Quatro dos dez países mais perigosos do mundo estão na América Latina, segundo ranking
Especialistas alertam que a militarização das forças de segurança pode agravar a violência a longo prazo
Internacional|Mauricio Torres, da CNN Internacional
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México, Equador, Brasil e Haiti compartilham este ano uma característica que, longe de ser motivo de orgulho, é de preocupação para seus governos e sociedades.
Os quatro países estão entre os dez mais perigosos do mundo em 2025, de acordo com o índice sobre conflitos publicado nesta quinta-feira (11) pela organização não governamental ACLED (Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos).
Com base em quatro indicadores — mortalidade, perigo para os civis, difusão geográfica dos conflitos e quantidade de grupos armados —, o ranking coloca o México na posição 4, a mesma que tinha em 2024 e apenas abaixo da Palestina, Mianmar e Síria, lugares atingidos por guerras durante os anos recentes.
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O Equador está no sexto lugar do indicador da ACLED para 2025. Para o país sul-americano, isso representa uma subida de 36 posições em comparação com 2024, depois que este ano teve um importante aumento em seus níveis de violência devido aos confrontos entre grupos criminosos locais.
Brasil e Haiti, por sua vez, ocupam as posições 7 e 8 do ranking, uma situação derivada da operação de quadrilhas que disputam o controle de territórios e, no caso do Haiti, se aproveitam da constante instabilidade política na nação.
A CNN Internacional contatou os governos dos quatro países para pedir comentários sobre o índice e está à espera de resposta.
América Latina
De acordo com a ACLED, o aumento da violência é comum em toda a América Latina. Esta tendência tem variações por país e no México, Equador, Brasil e Haiti mostrou suas piores faces ao longo de 2025, acrescenta.
Para o caso do México, a organização atribui o aumento dos fatos violentos a fatores como a guerra interna que começou no Cartel de Sinaloa após a prisão de Ismael “El Mayo” Zambada, um de seus líderes históricos, em julho de 2024.
Zambada foi preso nos Estados Unidos, onde afirma que foi levado por engano por Joaquín Guzmán López, filho de Joaquín “El Chapo” Guzmán.
“Este conflito reconfigurou as dinâmicas criminais ao longo de múltiplos estados, dado o alcance nacional do grupo, e esta reorganização provavelmente continuará alimentando a violência em novas áreas durante o próximo ano”, diz a ACLED sobre o caso.
A CNN Internacional reportou em agosto que o número de homicídios em Sinaloa subiu 400% no ano que havia transcorrido desde a captura de Zambada.
Este número contrasta com as mensagens do Governo da presidente Claudia Sheinbaum, que continuamente destacam a baixa nas estatísticas de homicídio em escala nacional.
A ACLED, por outro lado, ressalta também os fatos violentos contra políticos e funcionários no México. De acordo com a organização, no último ano foram registrados 360 incidentes de violência contra este setor.
“A violência é provavelmente impulsionada tanto por grupos criminosos que buscam obter controle de instituições locais e recursos quanto pela concorrência política, particularmente em estados como Veracruz, onde houve eleições locais em 2025”, diz a ACLED, e menciona que um exemplo desta situação é o homicídio de Carlos Manzo, o prefeito de Uruapan que havia denunciado a operação de bandos criminosos neste município de Michoacán.
No Equador, a organização adverte que a violência se encaminha para níveis recorde em 2025. Diz que a taxa de homicídios poderia ser a mais alta da América Latina pelo terceiro ano consecutivo e que os fatos violentos gerados por quadrilhas causaram a morte de mais de 3.600 pessoas.
De acordo com a ACLED, isto se explica por pelo menos três fatores:
- a briga entre os grupos criminosos de Los Lobos e Los Choneros;
- a fragmentação de bandos pela prisão, morte ou exílio de seus líderes;
- a “crescente relevância” do país no tráfico de drogas regional e transnacional.
“Enquanto a produção de cocaína continua aumentando, o Equador se torna um ponto estratégico, com as quadrilhas equatorianas expandindo suas redes ao longo da região e além”, diz a organização.
“O presidente (Daniel) Noboa enfrenta uma onda de crime violento que não dá sinais de ceder, com reduzido capital político e crescentes expectativas”, acrescenta.
Uma situação semelhante ocorre no Brasil, onde as quadrilhas buscam ter controle de amplas zonas.
Em outubro, uma operação policial no Rio de Janeiro contra a organização Comando Vermelho terminou com um saldo de mais de 130 mortos.
Enquanto isso, no Haiti, estes agrupamentos se aproveitam da instabilidade política que o país enfrenta desde 2021, após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, para ganhar mais terreno e poder.
De acordo com a ACLED, a atividade das quadrilhas do Haiti se concentra em Porto Príncipe, a capital, mas tem se estendido a outras zonas.
Diante desta situação, o Conselho de Segurança da ONU aprovou este ano criar uma nova força multinacional, formada por mais de 5.000 elementos, com o objetivo de suprimir estes agrupamentos.
Por que a violência nestes países da América Latina está em alta?
Sandra Pellegrini, analista sênior da ACLED para a América Latina e o Caribe, considera que um elemento-chave reside no fato de que, sob sua perspectiva, enviar às ruas mais elementos militares ou policiais pode gerar uma diminuição dos fatos violentos no curto prazo, mas não de forma duradoura.
Pellegrini disse à CNN Internacional que isto se deve ao fato de que, a médio e longo prazo, “militarizar” as tarefas de segurança pública pode causar uma maior fragmentação entre os grupos criminosos, e, por consequência, provocar mais violência, ao mesmo tempo que aumenta o risco de que as próprias forças do Estado cometam abusos.
“É uma reflexão que se deveria levar aos tomadores de decisões que implementam este tipo de políticas que não levam aos resultados esperados em muitos casos”, expôs.
Para Pellegrini, no entanto, atualmente existe um cenário pouco favorável para que os governos da região avaliem suas ações e ajustem suas estratégias, devido, principalmente, ao fato de que a política de “mão dura” é popular entre vários setores sociais, e o governo dos Estados Unidos exerce pressão para que as nações da América Latina — aliadas suas ou não — tomem ações contra narcotraficantes e outros grupos criminosos.
“Essa tendência em direção à militarização ocorreu já antes da segunda administração de (Donald) Trump. Em El Salvador ocorreu antes, Honduras seguiu, também temos Trinidad e Tobago, que começou a declarar estado de emergência no ano passado. Então, já havia uma tendência”, disse a analista.
“Claramente, o posicionamento dos Estados Unidos contribui para que os estados da região vão em direção a essas medidas”.
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