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Rede de multimilionários da tecnologia alçou J. D. Vance ao cargo de vice-presidente

Senador teve uma passagem por fundos de investimento do Vale do Silício, onde conheceu figuras republicanas influentes

Internacional|Ryan Mac e Theodore Schleifer, do The New York Times

O senador republicano por Ohio, JD Vance, ao lado da senadora republicana pelo Alabama, Katie Britt, e David Sacks, investidor em tecnologia e apresentador de podcast Maddie McGarvey/The New York Times - 15.07.2024

No mês passado, J. D. Vance foi a San Francisco para promover um evento de arrecadação de fundos para Donald Trump e, depois, ser o anfitrião de um jantar privado com duas dúzias de executivos e investidores do setor de tecnologia e de criptomoedas, no bairro de Pacific Heights, na luxuosa mansão de David Sacks, empresário e podcaster que ele conheceu por intermédio do investidor tecnológico Peter Thiel. Vance, que atualmente tem 39 anos, trabalhou para uma das empresas de investimento deste último em San Francisco, em 2016.

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Durante o jantar daquela noite, que custou US$ 300 mil por pessoa, Trump, sentado entre Sacks e Chamath Palihapitiya, outro investidor do setor de tecnologia, fez uma pesquisa informal sobre quem deveria escolher como seu companheiro de chapa. Mesmo com outro aspirante à vice-presidência entre os presentes – o governador da Dakota do Norte, Doug Burgum –, Sacks, Palihapitiya e os demais deram a mesma resposta: disseram-lhe que escolhesse Vance, de acordo com duas pessoas a par da conversa.

Senador de Ohio que Trump escolheu há duas semanas para ser seu vice, Vance passou menos de cinco anos na indústria tecnológica do Vale do Silício, onde trabalhou como capitalista de risco júnior e executivo de biotecnologia. Mas, mesmo que sua contribuição ao setor não tenha sido significativa, foi um período formativo que impulsionou sua ascensão surpreendente no Partido Republicano – e é provável que influencie seu futuro político.

O tempo em que Vance esteve na área da tecnologia foi crucial para forjar conexões com executivos e investidores multimilionários, como Thiel, Sacks e Elon Musk, dono da plataforma social X. Repetidas vezes, esses homens financiaram suas ambições políticas e elevaram seu perfil entre outros doadores ricos e nas redes sociais, além de terem pressionado Trump para escolhê-lo como companheiro de chapa.


Antes das eleições de meio de mandato – quando são eleitos os deputados federais e, em alguns casos, os senadores e governadores estaduais dos Estados Unidos – de 2022, Thiel doou US$ 15 milhões para a campanha de Vance ao Senado e Sacks contribuiu com US$ 1 milhão para um comitê de ação política que apoiava sua candidatura. Em uma publicação na Truth Social no dia 15, Trump citou a “muito bem-sucedida carreira empresarial em tecnologia e finanças” de Vance como uma das razões para escolhê-lo como seu vice.

David Sacks discursa na primeira noite da Convenção Nacional Republicana Jamie Kelter Davis/The New York Times - 15.07.2024

“Sua experiência no setor tecnológico influenciou completamente sua forma de pensar. Ele criou boas relações com algumas pessoas influentes que agora estão com Trump”, disse Nathan Leamer, diretor executivo da Fixed Gear Strategies, empresa de consultoria de política tecnológica, a respeito de Vance.


Mas, se Trump e Vance forem eleitos para a Casa Branca em novembro, não está claro se o vice vai concordar com os interesses do Vale do Silício. Ele elogiou a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos, que abriu processos antitruste contra as maiores empresas tecnológicas, e exigiu a dissolução do Google por ser uma “empresa tecnológica explicitamente progressista”.

Os representantes de Vance, da campanha de Trump e de Sacks não responderam a solicitações de comentários.


“J. D. é uma escolha excepcional. Estaremos em uma posição melhor enquanto ele trabalhar em nosso nome”, declarou Palihapitiya em mensagem de texto.

Do direito ao Vale do Silício

O caminho de Vance para o setor de tecnologia começou quando ele era estudante da Escola de Direito da Universidade Yale. Em 2011, conheceu Thiel depois que o investidor deu um discurso nessa instituição, no qual zombou do futuro profissional dos estudantes de direito e argumentou que seu tempo podia ser mais bem empregado no Vale do Silício. “A palestra de Peter continua sendo o momento mais significativo do tempo em que estive na Escola de Direito de Yale”, escreveu Vance em um ensaio de 2020 para uma revista literária católica.

Este se formou na Escola de Direito de Yale em 2013, mudou-se para a área da baía de San Francisco e trabalhou como executivo na Circuit Therapeutics, empresa de biotecnologia. Frederic Moll, diretor executivo da empresa na época, mencionou que contratou Vance porque “ele era um cara muito inteligente e com uma experiência impressionante em direito, mas também foi um favor para Peter”, referindo-se a Thiel, cuja empresa de capital de risco tinha investido em uma das companhias de Moll.

