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Rússia espera que candidato 'menos ruim' vença eleição ucraniana

País espera não ter os interesses minados em novo governo. Único candidato pró-Rússia, Yuri Boiko, não tem chances de vencer eleição

Internacional|Da EFE

Sem possibilidade alguma de tirar proveito das eleições presidenciais ucranianas do próximo domingo, a Rússia só pode torcer pela vitória do candidato "menos ruim" para seus interesses, que certamente não é o atual chefe de Estado e candidato à reeleição, Petro Poroshenko.

O comediante Vladimir Zelenski lidera há meses as pesquisas, com 24,9% dos votos, seguido pela ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko (18,8%) e de Poroshenko (17,4%), porcentagens que indicam um segundo turno em abril.

O único candidato pró-Rússia com alguma força, o ex-ministro da Energia Yuri Boiko (10,2%), não parece ter chances reais de ganhar as eleições.

Há cinco anos, a Rússia tinha um aliado em Kiev, Viktor Yanukovich, até que ele foi deposto pela revolução do Maidan e abriu passagem para Petro Poroshenko.


"Agora não há candidato preferido. Porque o melhor posicionado tem a mesma política externa inaceitável para Moscou, com sua postura 100% pró-ocidental, seu desejo de que a Ucrânia entre na Otan e a promoção da ideia da Rússia como agressora", afirmou à Agência Efe Dmitri Suslov, analista do 'think thank' Clube Valdai.

"Por outro lado, a Rússia tem o candidato menos preferido, que é Poroshenko. Se ele ganhar, provavelmente teremos durante vários anos outro período perdido nas relações com a Ucrânia", acrescentou.


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Mark Galeotti, pesquisador do programa Jean Monnet do Centro para Estudos Avançados Robert Schuman do European University Institute em Florença, concorda.

"Para Moscou, qualquer candidato é melhor que Poroshenko", frisou.


Com a anexação da península da Crimeia pela Rússia e seu apoio aos separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia de pano de fundo, a relação entre o presidente russo, Vladimir Putin, e Poroshenko não poderia ser pior: ambos não se dirigem a palavra se não houver mediação de outros líderes.

O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, disse na semana passada que com o atual presidente da Ucrânia "as coisas não irão melhorar".

O presidente russo destacou que as relações com a Ucrânia não melhorarão enquanto houver "nos corredores do poder em Kiev russófobos que não compreendem os interesses de seu próprio povo".

"Para o Kremlin, seria muito melhor que (...) os ucranianos elegessem um presidente que avalie com sensatez a realidade, que tenha sabedoria política, que não seja um presidente da guerra, mas da paz e partidário de ter boas relações com os vizinhos, inclusive a Federação Russa", ressaltou Peskov.

Não se deve pensar, por isso, que a Rússia esteja apostando em melhorar as relações com a Ucrânia, segundo advertiu Galeotti.

"Não é que Putin agora realmente queira ou espere melhores relações com a Ucrânia. O que quer é algum tipo de reconhecimento internacional da Crimeia e a suspensão das sanções", destacou Galeotti.

"Independentemente do nome do próximo presidente da Ucrânia, é muito difícil esperar mudanças radicais nas relações entre Kiev e Moscou, embora possam acontecer algumas correções", declarou à Efe Sergei Zhiltsov, professor de Ciência Política e Filosofia Política da Academia Diplomática da Rússia.

O Kremlin então enxerga Tymoshenko e Zelenski com melhores olhos?

Moscou acredita que pode haver algum tipo de progresso com a líder do partido Batkivschina (Pátria), que concorre pela terceira vez pela presidência, após 2010 e 2014, segundo opinam tanto Suslov como Galeotti.

Zelenski também pode oferecer "alguma janela" de oportunidade, mas é um "fator desconhecido" para a Rússia, de acordo com o analista europeu.

No entanto, nenhum dos analistas vê possibilidades de que o comediante ganhe os pleitos apesar de sua vantagem nas pesquisas.

Tymoshenko é vista pelo Kremlin como "mais pragmática" que Poroshenko e, além disso, tem experiência em negociar com ela.

"Alguma forma de gestão mais eficaz das relações poderia acontecer se ela for eleita", sustentou Suslov, que considera Tymoshenko menos radical na sua postura com a Otan e na sua rejeição à Rússia.

No entanto, Tymoshenko é uma mulher "dura", lembrou Galeotti, que durante a campanha exigiu, da mesma forma que Poroshenko e Zelenski, a devolução da Crimeia e defendeu - também como os outros dois - a entrada do país na União Europeia (UE) e na Otan.

Zhiltsov ressaltou também que para a Ucrânia "o fator da guerra no leste seguirá exercendo uma forte influência em como desenvolverá suas relações com a Rússia".

Este elemento será determinante em relação às eleições parlamentares no outono, porque "nenhum presidente ucraniano quererá ser visto como alguém que sequer pense em algum tipo de acordo" com a Rússia, frisou Galeotti.

"O próximo parlamento, pelo visto, manterá uma postura dura (frente ao conflito no leste) e o presidente verá restrita sua capacidade de manobra", concordou Zhiltsov.

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