Saiba quais são os possíveis desdobramentos da visita de Nancy Pelosi a Taiwan
Presidente da Câmara dos Estados Unidos aumentou a tensão entre EUA e China ao desembarcar na ilha
Internacional|Maria Cunha*, do R7
A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, desembarcou em Taiwan na terça-feira (2), apesar das ameaças da China, que considera a ilha como parte de seu território e que condenou a visita da autoridade.
A situação ganhou desdobramentos com a publicação de uma declaração de Nancy em que ela diz que "a visita honra o compromisso inabalável dos Estados Unidos de apoiar a vibrante democracia de Taiwan".
Para o economista Igor Lucena, doutor em relações internacionais pela Universidade de Lisboa, é importante analisar a visita sob dois pontos: o posicionamento crítico de Nancy sobre a China e o fato de a autoridade sempre ter defendido a ilha.
"Ela sempre foi uma crítica dos massacres, das medidas autoritárias e principalmente dos ataques chineses contra minorias no oeste da China", conta.
Em relação a Taiwan, o economista relata que Nancy foi uma defensora do território e dos direitos individuais de 24 milhões de taiwaneses que vivem na ilha. Lucena explica que a visita também tem esse lado de defesa dos sentimentos democráticos no Sudeste Asiático.
"Por outro lado, também há uma visão dos democratas de afirmar que eles podem ser duros com a China e ser duros, inclusive, onde mais os chineses sentem, o governo de Pequim sente", diz o especialista.
Outra questão abordada por Lucena é o fato de os Estados Unidos estarem vivendo também as eleições de mid term, ou seja, de meio de mandato, nas quais a racionalidade e a maneira como o partido Democrata se relaciona com a China também serão postas em questionamento.
Os riscos da visita a Taiwan
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O doutor em relações internacionais explica que são diversos os riscos da presença de Nancy Pelosi em Taiwan. Do ponto de vista diplomático, por exemplo, um encontro do presidente Xi Jinping com Joe Biden que estava sendo acertado entre Pequim e a Casa Branca poderá ser, no mínimo, adiado.
"Não há uma visão clara sobre se deve ocorrer esse encontro, pode ser de fato cancelado. Então, isso já seria uma medida negativa, a China pode retaliar os Estados Unidos economicamente, podem existir embargos, pode existir até mesmo uma criação de listas negras de personagens."
Lucena afirma que também é possível a ocorrência de ataques cibernéticos e de hackers, que vêm sendo utilizados como uma maneira de retaliação militar.
Japão e os Estados Unidos já se comprometeram a defender militarmente Taiwan. A Coreia do Sul é outro país que entraria no conflito, segundo o especialista. Taiwan não é uma ilha desprotegida e tem uma capacidade de defesa muito grande.
Assim, é possível que todas as grandes e principais economias asiáticas estejam envolvidas no conflito, uma situação apontada como bastante controversa por Lucena.
"Não podemos excluir, apesar de bastante improvável, a possibilidade de a gente assistir a um ataque militar na ilha de Taiwan", diz. "Nas próximas horas e dias, teremos algum tipo de resposta chinesa, não acredito que os chineses ficarão apenas na retórica de palavras de blefe. Isso seria, para eles, muito negativo".
A política de "Uma só China"
A política de "Uma só China" é liderada por Pequim e tem governado as relações entre os Estados Unidos e Taiwan pelos últimos 40 anos. Nesse posicionamento diplomático, o país norte-americano reconhece a China e a postura de Pequim de que a ilha é parte do país asiático.
Com isso, Lucena explica que a visita de Nancy é, de fato, ambígua, porque a partir do momento que uma chefe de poder realiza uma visita a um local que não é a capital do país e se reúne com os líderes políticos de Taiwan, acaba passando para a comunidade internacional que existe uma independência política.
A autoridade americana ainda demonstra que os Estados Unidos aceitam e referendam essa independência política, mesmo que não formalmente, que não tenham embaixadas e que o governo americano diga que admite e entende a política de "Uma só China".
"Essa política da presidente [da Câmara dos Estados Unidos] Nancy Pelosi traz um outro significado e aumenta a capacidade política e de diplomacia de Taiwan não só perante os Estados Unidos, mas perante os outros países. Então os chineses têm razão de ficarem contrariados, porque, de fato, isso vai totalmente contra a política de 'Uma só China'."
O especialista conclui ao lembrar que a política liderada por Beijing sempre vai ser desafiada enquanto a China for contra princípios de democracia, ameaçar Taiwan com invasões militares e tentar subjugar a minorias dentro do seu país.
"A China quer que a comunidade internacional respeite [a política de "Uma só China"], mas ela não aceita as críticas e também não respeita os princípios democráticos da grande maioria dos membros da comunidade internacional; então de fato é uma situação complexa, uma situação que já se estende durante décadas."
*Estagiária do R7, sob supervisão de Pablo Marques