Tia de 13 crianças acorrentadas pelos pais lança livro sobre abusos
Elizabeth Flores, irmã de Louise Turpin, revela em entrevista ao R7 que não chegou a conhecer todos os sobrinhos, mas espera vê-los recuperados
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
Foi pela televisão que a missionária Elizabeth Flores, de 41 anos, soube que sua irmã, Louise Turpin, havia sido presa junto do marido David por manter os 13 filhos em cárcere privado em uma residência na Califórnia, nos Estados Unidos.
O crime veio à tona em 15 de janeiro e, poucos minutos após ser veiculado nos principais canais de notícias internacionais, fez inundar o celular de Elizabeth com mensagens e telefonemas.
“Foi um episódio que me ensinou que, olhando de fora, você nunca conhece realmente uma pessoa — seja ela da sua família ou não. Agradeço à minha fé por não ser alguém como minha irmã”, revela a missionária em entrevista exclusiva ao R7.
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Louise e David Turpin, de 49 e 56 anos, são formalmente acusados pela promotoria americana de tortura, abuso e prisão ilegal. Seus 13 filhos foram encontrados com aparência de doentes em uma casa suja e malcheirosa depois que uma das adolescentes conseguir fugir e chamar a polícia.
“Conheci pessoalmente a maioria das crianças, mas não todas”, afirma Elizabeth.
Ela diz não poder dar maiores detalhes sobre a situação atual de seus sobrinhos — que receberam tratamento hospitalar após o resgate e se encontram atualmente sob cuidados dos serviços de proteção dos EUA.
“Posso dizer que espero que se recuperem completamente e levem uma vida normal, da melhor maneira possível. Adoraria vê-los se formando na faculdade”, completa.
Pobreza e abuso
No último dia 8 de maio, Elizabeth lançou o livro Sisters of Secrets (Irmãs de Segredos, ainda sem tradução no Brasil) — relato autobiográfico em que aborda parte da vida ao lado de Louise. Segundo a missionária, as duas foram vítimas de agressões psicológicas e sexuais na infância — os atos eram perpetrados por homens mais velhos da família.
"É um livro sobre abuso e pobreza, que pode ajudar quem vive esse tipo de situação ou aqueles que convivem com quem foi violentado. Comecei a escrever dois anos atrás e, na verdade, desde adolescente eu planejava contar minha história", explica.
A autora — que vive com o marido e os filhos na cidade de Cleveland, no Tennessee, onde também atua como palestrante — ainda se pergunta como ela e Louise, que foram melhores amigas nos primeiros anos de vida, tomaram rumos tão distintos.
"Eu fico pensando em como as pessoas respondem [aos traumas] de formas tão diversas. Eu e Louise seguimos caminhos e nos tornamos pessoas completamente diferentes", diz.
Irmã fugiu com Turpin
De acordo com o relato de Elizabeth, as irmãs mantiveram um relacionamento de proximidade mesmo depois que Louise, aos 16 anos, fugiu de casa com David — que era sete anos mais velho e frequentava a mesma igreja da família — para viver em outro estado.
"Ainda assim, eu nunca pensei que David seria uma má influência para Louise. Eu sempre achei que ele era legal e um bom jovem cristão. Quando ficamos mais velhos, comecei a ver o verdadeiro David e então percebi que ele não era quem eu pensava", relembra.
Elizabeth descreve que a relação com a irmã começou a estremecer depois de descobrir que o casal Turpin praticava jogos de azar, na década de 1990. Desde então, Louise teria se afastado gradativamente dos parentes — inclusive negando que o avô das crianças falasse com elas por Skype.
"Hoje, eu vejo como é importante prestar atenção a todos os detalhes e, se algo parecer estranho, investigar a fundo, não importa o quão estúpido você possa se sentir", declara a americana.
Quando foi preso em janeiro, o casal Turpin tinha dívidas avaliadas em aproximadamente 500 mil dólares (R$ 1,6 milhões). O jornal The New York Times acabou por divulgar que eles haviam apresentado uma declaração de falência às autoridades em 2011.
Preconceito e família
Ao R7, Elizabeth conta ainda que acabou sofrendo preconceito pela conduta da irmã e do cunhado depois que o crime ganhou repercussão internacional.
"Foi um episódio que me ensinou a não criticar outras famílias passando por situações semelhantes. Muitos me julgaram por ser irmã de Louise", conta.
A missionária completa que o apoio do marido e dos filhos foi o que mais a ajudou a superar a turbulência. "Esse caso também me fez perceber o quão forte eu realmente sou. Não importa o que as pessoas dizem sobre mim, eu continuo de pé e com a cabeça erguida porque sei quem eu sou."