Resgate em caverna foi lição de esperança, diz jornalista tailandesa
Nattha Komolvadhin é âncora de TV na Tailândia. Em entrevista ao R7, ela revela que o caso dos meninos na caverna foi um marco em sua carreira
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
No final do mês de junho de 2018, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia acabado de suspender a polêmica separação de famílias de imigrantes ilegais na fronteira com o México. Na Arábia Saudita, as mulheres começavam a dirigir nas ruas pela primeira vez em décadas. E o mundo acompanhava os desdobramentos da Copa na Rússia.
Nada disso, entretanto, parecia chamar tanta atenção quanto a Tailândia — onde 12 garotos de um time de futebol e seu treinador desapareceram em um complexo de cavernas na província de Chiang Rai, no norte do país.
“O caso ultrapassou todas as esferas políticas. As pessoas se uniram em torno de um objetivo comum — que era o resgate dos garotos. Foi uma lição de esperança e alegria que comoveu muita gente”, lembra a jornalista Nattha Komolvadhin, âncora do ThaiBPS, serviço tailandês de radiodifusão pública, em entrevista ao R7.
Com mais de 20 anos de profissão e experiência em reportagens nas áreas de política e economia, Nattha garante que a cobertura de um caso como o dos meninos presos na caverna não tem precedentes em sua trajetória. “Nunca havia noticiado nada parecido. As pessoas traçam muitas comparações com o episódio dos mineiros no Chile — que passaram mais de dois meses soterrados a 700 m de profundidade —, mas são histórias bem diferentes”, explica.
Projeção internacional
A jornalista apresenta um programa de notícias que vai ao ar de segunda a sexta-feira na TV tailandesa. “Ninguém esperava que a operação para encontrar os meninos e depois salvá-los fosse ganhar tamanha projeção internacional. O jornal onde trabalho foi totalmente reformulado durante as semanas em que aconteceu a missão”, diz.
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Nattha conta que jamais se esquecerá da noite do dia 2 de julho — quando o governador da província de Chiang Rai, Narongsak Osotthanakorn, anunciou que todos os 12 meninos e seu técnico de futebol foram encontrados vivos pelas equipes de buscas depois de dez dias desaparecidos.
“O grupo foi achado por volta das 22h30 aqui na Tailândia e o anúncio foi feito depois. Muitos jornalistas que cobriam o caso em frente ao complexo de cavernas já tinham voltado para suas acomodações. Houve uma mobilização para que a imprensa retornasse ao local — e parecia um milagre receber a notícia de que eles haviam sido encontrados com vida.”
Voluntariado e cooperação
A partir do momento em que o grupo foi achado, as autoridades passaram dias quebrando a cabeça para encontrar uma forma de tirar os meninos da gruta, já que eram necessárias pelo menos 11 horas para completar o trajeto de ida e volta entre a entrada da caverna e o ponto onde os adolescentes e seu técnico de futebol estavam abrigados.
A missão de resgate foi concluída em 11 de julho de 2018 e teve a cooperação de dezenas de voluntários tailandeses e equipes de várias nacionalidades.
Na opinião da âncora de jornal, a aventura revelou muito sobre o povo da Tailândia: “Essa missão provou a nossa capacidade — dos tailandeses — em termos de liderança, gestão e espíritos voluntários. E também foi um aprendizado muito bonito sobre a importância da cooperação internacional. Sem a ajuda dos demais países, não teria sido possível”.
Meio ano depois, a jornalista assegura que os tailandeses continuam interessados na vida dos garotos, mas com ressalvas.
“Temos ainda muitas notícias dos garotos como grupo — como quando eles foram convidados a jogar uma partida de futebol na Argentina —, mas a imprensa séria e a maior parte da população sabem da importância de respeitar sua privacidade como indivíduos.”
Jornalismo contra fake news
Nattha conclui que o caso dos meninos na caverna ainda evidenciou a importância do jornalismo profissional.
“No último dia de resgate, algumas fotos divulgadas nas mídias sociais não eram relacionadas ao resgate e as pessoas compartilhavam mesmo assim, propagando informações erradas sobre a caverna. E durante a missão, membros da mídia tentaram obter histórias de bastidores que se revelaram prejudiciais para o trabalho das equipes. Em tempos de fake news, o jornalismo profissional é muito importante.”