Peter Thiel, o investidor bilionário do Vale do Silício, discursa no último dia da Convenção Nacional Republicana Doug Mills/The New York Times - 21.07.2016

Vance continuou em contato com Thiel, que escreveu uma resenha promocional para sua autobiografia, de 2016, “Era Uma Vez um Sonho”, e também promoveu sua contratação na Mithril Capital, firma de capital de risco que Thiel cofundou, de acordo com uma pessoa com conhecimento da situação.

Vance ingressou na empresa em 2016 como diretor. Seus companheiros de trabalho se lembram dele principalmente por tê-los apresentado ao refrigerante ultradoce Big Red, totalmente diferente dos refrigerantes La Croix, que definem a cultura do Vale do Silício, contou um colega investidor.

Naquela época, o perfil de Vance começou a se elevar à medida que “Era Uma Vez um Sonho” se tornava um sucesso de vendas. Por mais que Thiel tenha ganhado atenção por seu apoio a Trump, Vance tomou outro rumo, autodenominando-se “um cara que nunca o apoiaria”, em entrevista com Charlie Rose naquele outono setentrional.

Em 2017, Vance se tornou sócio da Revolution, empresa de capital de risco fundada por Steve Case, cofundador da America Online, a AOL, e começou a dividir seu tempo entre Ohio e Washington, onde ficava a sede da empresa. Trabalhou lá durante aproximadamente um ano e meio. Em entrevistas, Case mencionou que Vance “na verdade não trabalhava muito” na Revolution, e se recusou a oferecer comentários por intermédio de um porta-voz.

Capital de risco

Em 2020, Vance fundou a Narya Capital, sua empresa de capital de risco, em Cincinnati. Recorreu a seus contatos no setor tecnológico, entre eles Thiel, Eric Schmidt, ex-diretor executivo do Google, e Marc Andreessen, investidor multimilionário, para arrecadar um fundo de US$ 120 milhões. Thiel aceitou fazer parte do comitê consultivo de liderança da Narya, informou uma pessoa familiarizada com o assunto.

Durante esse período, Vance começou a ter interesse em apoiar plataformas tecnológicas favorecidas pelos conservadores, incluindo a rede social Parler. Assessorou Rebekah Mercer, acionista majoritária da Parler e importante doadora republicana, e considerou a possibilidade de investir na empresa, segundo duas pessoas com conhecimento das conversas.

Mas, no fim, a Narya não investiu na Parler, e sim no Rumble – concorrente do YouTube favorecido pelos conservadores –, com Thiel, em 2021, e também na AppHarvest, empresa especializada em agricultura em ambientes controlados, com sede no Kentucky, que abriu capital no fim de 2020 e declarou falência no ano passado.

Naquela época, Vance cofundou uma rede de grandes doadores conservadores com alguns líderes do setor tecnológico, chamada Rockbridge Network. Em julho de 2021, anunciou sua candidatura ao cargo de senador por Ohio, que em breve ficaria vago. Thiel concordou em apoiá-lo e negociou as conversas entre Trump e Vance que visaram ao endosso do ex-presidente. “Como outras pessoas, J. D. Vance talvez tenha dito algumas coisas não tão boas a meu respeito no passado, mas agora ele entende, e vi isso com clareza”, comentou Trump quando, por fim, apoiou a candidatura de Vance ao Senado.

A relação de Thiel com Trump se deteriorou desde então, enquanto os laços de Vance com o ex-presidente se fortaleceram. Em uma conferência em Aspen, no Colorado, no mês passado, Thiel disse que só votaria em Trump “se você apontar uma arma para minha cabeça”.

Thiel ligou para Trump para encorajá-lo a escolher Vance, segundo duas pessoas informadas sobre o assunto. Agora que Vance é o companheiro de chapa do ex-presidente, é muito mais provável que Thiel apoie sua candidatura, revelaram outras duas pessoas próximas ao investidor, acrescentando que, depois que Trump anunciou Vance como sua opção, no dia 15, Thiel enviou mensagens aos seus colaboradores de confiança para expressar seu entusiasmo.

Vance confiou em Sacks, a quem chamou de “um dos meus confidentes mais próximos” na política, em uma festa de gala nesta primavera setentrional. Depois desse evento, Vance o apresentou ao filho mais velho de Trump, Donald Trump Jr. Uma pessoa familiarizada com a forma de pensar de Trump afirmou que o ex-presidente ficou impressionado com a riqueza e o perfil midiático do podcaster. Sacks falou no dia 15 na Convenção Nacional Republicana.

No evento de arrecadação de fundos para Trump em San Francisco, no mês passado, o empresário retribuiu o favor a Vance. O evento de alto nível, que arrecadou US$ 12 milhões para a campanha de Trump, não teria se concretizado sem ele, declarou Sacks, de acordo com uma pessoa com conhecimento dos comentários que foram feitos lá. “Este é quem quero ao lado de Trump. Deus abençoe J. D., Trump e os Estados Unidos”, publicou Sacks no X, no dia 15.

c. 2024 The New York Times Company

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