Quais os impactos da invasão do Capitólio para o futuro dos EUA
Partido Republicano, governo Biden e sistema político norte-americano devem sentir os reflexos das ações de trumpistas
Internacional|Pablo Marques, do R7
A invasão do Capitólio por apoiadores do presidente Donald Trump entrará para a história dos EUA e terá reflexos nos próximos capítulos da política norte-americana.
As declarações de Trump sobre a ocorrência de fraudes no sistema eleitoral para beneficiar Joe Biden e a decisão de não reconhecer a derrota para o adversário foram alguns dos motivos que fizeram trumpistas se organizarem e partirem para Washington para barrar a sessão no Congresso que certificaria a vitória democrata nas urnas.
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"O Trump não tem responsabilidade sobre as informações que ele divulga. Não é possível confirmar tudo o que as pessoas falam na internet, mas o presidente não pode divulgar mentiras", diz o professor Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, apontando a parcela de culpa do líder americano pela invasão do Capitólio.
Desde a derrota, em novembro passado, o candidato republicano questiona a apuração de votos em estados onde os eleitores mudaram de lado e votaram no partido democrata. "A retórica do presidente convenceu muitas pessoas de que o resultado foi roubado, mas não existem provas que justifiquem essa postura", diz Paz.
Consequências para os republicanos
O Partido Republicano está dividido internamente entre aqueles que seguem apoiando Trump e aqueles que buscam um distanciamento. O professor da FGV afirma ser difícil apontar impactos de algo tão recente, mas acredita que a postura do partido pode indicar o que vai acontecer daqui para frente.
"Um possível caminho será reconhecer que o governo Trump foi um erro e iniciar uma reconstrução e deixar que os Democratas governem, já que Biden terá maioria no legislativo. Outro cenário seria uma aproximação com os democratas para tentar a aprovação de projetos de maneira conjunta, ou seja, bipartidária e assim conseguir alguns crédito", explica.
O professor destaca, porém, que Trump é uma potência de popularidade e ir contra os seus apoiadores também pode ser uma manobra arriscada eleitoralmente.
Governo Joe Biden
Joe Biden é conhecido por ter um perfil mais conciliador e por isso não deve sentir de imediato reflexos do ocorrido nesta semana. A polarização que ocorre entre os eleitores norte-americanos desde o governo Obama não seria interessante para o democrata, que deve tentar ter uma boa relação com a oposição.
Apesar disso, Paz acredita que o cenário que mostra os apoiadores de Trump enfraquecidos pode ser usado como uma brecha para dar encaminhamento a antigos projetos dos democratas, como o aumento do número de juízes na Suprema Corte e também a criação de cadeiras no Senado para Washington DC e para Porto Rico.
Essas mudanças fortaleceria os democratas em pautas progressistas que chegassem ao Supremo e também daria mais espaço para dominar o Legislativo com cadeiras que seriam ocupadas por latinos, que têm uma tendência a votar contra os republicanos.
Marco Histórico
A invasão do Capitólio foi algo inédito na história dos EUA e transmitida ao vivo pela internet ao mundo todo. A segurança e os policiais não conseguiram reprimir a ação de trumpistas e assim pessoas com bandeiras e caras pintadas em apoio ao atual presidente circulassem pelas salas e pelos corredores do prédio.
Em diversos momentos do passado, governos norte-americanos tinham como prática de sua política externa a intervenção política ou militar em países onde a democracia estaria ameaçada. O que aconteceu em Washington tem sido visto por muitos até mesmo como uma ameaça ao sistema político do país.
O professor destaca que os EUA passaram o século 20 inteiro condenando golpes e atuou em situações como essa na Bolívia, no Peru, na Venezuela entre outros países pelo mundo, mas que nunca imaginaram que isso aconteceria no próprio país.
"A invasão do Capitólio vai ser a representação desse movimento do Trump de tentar fraudar a eleição e permanecer no poder, sendo que não há evidências que houve algo ilegal que interferiuno resultado da eleição presidencial e deu a vitória para Biden", conclui Paz.