Talibã conquista sexta capital provincial no Afeganistão
Grupo fundamentalista assumiu o controle de Aibak, na região norte do país, e segue avançado sem a resistência do exército
Internacional|Do R7
Os talibãs assumiram nesta segunda-feira (9) o controle de Aibak, na região norte do Afeganistão, a sexta capital provincial a cair em suas mãos em meio a uma ampla ofensiva que levou ao domínio da estratégica Kunduz e que o Exército parece incapaz de contra-atacar.
"Os talibãs capturaram a cidade de Aibak e a controlam por completo", declarou à AFP Sefatullah Samangani, vice-governador da província de Samangan, da qual Aibak é a capital.
"Durante a noite passada, um antigo senador se rendeu aos talibãs e, nesta segunda-feira, pessoas notáveis pediram ao governador que retirasse suas forças da cidade para que não fosse impactada pelos combates, o que ele aceitou", afirmou Samangani.
Um porta-voz talibã confirmou a tomada da cidade.
Os insurgentes já dominam outras cinco capitais de província no norte do Afeganistão. Entre elas, está Kunduz, um ponto estratégico entre Cabul e o Tadjiquistão, tomada no domingo após semanas de cerco. Eles também assumiram o controle de Zaranj, capital da província de Nimroz, no sudoeste.
Segunda maior cidade da região norte, com 300 mil habitantes, Kunduz já havia sido conquistada em 2015 e 2016 pelos rebeldes.
Horas depois de sua tomada no domingo, as forças do governo perderam Sar-e-Pul e Taloqan, capitais de província perto de Kunduz.
Os talibãs controlam todos os edifícios-chave da cidade, constatou um correspondente da AFP em Kunduz.
"A situação não é boa, e fugimos para salvar nossas vidas", disse à AFP Rahmatullah, de 28 anos.
A tomada de Kunduz constitui o principal sucesso militar dos talibãs desde o início, em maio passado, da ofensiva lançada após a retirada das tropas internacionais. Esta saída deve ser concluída até 31 de agosto.
Nesta segunda-feira, os insurgentes disseram terem avançado em direção a Mazar-i-Sharif, a maior cidade do norte e chave para o controle governamental da área, e ter penetrado em seu interior. O anúncio foi negado por autoridades e moradores ouvidos hoje pela AFP.
O líder local, Atta Mohammad Noor, prometeu resistir "até a última gota de sangue".
Centro nevrálgico
No final de junho, os talibãs conquistaram a passagem de fronteira de Shir Khan Bandar, no sul do Tadjiquistão, um centro nevrálgico para as relações econômicas com a Ásia Central.
O Ministério da Defesa disse que as tropas do governo estão tentando retomar o controle de áreas cruciais de Kunduz. "Os comandos lançaram uma operação de limpeza", anunciou uma fonte do Ministério.
"A recuperação de Kunduz é muito importante, porque vai liberar um grande número de combatentes dos talibãs que podem ser mobilizados para outras partes do norte do país", disse à AFP Ibraheem Thurial Bahiss, consultor do International Crisis Group (ICG).
No sábado (7), os talibãs assumiram o controle de Sibargan, mais ao norte de Sar-e-Pul, feudo do famoso senhor da guerra Abdul Rashid Dostom.
Mirwais Stanikzai, porta-voz do Ministério do Interior, garantiu que reforços foram enviados para Sar-e-Pul e Sibargan.
"As cidades que os talibãs querem tomar logo serão seus cemitérios", acrescentou.
A incapacidade das autoridades de Cabul de manter o controle no norte do país pode ser fatal para as chances de sobrevivência do governo.
O norte do Afeganistão sempre foi visto como um lugar de oposição ao Talibã. Foi lá que encontraram a maior resistência ao assumir o poder na década de 1990.
Os talibãs governaram o país entre 1996 e 2001, aplicando sua versão ultraconservadora da lei islâmica, até serem derrubados pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
Na sexta-feira (6), os insurgentes tomaram o controle da cidade de Zaranj, capital da província de Nimroz (sul), na fronteira com o Irã.
Kandahar (sul) e Herat (oeste), segunda e terceira maiores cidades afegãs, respectivamente, foram alvo de ataques por vários dias, assim como Lashkar Gah (sul), a capital da província de Helmand, um dos bastiões insurgentes.
A rapidez do avanço dos talibãs surpreendeu os observadores e as próprias forças de segurança afegãs, apesar da ajuda que receberam do Exército americano.
Os Estados Unidos intensificaram os bombardeios aéreos, como reconheceu a comandante Nicole Ferrara, porta-voz do Comando Central do Exército dos Estados Unidos.
Os combates e os bombardeios levaram centenas de milhares de afegãos a fugirem de suas casas.