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Restrições a brasileiros refletem política do país contra covid-19

Apesar das proibições impostas a viajantes do Brasil, especialista acredita que será muito difícil surgir algum tipo de preconceito associado à pandemia

Internacional|Giovanna Orlando, do R7

Brasileiros não podem entrar em países da Europa e nos EUA
Brasileiros não podem entrar em países da Europa e nos EUA

Enquanto a pandemia do novo coronavírus segue presente em boa parte do mundo, alguns países estão retomando atividades após longos períodos de quarentena e reforçando os esforços para evitar que a doença volte aos seus territórios. Com isso, as restrições de viagens que foram impostas desde que a covid-19 se tornou problema mundial começam a ser levantadas em países da Ásia, Europa e da Oceania. Mas turistas das nações mais afetadas seguem barrados nas fronteiras. Como os brasileiros.

As restrições de viagem são uma representação de como a comunidade internacional enxerga o Brasil hoje, incapaz de controlar a pandemia. Mas a relação histórica de outros países com os brasileiros tende a amenizar qualquer tipo de reação violenta ou xenofóbica que poderia surgir, na esteira dos vários preconceitos que vêm sendo insuflados pela crise social que se tornou a covid-19.

Por hora, brasileiros não poderão visitar o Velho Continente e nem a terra de Trump, mas a decisão é temporária e vale apenas enquanto o Brasil for um dos focos da pandemia. 

A decisão de limitar a entrada de turistas em outros países para controlar o coronavírus e evitar casos importados acontece desde o começo da pandemia, quando a China deixou a cidade de Wuhan em quarentena e os primeiros casos da doença começaram a aparecer pelo mundo, forçando governos a fecharem as fronteiras e evitarem a entrada de estrangeiros.


No primeiro trimestre de 2020, diversos casos de agressão, ameaças e ataques xenofóbicos contra asiáticos e descendentes vivendo em países europeus, que associavam a covid-19 diretamente com a China, o primeiro país a notificar o mundo sobre a doença. Na Itália, refugiados e imigrantes africanos levaram a culpa, ainda que a doença tenha chegado no continente africano por último.

Para Carolina Pavese, professora de Relações Internacionais da ESPM, brasileiros têm poucas chances de se tornarem alvo de violência e ataques xenofóbicos por conta da pandemia da mesma forma que asiáticos foram.


“Nos principais países de destino de brasileiros para turismo e moradia, é improvável”, diz. “Não existe uma associação direta do vírus com os brasileiros”.

Além disso, também é difícil identificar um brasileiro com tanta facilidade, já que o país é extremamente miscigenado e tem uma enorme diversidade étnica, o que faz com que ataques com brasileiros como alvo sejam mais difíceis de acontecer (embora, em geral, os preconceitos contra latinos sejam estendidos também aos brasileiros em vários países, especialmente nos EUA).


Em países asiáticos e do continente africano, em que a população compartilha de um mesmo fenótipo, é mais fácil de identificar quem é estrangeiro, o que pode fazer com que turistas sejam mal-vistos pela população local, já que podem ser associados ao coronavírus, explica a professora.

Casos de preconceito contra estrangeiros às vezes são endossados por presidentes e governos mais alinhados à direita. Desde antes da pandemia, alguns governos na Europa já deixaram clara a posição contra imigrantes e refugiados e nos EUA, Donald Trump prometeu erguer e reforçar o muro com o México e dificultou processos de asilo e entrada de imigrantes no país.

Com a pandemia, os imigrantes se tornaram alvo dos governos, que tentam pintar os estrangeiros como os causadores da doença e os responsáveis pela chegada da covid-19 nos territórios.

“[Esses governos] buscam identificar um responsável e culpar uma figura externa”, explica a professora.

Jogando a culpa em um outro país, você “reduz a responsabilidade da sociedade e do estado em ter que lidar com esse problema”, diz Carolina, que ressalta que o problema não é exclusivo da pandemia, e que já serviu de base para argumentos de segurança pública.

Apesar de turistas e brasileiros vivendo no exterior estarem “seguros” de algum tipo violento de repressão ou terem sua imagem manchada, o mesmo não pode ser dito do país, que está cada vez mais isolado e com a reputação comprometida entre os parceiros globais.

Segundo a professora, as restrições de viagens impostas à brasileiros mostram “que a comunidade internacional identifica o Brasil como um foco desgovernado” e que ainda não sabe como controlar a pandemia.

Apesar do caráter imprevisível da covid-19, que está ressurgindo em parte dos países que criaram essas restrições, o Brasil mostra desde o começo que não estava pronto para lidar com a crise e que ainda não sabe como se proteger.

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