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Roubos e sequestros de estrangeiros por gangues são comuns no Haiti

Favelas no entorno de Porto Príncipe têm nove grupos criminosos atuantes; pelo menos 15 missionários dos EUA foram sequestrados em um único sábado

Internacional|Por Luís Adorno, da Record TV

Estrada que liga Porto Príncipe ao sudoeste do Haiti
Estrada que liga Porto Príncipe ao sudoeste do Haiti Estrada que liga Porto Príncipe ao sudoeste do Haiti

O sequestro de pelo menos 15 missionários americanos neste sábado (16) no Haiti faz parte de um esquema já estabelecido entre as gangues da ilha caribenha. São comuns assaltos e sequestros de estrangeiros, incluindo pessoas que estão em missão humanitária, no entorno da capital Porto Príncipe.

De acordo com o Centro de Análise e Investigação em Direitos Humanos do Haiti, mais de 600 sequestros aconteceram no país nos primeiros três meses de 2021. Os principais crimes foram registrados nas proximidades da capital. Ali ficam nove grandes favelas. Em cada uma delas, há um chefe diferente. Juntas, elas formam um conglomerado de gangues denominado G-9.

Para sair de Porto Príncipe, de carro em direção ao sul, norte ou fronteira com a República Dominicana, é preciso passar obrigatoriamente por pelo menos uma dessas favelas chefiadas por gangue.

Comumente, em cada uma dessas nove favelas, criminosos montam barreiras nas estradas, e cada motorista que passa é observado. Se os membros da gangue identificam que há pelo menos um estrangeiro no carro, o assalto é certo. Se a vítima tiver sorte, consegue sair sem ser sequestrada.

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No fim de agosto deste ano, quando a região sudoeste do Haiti foi atingida por mais um terremoto, as gangues locais deram uma trégua para que a ajuda humanitária estrangeira pudesse chegar até a área afetada passando por Porto Príncipe. Esse último terremoto matou mais de 2,2 mil pessoas e destruiu mais de 100 mil casas.

Favela de Martissant ainda com escombros do terremoto que atingiu Porto Príncipe em 2010
Favela de Martissant ainda com escombros do terremoto que atingiu Porto Príncipe em 2010 Favela de Martissant ainda com escombros do terremoto que atingiu Porto Príncipe em 2010

Em 27 de agosto, a reportagem da Record TV foi de carro de Porto Príncipe até a região do epicentro do terremoto. No início do trajeto, que demorou cinco horas para ser percorrido, a equipe passou pela favela de Martissant, considerada pelos haitianos como a mais violenta entre as nove controladas por gangues. Lá, as ruas estavam muito sujas com carros queimados e casas desmoronadas ainda do terremoto de 2010, além de muitas pessoas em situação de miséria.

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Uma equipe de ajuda humanitária brasileira em Corail, uma das cidades atingidas pelo terremoto, não se movia pelo país sem a presença de ao menos dois seguranças armados. Um dos integrantes da missão brasileira, que já havia atuado no Haiti por causa do terremoto de 2010, disse que não podia abrir mão dos seguranças porque os próprios moradores das favelas cobravam assaltos das gangues. A informação foi confirmada por diversos haitianos entrevistados pela reportagem da Record TV na região.

O Haiti é um dos países mais pobres do mundo. Há séculos, não tem estabilidade política nem econômica. Sem estrutura, sem oportunidades e com fome, os moradores incentivam os saques de estrangeiros por dois motivos principais: se primeira gangue não pegar, a próxima vai, e porque é uma chance de ter o que comer nos próximos dias.

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Favela no entorno do bairro de Pétion-Ville, considerado o mais nobre de Porto Príncipe
Favela no entorno do bairro de Pétion-Ville, considerado o mais nobre de Porto Príncipe Favela no entorno do bairro de Pétion-Ville, considerado o mais nobre de Porto Príncipe

Menos de duas semanas depois da passagem da Record TV por Martissant, já não era possível voltar a Porto Príncipe em segurança por terra saindo do sudoeste do país. A trégua dada pelas gangues já havia acabado. Os haitianos que acompanhavam a reportagem avisaram que o risco de assalto e/ou sequestro era de 100% caso a equipe quisesse voltar de carro. O retorno foi de avião, com embarque em Les Cayes e desembarque em Porto Príncipe.

MISSIONÁRIOS SEQUESTRADOS

O sequestro de pelo menos 15 missionários dos Estados Unidos, incluindo crianças, foi feito por uma gangue chamada “400 Mawozo”, que atua entre a periferia de Porto Príncipe e a fronteira do Haiti com a República Dominicana. Os missionários estavam em visita a orfanatos.

A agência AFP informou na manhã de sábado (16) que a gangue desviou vários carros em uma estrada localizada em sua área controlada, separou os americanos dos haitianos e sequestrou os estrangeiros. Não foi informado se os criminosos pediram dinheiro até esta publicação.

Um porta-voz do governo americano confirmou à agência de notícias o sequestro, mas disse não ter nada a acrescentar. Ele se limitou a dizer que “o bem-estar e a segurança dos cidadãos americanos no exterior são uma das prioridades do Departamento de Estado”.

Rio em Porto Príncipe, próximo da favela de Martissant
Rio em Porto Príncipe, próximo da favela de Martissant Rio em Porto Príncipe, próximo da favela de Martissant

Os missionários pertencem a uma organização religiosa de Ohio, nos EUA. Para alguns deles, era a primeira viagem ao Haiti. Os orfanatos do país estão lotados desde 2010, quando muitas crianças ficaram órfãs após o terremoto que matou mais de 300 mil pessoas.

Em abril deste ano, na mesma região, dez religiosos franceses também foram sequestrados e libertados após 20 dias.

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