gestão está deixando um rastro de sangue em toda as Filipinas.

De acordo com os primeiros levantamentos, desde o início do mandato de Duterte, mais de 2.400 pessoas foram executadas pela polícia ou grupos de extermínio por supostamente estarem envolvidas com algum tipo de atividade ilícita, sobretudo, por terem ligação com o narcotráfico.


A cifra recorde das execuções não passou batida pelas principais organizações e ativistas do mundo. A ONU (Organização das Nações Unidas), por exemplo, condenou formalmente a violenta gestão do líder filipino e criticou a repressão desproporcional contra dependentes de drogas e criminosos de pequenos delitos.

Depois de ser duramente reprovado, Duterte não deixou barato e declarou que pode tirar as Filipinas das Nações Unidas e ainda pode promover uma nova organização internacional com outros valores. Conforme ele mesmo defendeu durante sua campanha presidencial: “Esqueçam as leis sobre os direitos humanos”.

Mas por mais impressionante que pareça, o populismo inconsequente de "vestiário" promovido pelo presidente filipino aparentemente não afetou sua popularidade. Pelo contrário, apesar dele ter sido eleito com apenas 39% dos votos, no primeiro mês de governo ele desfrutava de 91% de aprovação popular.

A estridência de políticos como Duterte é um desserviço para as instituições democráticas e para os direitos conquistados pelos cidadãos. Tal tipo de liderança promove uma irresponsabilidade momentânea completamente oposta às funções de cargos públicos representativos, como é o caso dos chefes de estado e governo.

Deve-se tomar muito cuidado para que tais táticas não se tornem regra no cenário político, o que consequentemente, polariza o diálogo político em detrimento do respeito mútuo necessário para a convivência democrática.

Duterte é líder, por isso, muitos filipinos o veem como um exemplo a ser seguido, da mesma forma que seus colegas congêneres, Trump, Berlusconi, Bolsonaro e etc. Antes que o destino de muitos cidadãos seja decidido como uma pelada inconsequente e infantil, é preciso perceber que não se faz política como se estivesse dentro de um vestiário de várzea.

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