Primeira-ministra da Escócia surpreende e renuncia ao cargo
Política, que permaneceu no cargo por 8 anos e tinha grande apoio popular, explicou saída como necessidade de alternância de poder
Internacional|Do R7
A primeira-ministra da Escócia, a independentista Nicola Sturgeon, anunciou a renúncia ao cargo nesta quarta-feira (15), depois de passar oito anos à frente do governo e com elevados índices de popularidade.
Sturgeon, 52 anos, que lidera há muito tempo a luta por um novo referendo sobre a independência da Escócia do Reino Unido, declarou que a renúncia "não é uma reação a problemas de curto prazo", e sim a convicção de que "nenhum indivíduo deve ser dominante em um sistema por muito tempo".
"Na minha cabeça e no meu coração, eu sei que o momento chegou, que é o momento adequado para mim, para o partido e para o país. Por isso, anuncio hoje minha intenção de renunciar como primeira-ministra e líder de meu partido", afirmou em uma entrevista coletiva em Edimburgo, antes de explicar que permanecerá no cargo até a designação do sucessor.
Ela disse, no entanto, que não deixará a política, porque permanece comprometida com temas que incluem melhores oportunidades para os jovens e "obter a independência". "É uma causa à qual dediquei toda a minha vida e na qual acredito", declarou, com a fisionomia cansada.
A notícia surpreendeu todo o país.
Em janeiro, após a inesperada renúncia da primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern, Sturgeon afirmou que permanecia "repleta de energia" e não sentia que o momento de deixar o poder estava próximo.
Sturgeon se tornou líder do Partido Nacional Escocês (SNP) e do governo autônomo da Escócia após a renúncia de seu antecessor e mentor, Alex Salmond, em 2014, depois que os escoceses votaram a favor (55%) da permanência no Reino Unido.
Desde então, com paciência e determinação, ela retomou a luta pela independência, que ganhou impulso após o Brexit — os escoceses votaram de forma esmagadora contra a saída da União Europeia.
Ela defendeu, nos últimos anos, a convocação de um segundo referendo, uma ideia rejeitada com veemência pelo governo central de Londres.
Com elevados índices de popularidade por sua gestão elogiada da pandemia de Covid-19, que contrastou com as caóticas políticas do primeiro-ministro britânico Boris Johnson, Sturgeon acumulou vitórias eleitorais e conquistou uma nova maioria para o SNP no Parlamento regional, em aliança com os ecologistas, em maio de 2021.
Mas ela viu sua popularidade abalada após a aprovação, em dezembro, de uma lei polêmica que facilita a transição de gênero, permitida a partir dos 16 anos e sem a necessidade de diagnóstico médico.
O governo do primeiro-ministro conservador britânico Rishi Sunak afirmou que seria contrário e, pouco depois da aprovação da lei, um escândalo jogou mais lenha na fogueira: uma mulher trans condenada por estuprar mulheres antes de sua transição foi detida em uma penitenciária feminina, o que provocou fortes reações.
Finalmente, a detenta foi transferida para uma penitenciária para homens.
Nascida na cidade industrial de Irvine, ao sudoeste de Glasgow, com pai eletricista e mãe enfermeira, Sturgeon se filiou ao SNP aos 16 anos e foi vice-coordenadora da ala jovem.
Peter Murrell, seu marido, é o diretor-geral do partido. O casal, que não tem filhos, se conheceu há mais de 20 anos em uma reunião da juventude do SNP, do qual Nicola Sturgeon se tornou uma das primeiras representantes no Parlamento autônomo escocês quando esse foi formado, em 1999.