Saiba como Hollywood combateu o nazismo antes mesmo dos EUA
O cinema funcionou como a alma americana, revelando sonhos, realidades, virtudes, defeitos e desejos inconscientes da sociedade local
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
Desde o início da Segunda Guerra Mundial (1º de setembro de 1939), o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill (que assumiu o cargo em maio de 1940), passava noites em claro para descobrir como fazer os Estados Unidos entrarem no combate contra os nazistas.
Leia mais - Los Angeles: a cidade muito além de Hollywood
Do lado americano, o presidente Franklin Delano Roosevelt, no poder desde 1933, via-se acuado entre os que queriam entrar na guerra e a grande parcela da população que se mantinha alheia, dando força ao isolacionismo defendido por correntes conservadoras, muito representadas no aviador Charles Lindberg.
O Congresso representava esse dilema. O governo americano, porém, mesmo levando Churchill à beira do desespero, dava apoio aos britânicos, com empréstimos operacionais e envio de armamentos, até 1941.
Naquele ano, em março, foi implementado oficialmente o Lend-Lease (Lei de Eempréstimo e Arrendamento), composto por programas de ajuda que totalizaram US$ 50,1 bilhões em suprimentos à Grã-Bretanha (US$ 31,4 bilhões), União Soviética (US$ 11,3 bilhões), França (US$ 3,2 bilhões) e China (US$ 1,6 bilhão).
Mas somente em dezembro o país entrou oficialmente na guerra, combatendo inicialmente no Pacífico, após ataque japonês (que fazia parte do eixo Roberto - Roma, Berlim e Tóquio) às instalações na ilha de Pearl Harbour.
O alerta sobre os perigos da disseminação do nazismo para o mundo, porém, já estava sendo dado há muito tempo. E dentro dos Estados Unidos.
O cinema, cujo núcleo se estabelecera em Hollywood (por causa do amplo espaço geográfico e da luminosidade local), se tornou uma espécie de alma americana, que revelava sonhos, realidades, virtudes, defeitos e desejos inconscientes da sociedade local e, de uma maneira geral, da humanidade.
Fonte de denúncias
Antes mesmo do governo americano assumir uma postura concreta contra o regime de Adolf Hitler, os grandes estúdios, fundados por imigrantes judeus que fugiram da intolerância na Europa, denunciavam as atrocidades nazistas e a necessidade de combatê-las, conforme afirma o professor Thomas Doherty, de Estudos Americanos na Brandeis University, em artigo publicado na Tablet.
"Mesmo antes de os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, os principais estúdios adotaram a posição antinazista como política oficial."
Cada exibição, em salas espalhadas por todo o país, era como uma substância que tinha o poder de revelar quem era isolacionista e quem era intervencionista, com muitas sessões sendo interrompidas por discussões entre ambos os lados. Foi criado até um subcomitê no Senado, formado por isolacionistas, para tratar do que eles consideravam uma propaganda por meio do cinema.
A primeira obra neste sentido foi "Confissões de um espião nazista", da Warner Bros, de 1939. No filme, dirigido pelo ucraniano Anatole Litvak, um grupo de espiões nazistas busca informações militares sobre os EUA, por meio de simpatizantes do regime hitlerista em território americano. Investigação do FBI, liderada pelo personagem Edward Renard, interpretado pelo romeno naturalizado americano, Edward G. Robinson, acaba desmantelando o sinistro grupo.
Leia também
Pedidos semanais de auxílio-desemprego nos EUA caem para mínima de 3 meses
Seul confirma que Pyongyang lançou dois mísseis de curto alcance
Imigrantes multados pelo governo Trump pedem apoio a legisladores
Livro explora a trajetória de fuga e morte de Josef Mengele
Foto mostra um soldado alemão da Segunda Guerra Mundial segurando um celular?
Outra produção de impacto foi realizada em 1941 pela MGM, estúdio cuja maior influência era de Samuel Goldwin. Em "Tempestades d'Alma", que apresenta, até de forma cronológica, toda a ascensão do nazismo e as aberrações que o regime trouxe.
Na introdução, uma voz solene e grave já avisa: "A história que vamos contar é a de uma terrível tempestade em que o homem se encontra hoje." E completa, com um grito abominável. "Devo matar meu semelhante!"
O filme, dirigido pelo americano Frank Borzage, é sobre a família Roth, que leva uma vida tranquila num pequeno vilarejo nos Alpes da Alemanha no começo dos anos 30. Com a chegada dos nazistas ao poder, começam as perseguições. Os protagonistas Freya Roth (Margaret Sullavan) e Martin Breitner (James Stewart) se refugiam nas montanhas.
Nacionalismo em alta
No épico "O grande ditador", de 1941, Charles Chaplin também aponta o dedo, ou melhor, a singela bengala de Carlitos, para a intolerância que ameaçava tomar conta da humanidade.
Mas, apesar de todo o papel importante do ponto de vista de conscientização, as obras não alcançavam facilmente o grande público naquele momento. O tema guerra, em geral, não atrai bilheteria e isso também ilustrava o porquê de o governo estar tão reticente em ingressar nos combates.
Doherti conta que, para atrair espectadores resistentes ao momento sombrio, os cartazes e os anúncios de jornais de filmes antinazistas indicavam que se tratava de película de suspense ou romances.
A partir do momento em que os Estados Unidos entraram na guerra, porém, o nacionalismo se tornou preponderante e ajudou a dar um impulso a várias obras. Hollywood, afinal, era uma criação americana e, nesta sede de patriotismo, se tornou efetivamente um símbolo.
Casablanca, sucesso de 1942, dirigido por Michael Curtiz e estrelado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, foi uma delas, iluminando o lado romântico da guerra. Passou, de forma marcante, a mensagem de que o amor é o mais importante, assim como a liberdade individual.
E ajudou a consolidar Hollywood como um braço influente e independente no país. Algo que se fortaleceu com o passar do tempo. Em inglês, as time goes by.
Rússia: veterano mantém memória da Segunda Guerra Mundial viva