Rohingyas vivem apartheid em Mianmar, diz Anistia Internacional
Povo tem acesso restrito a saúde, educação e meios de transporte
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
O povo muçulmano da etnia rohingya em Mianmar está preso em um sistema de discriminação aprovada pelo Estado que configura apartheid, diz a Anistia Internacional em análise divulgada nesta terça-feira (22).
Segundo a entidade, os rohingya são segregados e alvo de abusos em “prisões a céu aberto”. Recentemente, forças de segurança birmanesas mataram rohingyas e atearam fogo a vilas inteiras onde vivia a população, forçando mais de 600 mil pessoas a fugirem para Bangladesh.
A publicação afirma que comprovou, por meio de investigações feitas ao longo de dois anos, que as autoridades da Birmânia restringem todos os aspectos da vida dos rohingya no estado de Rakhine.
— A população rohingya está confinada ao que equivale a uma existência em guetos, onde tem grandes barreiras ao acesso de cuidados de saúde, a educação e, em algumas zonas, até se veem impedidos de deixar as suas aldeias. A situação atual preenche todas as caraterísticas da definição legal de apartheid, configurado como um crime contra a humanidade.
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Para a diretora de Investigação da Anistia Internacional, Anna Neistat, "as causas da atual crise têm de ser abordadas e resolvidas para pôr fim ao ciclo de abusos e tornar possível aos refugiados rohingya regressarem a uma situação em que os seus direitos e dignidade são respeitados".
A organização explica que a repressão aos rohingya se intensificou desde 2012, quando uma onda de violência entre as comunidades budista e muçulmana tomou conta do país, mas reforça que a discriminação deste povo existe há décadas.
De acordo com a Anistia Internacional, os rohingya têm acesso restrito pelo governo a instituições de saúde, educação e sistemas de transporte — o que condena seu povo a sobreviver sob riscos permanentes. Anna Neistat endossa que “as autoridades birmanesas não podem manter argumentos sobre a necessidade de ‘segurança’ e de combate ao ‘terrorismo’ para continuarem a impor mais restrições aos rohingya”.
— Esta repressão é ilegal e desproporcional. Os crimes contra a humanidade não podem jamais ser justificados, seja como ‘medidas de segurança’ ou com qualquer outro argumento”.
A diretora de Investigação da Anistia completa que a comunidade internacional tem de enfrentar a realidade do que acontece em Mianmar. “O desenvolvimento é uma parte importante da solução, mas não pode ser feito de forma que enraíze ainda mais profundamente a discriminação. A comunidade internacional e, em especial os financiadores, têm de se assegurar de que sua contribuição não resulte na violação de direitos humanos”, diz.