Saiba por que os Estados Unidos se envolvem em tantas guerras
Foi por meio da guerra que os Estados Unidos se tornaram a maior potência do planeta buscando, de forma contraditória, implantar a paz
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
Muito se fala em polarização hoje em dia. Mas ela sempre acompanhou os Estados Unidos da América, desde sua formação.
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A questão é que o país obteve um crescimento raro para uma ex-colônia, por definir um foco de desenvolvimento permanente: baseado na guerra para obter a paz.
A cada passo a frente, a ameaça do retrocesso. A violência a ser superada. John Wilkes Booth assassinou a tiros o presidente Abraham Lincoln em 1865. Nova York e Washington foram atacadas de forma brutal por terroristas em 2001.
"Guerra e Paz" é o título da obra-prima do escritor Leon Tolstói (1828-1910), sobre o Império Russo, mas bem poderia se encaixar na trajétória republicana dos Estados Unidos.
Houve época em que os próprios americanos procuraram a guerra. Com suas 13 colônias originais no leste, obtiveram a independência por meio do conflito armado, contra as taxas cobradas pelo Reino Unido (1776).
Foi o primeiro encontro entre guerra e paz em território americano. A luta, afinal, gerou a primeira Constituição (1787), criada, entre outros, por Thomas Jefferson e baseada, vejam só, na liberdade.
A partir daí, não foi mais novidade para um americano comum acordar com a notícia de que o país estava em um conflito.
Ela vinha desde os gritos esbaforidos de um filho de escravo correndo no jardim da fazenda para informar sobre a Guerra da Secessão (1861-1865), até um post instantâneo do presidente Donald Trump, em 2020, no Twitter, comentando o assassinato do general Soleimani, considerado uma ameaça para os americanos.
Foi por meio da guerra que os Estados Unidos se tornaram a maior potência do planeta. A nação guerreou para conquistar a Flórida, guerreou para conquistar o Oeste.
Tudo para ampliar seu território, sua produção, seu poder, entre dois oceanos brancos com ondas de espuma. Tudo para conquistar sua liberdade. E sua paz.
Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o país se manteve neutro até 1917, quando se sentiu provocado por um telegrama do governo alemão, instando o México a entrar no conflito contra os americanos, prometendo até trabalhar para a devolução de territórios como o Texas.
E entrou já no status de potência, após ter fornecido empréstimos, armamentos e produtos aos países da Tríplice Entente (Reino Unido, a França e Rússia, depois Itália).
O mesmo ocorreu na Segunda Guerra (1939-1945), quando entrou tarde, após ter estruturado uma máquina que produziu a guerra mas ao mesmo tempo desenvolveu o parque industrial nos governos de Franklin D. Roosevelt (1933-1945). Nestes dois embates mundiais, foi a guerra que procurou os Estados Unidos.
Como potência, a América passou a atrair holofotes. E se embrenhou, além das florestas vietnamitas, em seguidas políticas para proteger sua ideologia e seus interesses econômicos.
Proteger-se da inveja por suas conquistas democráticas, seu poder e suas riquezas que vão de Irving Berlin, dos pioneiros de Hollywood, à vibração de um show de Bruce Springsteen.
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Proteger-se da loucura. Do vazio daqueles que só encontraram sentido em destruir. Da sanha nefasta do terrorismo.
De algumas reivindicações justas, por sua política opressora em outras nações mais frágeis. Por sua ânsia em produzir armamentos letais, como as bombas que destruíram Hiroshima e Nagasaki.
O farol dos Estados Unidos passou a alcançar o mundo. E ser alvo dele. Sem o mesmo imperialismo das potências europeias, forjou um imperialismo à sua maneira.
Com intervenções em países como o Vietnã, Panamá, Síria e Iraque, ao longo dos séculos 20 e 21. Influenciando ditaduras na América do Sul, contrárias à própria democracia que ele prega. Caçando terroristas, em busca da segurança da população que só quer tocar sua vida.
Os Estados Unidos sempre foram assim. Carregam as próprias contradições humanas, no mais alto grau.
Até que um dia, enfim, a paz vença a guerra, no próprio interior de cada ser humano. De qualquer nacionalidade.
Será quando o poder dos Estados Unidos não terá mais tanta influência. Para o bem ou para o mal. Cássia Eller, afinal, não canta "Quando o segundo sol chegar...para realinhar as órbitas dos planetas?"
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