Tailândia: brasileiro voluntário ajudou a tirar água de caverna
Gui Brotto, de 31 anos, participou de plano para diminuir nível de inundação em Tham Luang, onde 12 meninos e técnico de futebol estavam presos
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
O brasileiro Gui Brotto, de 31 anos, estava com a voz rouca enquanto falava ao telefone com o R7 nesta quarta-feira (11). Pudera: ele passou as noites de segunda (9) e terça (10) em uma caverna inundada em Chiang Rai, na Tailândia, trabalhando como voluntário na operação que resgatou os 13 jovens que se encontravam presos no local.
"Fui convidado pelos militares para me juntar à missão e ajudar a tirar parte da água que estava dificultando o salvamento. Eu trabalho com permacultura [tipo de sistema agrícola que cria padrões semelhantes aos dos ecossistemas naturais] e regeneração ambiental", conta.
"O que aconteceu em Tham Luang é que a montanha nas proximidades da caverna estava captando o excesso das chuvas e existia uma preocupação de que o nível da água subisse muito rápido. Eu ajudei em um plano de contenção para que o nível da água diminuísse”, relata Brotto, que mora na Tailândia há um ano e meio.
União internacional
O brasileiro viajou cerca de 7h desde sua casa, na província vizinha de Chiang Mai, para chegar ao complexo de cavernas onde estavam os meninos com idades entre 11 e 16 anos e seu técnico de futebol, de 25. Na opinião de Brotto, o mais emocionante de fazer parte da operação foi testemunhar a união da comunidade internacional.
"Estavam todos os militares, socorristas, mergulhadores e voluntários discutindo pontos de vistas diferentes e trabalhando junto. O objetivo era identificar a capacidade e habilidade de cada um para montar um time onde todos pudessem jogar e ganhar", relata.
Milagre ou ciência
O resgate terminou por volta das 18h50 no horário local (8h50 no horário de Brasília) de terça-feira, depois que as duas últimas vítimas foram retiradas da gruta com segurança.
No Facebook, a Marinha Tailandesa comunicou o fim da operação: "Não temos certeza se isso é milagre, ciência ou o quê, mas todos os Javalis Selvagens [nome do time de futebol a que pertencem os jovens] estão agora fora da caverna."
Na opinião de Brotto, o sucesso da missão teve, de fato, um quê de milagroso.
"As pessoas comentaram muito sobre os chilenos, que passaram mais de dois meses presos embaixo da terra após o desmoronamento de uma mina em 2010, mas eu acho que a situação na Tailândia era mais desafiadora. No Chile, o bloqueio era vertical, enquanto aqui os meninos estavam a 4 km de profundidade em um caminho cheio de desníveis, já sofrendo com a falta de oxigênio. Era tudo muito complexo."
O brasileiro natural de Curitiba ainda se impressionou com o respeito das equipes de resgate pelas crenças locais.
"Os tailandeses são muito ligados à espiritualidade e esse sentimento do dia a dia se intensificou durante as operações. Existe, por exemplo, uma relação forte com a caverna — eles encaram a abertura de Tham Luang como o ventre de uma mulher e pensavam nos adolescentes como se estivessem dentro da barriga da mãe. Todos foram muito respeitosos com isso", relata.
Repercussão na mídia
Na cidade onde mora em Chiang Mai, Gui Brotto acredita que a comoção pelo resgate dos adolescentes foi menor.
"Eu não vi nenhuma reação gigante, acho que a repercussão foi maior na mídia do que no cotidiano. O caso virou uma conversa do dia a dia, as pessoas estavam se encontrando e perguntando ‘e os meninos da caverna?’. No complexo de cavernas propriamente dito, o exército bloqueou o acesso, embora houvesse muita gente querendo olhar e chegar perto. O alvoroço maior estava na cidade dos garotos."