Rússia promete abrir corredores humanitários, mas ucranianos têm medo de ataques à população
O governo do país invadido acusa russos de atrapalhar tentativas anteriores de evacuação, atirando em estradas e destruindo ônibus que deveriam levar civis para áreas seguras
Internacional|Do R7, com AFP e Reuters
A Rússia anunciou a abertura de corredores humanitários nesta terça-feira (8) para evacuar civis de algumas cidades sitiadas na Ucrânia, mas a oferta foi considerada enganosa pelos ucranianos, que acusam Moscou de impossibilitar a saída da população.
O Ministério da Defesa russo disse que, se a Ucrânia aprovar, abrirá "corredores humanitários" na manhã desta terça para evacuar civis da capital Kiev e outras cidades como Mariupol, Kharkiv e Sumy, que estão sob fogo pesado.
Primeiro corredor, em Sumy
Sumy é, até o momento, a única região onde os civis estão conseguindo sair.
O governador de Sumy, Dmitro Zhivitskiy, disse em uma declaração por vídeo que os primeiros ônibus já tinham partido da região até a cidade de Poltava, mais a oeste do país.
A prioridade nos veículos é para pessoas com problemas físicos, mulheres grávidas e crianças dos orfanatos da cidade.
Desconfiança de Zelenski
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, havia acusado as tropas de Moscou de atrapalhar tentativas anteriores de evacuação, por corredores indo para território russo ou de Belarus, atirando em estradas e destruindo ônibus que deveriam transportar a população para áreas seguras.
"Houve um acordo sobre corredores humanitários. Funcionou? Em seu lugar estavam tanques russos, Grads [lançadores de foguetes], minas russas", afirmou Zelenski em um vídeo postado na rede social Telegram.
A delegação ucraniana destacou "resultados positivos" na terceira rodada de negociações, nesta segunda-feira (7), mas Moscou disse que as "expectativas" não foram atendidas e que Kiev rejeitou um plano anterior de enviar civis para a Rússia ou Belarus.
O presidente francês Emmanuel Macron, que mantém algum diálogo com seu colega russo Vladimir Putin, condenou a oferta de evacuação. "Tudo isso não é sério. É de um cinismo moral e político que me parece insuportável", assegurou à rede francesa LCI.
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, disse ao Conselho de Segurança que os civis devem poder fugir em qualquer direção que desejarem e que o acesso seguro a suprimentos médicos e humanitários deve ser garantido.
Centenas de vítimas
No território ucraniano, a situação continua a piorar após 12 dias de guerra, com centenas de vítimas e o êxodo mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, além de uma série de duras sanções contra a Rússia por parte dos países ocidentais.
Depois de meses acumulando tropas ao redor da ex-República soviética, Putin ordenou a invasão, dizendo que queria proteger a população de língua russa dos territórios rebeldes no leste da Ucrânia, que lutam contra Kiev desde 2014.
O líder do Kremlin pede a desmilitarização da Ucrânia, um status neutro para o país agora inclinado para o Ocidente e garantia de que nunca se juntará à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
O último balanço das Nações Unidas registra o número de 406 civis mortos pela invasão, embora destaque que o número real de vítimas é "consideravelmente maior".
Pelo menos 13 pessoas morreram em um bombardeio em uma padaria industrial em Makariv, a cerca de 50 km a oeste de Kiev, nesta segunda-feira.
Os militares ucranianos afirmaram nesta terça-feira que a Rússia está aumentando o envio de tropas em torno das principais zonas de conflito, incluindo Kiev, Mariupol e Kharkiv.
Forças ucranianas repeliram um ataque russo à cidade de Izium, na região de Kharkov. Além disso, apesar de inferiores, as tropas tentaram impedir o avanço russo para leste e sul para cercar Kiev.
Sem eletricidade nem água
Jornalistas da AFP viram milhares de civis fugindo dos combates por uma rota não oficial de evacuação de Irpin, um subúrbio a oeste de Kiev, em direção à capital.
Crianças e idosos foram carregados, em tapetes usados como macas, por uma estrada guardada por soldados e voluntários. Desesperados, abandonaram carrinhos e malas para entrar em ônibus lotados.
"Não tínhamos luz em casa, nem água, estávamos sentados no porão", disse Inna Scherbanyova, uma economista de 54 anos. "As explosões aconteciam constantemente (...) Perto da nossa casa havia carros, com mortos em um deles, era muito assustador", acrescentou.
Civis que tentaram deixar a cidade por rotas acordadas foram bloqueados porque a estrada estava minada, disse o Comitê Internacional da Cruz Vermelha nesta segunda-feira.
Um paraquedista ucraniano afirmou que houve combates corpo a corpo em Irpin. "Estamos tentando contê-los, mas não sei se conseguiremos."
Enquanto uma legião de voluntários internacionais acorre para o apoio da Ucrânia, o Pentágono declarou nesta segunda-feira que Moscou está recrutando ombatentes estrangeiros entre aqueles que lutaram pelo regime sírio de Bashar al-Assad.
Vladimir Putin garantiu que não enviará recrutas nem reservistas para lutar na Ucrânia e que a guerra está sendo travada por "profissionais" que cumprem "objetivos estabelecidos".
De sua parte, Zelenski convocou todos os ucranianos no exterior a se juntarem à luta e insistiu que não fugiria. "Fico aqui, fico em Kiev... não tenho medo", disse ele na noite desta segunda-feira.