Síria: EUA abandonaram Raqqa após vitória na cidade, dizem moradores
Cidade era tida como capital do Daesh e após ataques que expulsaram o grupo , prevalece a destruição
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7
Após a expulsão do Daesh, de Raqqa, na Síria, a destruição na cidade permanece. Os ataques aéreos comandados pelas forças de coalizção lideradas pelos Estados Unidos destruíram 80% das instalações locais. E a região que o Daesh escolheu para ser o centro de seu califado é basicamente poeira e ruína.
Há até cadáveres que não foram retirados e que, pelo tempo de abandono, são potenciais focos de doenças. As informações são da Publica, site de jornalismo investigativo, em texto de YB Rocha.
No artigo, moradores, representados por Marwan Isa, afirmam que os Estados Unidos abandonaram a região após a vitória sobre o Daesh.
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É a própria população a responsável por retirar os destroços, com pás, picaretas e até com as mãos. Estima-se que cerca de 2 mil corpos estejam sob escombros de prédios e casas.
O cenário é apocalíptico, com falta de água, luz e qualquer tipo de comunicação. Os carros-pipa, na verdade, são tratores adaptados, que oferecem água aos sedentos moradores, vinda diretamente do rio Eufrates. Esta serve para beber, cozinhar e tomar banho.
O comércio de objetos que restaram sob as ruínas também mostra a precariedade da situação, com crianças que, em vez de estarem nas escolas (destruídas) passam o tempo atrás de peças de metal das casas desabadas, tentando vendê-las por US$ 0,50 o quilo.
Fazem isso mesmo correndo o risco de pisarem em alguma bomba ainda não desativada. Há um descontrole total em relação aos riscos de morte.
Durante o período de domínio de Daesh, estima-se que a população era de entre 300 mil e 400 mil habitantes. Mais de 100 mil deles já retornaram, segundo o Conselho Civil de Raqqa, e só encontraram ruínas. É o caso de Isa, um homem de 60 anos.
A Publica conta que ele chega gritando, em inglês.
— Por quê? Me responda. Por quê?
Ele aponta para um edifício sem paredes externas, como se toda a fachada tivesse sido arrancada de forma cuidadosa, e prossegue, exaltado.
— Por que vocês fizeram isso com a gente? Onde estão os que destruíram tudo, onde está a ONU, os Estados Unidos?
Isa conta que sua mulher morreu no segundo andar daquele prédio, em um ataque aéreo incendiário, durante avanço final das trpoas curdas e árabes apoiadas pelos Estados Unidos. Isa fugiu há cinco meses, com outros civis, e retornou há dois.
Segundo ele, falta apoio daqueles que ajudaram a destuir a cidade.
— Estamos abandonados, ninguém vem a Raqqa nos ajudar.
Apenas os que têm algum dinheiro conseguem fazer reparos nas casas. A grande maioria, como Isa, acaba se alojando nos locais do jeito que eles se encontram: destruídos.
Para Halean Ahmed, de 22 anos, no entanto, não há motivo para desespero. Ela é uma espécie de subsecretária do Conselho Civil de Raqqa, e vê com mais otimismo o futuro, levando em conta que a expulsão do Daesh foi positiva. Halean enaltece o que considera feitos das Forças Democráticas Sírias, as milícias árabes e curdas que os Estados Unidos aglutinaram.
— As coisas estão melhorando dia a dia. As pessoas reclamam porque não entendem que não se faz tudo da noite para o dia. As pessoas precisam aceitar que esse é o ano zero de Raqqa. Estamos começando de novo, uma vida nova.