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Tentativa de rebelião paramilitar expõe 'fraqueza' da Rússia, dizem especialistas ouvidos pelo R7

Motim mostra que as grandes decisões de guerra não estão nas mãos do Exército de Putin, mas na força de grupos mercenários

Internacional|Sofia Pilagallo, do R7

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, faz discurso em vídeo, no domingo (24), em meio a tentativa de rebelião paramilitar
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, faz discurso em vídeo, no domingo (24), em meio a tentativa de rebelião paramilitar

A tentativa de rebelião do grupo paramilitar Wagner contra a Rússia, que teve início na sexta-feira (23) e término na noite do sábado (24), evidenciou a fragilidade da Rússia e do governo de Vladimir Putin diante do resto do mundo. Essa é a análise de especialistas em relações internacionais ouvidos pelo R7.

"O fato de o governo russo sofrer uma rebelião por parte de um de seus braços direitos mais atuantes internacionalmente [o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin], com certeza mostra uma fraqueza de Putin", afirma Gunther Ruditz, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

"O ocorrido demonstrou que as grandes decisões da guerra não estão nas mãos do Ministério da Defesa, do comando das Forças Armadas e nem mesmo de Vladimir Putin, mas sim nas forças dos mercenários", diz Roberto Uebel, docente da mesma instituição.

Ruditz explica que Prigozhin já atuou em nome da Rússia não só na Ucrânia, mas em diversos outros conflitos, principalmente na África. Os combatentes do grupo Wagner também ajudaram forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a Crimeia em 2014. A região era uma república autônoma da Ucrânia que foi anexada pela Rússia, fato que gerou o confronto no local e que perdura até hoje.


Uegel complementa a fala do colega e destaca mais um aspecto: apesar de as tropas paramilitares contarem com apenas 25 mil soldados, isso foi o suficiente para elas avançarem centenas de quilômetros em direção a Moscou, o que é bastante preocupante para o Exército russo. Outra demonstração de fraqueza de Putin é o fato de ele ter recorrido ao presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko, "considerado o último ditador da Europa", para fazer um acordo com o grupo Wagner e interromper a rebelião.

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A Ucrânia percebeu essa brecha de vulnerabilidade da Rússia apontada pelos professores e deixou isso bem claro. No domingo (25), o Conselho de Segurança Nacional e Defesa do país afirmou que a tentativa de rebelião marcou o início do "desmantelamento do sistema" de Putin. O secretário do conselho, Oleksy Danylov, publicou no Twitter que o motim liderado por Prigozhin é "a ponta do iceberg de um processo de desestabilização".


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Apesar de a fraqueza da Rússia ter sido evidenciada nos últimos dias, os especialistas acreditam que a Ucrânia não deve mudar sua estratégia de guerra e passar a atacar a Rússia daqui para a frente. Ambos concordam que o foco do país continua sendo recuperar os territórios ocupados pelas forças russas — não só desde o início da guerra, em 2022, mas desde 2014, com a invasão da Crimeia.

Para além do grupo Wagner

O Wagner não é o único grupo paramilitar que atua na Rússia. Observadores internacionais apontam para a existência de 300 milícias no país e um potencial de disputa de poder entre regiões explosivas, como a Chechênia. Em um primeiro momento, o fato despertou o medo de uma guerra civil, mas os professores descartam essa possibilidade.

Na opinião de Uebel, a maior ameaça para Putin, neste momento, é uma crise de legitimidade e até mesmo de autoridade, uma vez que ele "não consegue mandar no chefe do grupo Wagner e precisa de intermediação de um líder de outra nação para conseguir um acordo". Para ele, isso "escancara quão vulneráveis estão as forças políticas russas, além das próprias Forças Armadas do país".

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