Segundo EUA, talibãs devem conquistar sua legitimidade
O secretário de Estado Antony Blinken visitou refugiados afegãos na Alemanha e falou sobre o futuro do grupo extremista
Internacional|Do R7
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, alertou o novo governo do Talibã que precisa "conquistar" sua legitimidade com a comunidade internacional, mobilizada pelos Estados Unidos nesta quarta-feira (8) para oferecer uma resposta coordenada à crise afegã.
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O chefe da diplomacia dos Estados Unidos passou uma parte do dia na base aérea de seu país em Ramstein, no sudeste da Alemanha, por onde passam milhares de pessoas retiradas do Afeganistão.
Ele chegou lá a partir do Catar, onde também visitou o principal centro de trânsito de refugiados afegãos.
No final de uma reunião virtual em nível ministerial entre 20 países sobre a crise afegã, Blinken alertou que a comunidade internacional julgará o governo interino afegão "pelas suas ações".
"Os talibãs buscam uma legitimidade internacional. Toda legitimidade, todo apoio, deverá ser conquistado", disse em coletiva de imprensa, junto ao seu homólogo alemão Heiko Maas.
Com seus sócios, Blinken explicou que discutiu "como faremos com que os talibãs cumpram seus compromissos e obrigações: permitir que as pessoas viajem livremente para respeitar seus direitos fundamentais, incluindo as mulheres e as minorias; garantir que o Afeganistão não seja usado como base para ataques terroristas; não exercer represálias contra aqueles que escolhem ficar no Afeganistão".
"Paquistão esteve presente"
Um alto funcionário do Departamento de Estado argumentou que todos os países compartilhavam amplamente a posição a ser tomada em relação ao novo governo do Talibã, incluindo o Paquistão, que é acusado de ter apoiado os insurgentes.
"O Paquistão esteve presente" na reunião, declarou o alto funcionário à imprensa no avião de Blinken. "Eles falaram sobre seu papel único, seu ponto de vista e a ideia de que estão em uma posição em que precisam se comprometer até certo ponto", continuou.
"Um Afeganistão estável e pacífico não pode ser alcançado sem um compromisso regional e internacional mais importante, e não menos importante. O Paquistão, como vizinho imediato, não pode se dar ao luxo de ignorar a situação", explicou o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Shah Mahmood Qureshi no Twitter.
À tarde, Blinken visitou a base militar, transformada desde o final de agosto em um gigantesco acampamento de refugiados que foram retirados do Afeganistão pelas forças aéreas dos Estados Unidos.
No galpão, onde parte dos 11.000 afegãos refugiados em Ramstein aguardam seus voos para os Estados Unidos, Blinken se agachou e mostrou fotos de seus próprios filhos para outras crianças, algumas delas filhos de afegãos que trabalharam para os EUA.
"Ansioso para receber vocês"
Blinken também visitou o lugar onde estão os menores afegãos que perderam seus pais.
"Me chamo Tony", se apresentou. "Muitos, muitos, muitos americanos estão ansiosos para receber vocês nos Estados Unidos", disse Blinken a esses jovens.
Os Estados Unidos retiraram 123.000 pessoas do Afeganistão, principalmente afegãos que temiam represálias dos talibãs.
No entanto, as autoridades americanas reconhecem que restam muitas outras que não conseguiram sair do país e afirmam que os talibãs garantiram que elas podem ir embora.
Em sua passagem pelo Catar na terça-feira, o chefe da diplomacia americana obteve dos talibãs um novo compromisso firme de que os afegãos que queiram abandonar o país poderão sair sem dificuldades.
Em Ramstein, Blinken afirmou que os Estados Unidos fazem atualmente "tudo o que está em suas mãos" para retomar os voos de retirada do Afeganistão e acusou os talibãs de impedi-los sob o pretexto de que alguns passageiros não tinham os documentos em ordem.
Insistindo na necessidade de fornecer "ajuda humanitária" rápida à população, Heiko Maas pediu aos talibãs para permitirem o acesso da ONU ao país.
Os Estados Unidos e seus sócios buscam oferecer uma frente unida. Na terça-feira, os talibãs apresentaram um governo interino que não possui nenhuma mulher ou algum ministro que não seja do Talibã, e vários de seus membros estão na lista de sanções da ONU.
O medo dos afegãos é ver novamente um governo semelhante ao que os talibãs impuseram entre 1996 e 2001, quando vários direitos - principalmente os das mulheres e minorias - foram destruídos.