Protestos contra junta militar no Sudão deixam três mortos
Segundo médicos, 300 pessoas foram feridas com munição real, balas de borracha e gás lacrimogêneo pelas forças de segurança
Internacional|Do R7
Três manifestantes morreram em um novo dia de protestos no Sudão contra os militares, que chegaram ao poder com um golpe há mais de dois meses, informaram nesta quinta-feira (6) médicos e testemunhas.
Os três foram vítimas de disparos efetuados "pelas forças golpistas", afirmou a associação independente Comitê Central de Médicos.
Um manifestante morreu depois de receber "um tiro na cabeça" e outro foi baleado na pelve na cidade de Omdurmã, em frente à capital, Cartum, informou o comitê. O terceiro morreu no norte de Cartum, após receber tiros no peito, detalhou.
Os médicos também afirmaram que mais de 300 pessoas foram feridas por munição real, balas de borracha e gás lacrimogêneo.
Sessenta pessoas foram mortas pelas forças de segurança desde o golpe de Estado de 25 de outubro de 2021, segundo os médicos. Liderado pelo comandante do Exército, Abdel Fattah al-Burhan, o golpe pôs fim à transição para um governo civil pleno, quase dois anos depois da queda do ditador Omar al-Bashir, que estava havia três décadas no poder.
Primeiro-ministro e rosto civil da transição, Abdallah Hamdok foi detido e, depois, reinstalado pelo general Burhan, passado um mês do golpe. Mas em 2 de janeiro ele renunciou após um dia de manifestações violentamente reprimidas.
Sem rendição
Nesta quinta-feira, milhares de sudaneses voltaram às ruas para protestar contra o governo militar. Segundo testemunhas, as forças de ordem lançaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes que avançavam até o palácio presidencial e a sede do Exército em Cartum.
"Não há interesse em prolongar o vazio estatal", disse Taher Abouhaga, um dos assessores de Burhan, citado pela agência oficial de notícias Suna. "Este vazio deve ser preenchido o mais rapidamente possível", acrescentou, sugerindo que o governo estava se preparando para nomear um novo primeiro-ministro.
Apesar da repressão letal, a Associação de Profissionais do Sudão, que liderou a revolta contra Bashir em 2019 e o faz contra o Exército desde o golpe de outubro, convocou novas manifestações para exigir um governo civil pleno.
Leia também
“Continuaremos nos manifestando até conseguirmos que a nossa revolução e o governo civil voltem à normalidade”, afirmou o manifestante Mojataba Hussein, 23 anos. "Não vamos parar até recuperarmos o nosso país", reforçou o manifestante Samar al-Tayeb, 22.
Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Noruega pediram na terça-feira aos militares que não nomeassem um novo chefe de governo unilateralmente. Isso "prejudicaria a credibilidade" das instituições de transição "e promoveria o risco de mergulhar o país no conflito", alertaram.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, pediu ontem aos policiais que "deixem de usar força letal contra os manifestantes".
O general Burhan promete realizar eleições em julho de 2023.