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Trump busca protagonismo em conflitos e desafia arquitetura da cooperação internacional

Recentes intervenções dos EUA em guerras está ligada a motivações pessoais e estratégicas de Trump, apontam especialistas

Internacional|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília

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LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • Intervenções dos EUA em conflitos refletem motivações pessoais e estratégicas de Trump.
  • Movimentações excluem organizações multilaterais, gerando desconfiança sobre sua utilidade.
  • Criticas à ONU aumentam, mas especialistas divergem sobre a credibilidade das instituições multilaterais.
  • Trump busca reconfigurar alianças regionais e reforçar influência global em um cenário de competição com China e Rússia.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Estados Unidos mediam acordo entre Israel e Hamas Divulgação/ White House

As recentes intervenções do governo dos Estados Unidos em conflitos na Europa e Oriente Médio mostram uma tentativa do presidente norte-americano, Donald Trump, de aumentar sua popularidade interna e externa, segundo especialistas.

Além da busca por prestígio, as movimentações de Trump — que excluem a participação de organizações multilaterais — podem reforçar o processo de desconfiança que paira sobre essas entidades.


📝Instituições multilaterais são organizações formadas por diversos países que têm por objetivo resolver problemas, reduzir conflitos e desenvolver economias. Algumas das principais instituições mundiais são a ONU, o Banco Mundial, a OCDE e a Unesco.

A ONU (Organização das Nações Unidas), por exemplo, vem sendo duramente criticada por Trump. Durante a 80ª Assembleia-Geral da organização, o líder norte-americano criticou a administração e se disse responsável por mediar e terminar sete conflitos ao redor do mundo.


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Para o coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da PUC-PR, João Alfredo Lopes Nyegray, com uma política externa que reforça a erosão do multilateralismo, a política de Trump tenta colocá-lo como mediador direto de conflitos.

Segundo o especialista, a ação reforça a imagem de Trump como “negociador forte”. Por outro lado, enfraquece o princípio da governança compartilhada que sustenta o sistema internacional desde 1945.


“A consequência é uma crescente desconfiança sobre a utilidade da ONU. Se as maiores potências ignoram seus mecanismos e preferem negociações bilaterais, a legitimidade das resoluções e das mediações da ONU se reduz”, ressalta.

Já para a especialista em direito internacional pela USP (Universidade de São Paulo) Maristela Basso, as tentativas de Trump de intervir em conflitos não diminui a credibilidade das instituições multilaterais.


“No sistema internacional de solução de conflitos, a intervenção de um terceiro, que não esteja envolvido diretamente no conflito, é sempre bem-vinda. É comum que um líder ou um grupo de líderes mundiais atuem em negociações e mediações de conflito. Certamente, o presidente Trump vai capitalizar ao conseguir sucesso nas suas negociações, mas outro também faria o mesmo”, observa.

Interesses econômicos

Segundo Maristela Basso, além de evidenciar interesses próprios dos EUA, a intervenção na guerra entre Israel e Hamas, por exemplo, está ligada a relações econômicas importantes do governo Trump com Israel.

João Alfredo Lopes Nyegray, por sua vez, acredita que a interferência norte-americana esteja ligada a motivações pessoais e estratégicas de Trump. Historicamente, o plano pessoal do republicano é focado na personalização da política externa.

“Ele busca resultados que possam ser facilmente comunicados como “vitórias” — fotos de cúpulas históricas, anúncios de cessar-fogo ou acordos de paz assinados sob sua mediação. O Prêmio Nobel da Paz, mencionado ironicamente por analistas, seria o ápice simbólico desse tipo de capital político", salienta o especialista.

Contudo, também existe um interesse geopolítico: recuperar a capacidade de influência global em um cenário em que China, Rússia e até a União Europeia vêm disputando espaços de poder.

“Ao intervir diretamente em conflitos, Washington tenta tanto reforçar sua posição como mediador indispensável (sem a qual o mundo não alcança a paz) quanto limitar a influência de outros atores. Outro ponto que vejo como possível é a tentativa de Trump de reconfigurar alianças regionais, especialmente no Oriente Médio, onde acordos como os “Acordos de Abraão” buscam aproximar Israel e países árabes sob patrocínio americano", pontua Nyegray.

Enfraquecimento da ONU

Para a professora de relações internacionais da ESPM Denilde Holzhacker, o enfraquecimento do multilateralismo abriu espaço para iniciativas unilaterais e a criação de fóruns paralelos, reduzindo a centralidade da ONU.

O cenário atual é marcado por um impasse quase permanente nos principais órgãos da organização — o que compromete a sua relevância no enfrentamento de crises globais.

“No entanto, a crítica de Trump e Milei não se limita à questão orçamentária e à alegada ineficiência da ONU. Para eles — e, de modo mais amplo, para líderes da direita conservadora e da extrema-direita —, a ONU deixou de representar os valores que defendem, sendo vista como uma agência promotora de pautas consideradas ‘anti-conservadoras’ ”, observa Holzhacker.

O cientista político do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha Maurício Santoro observa que, atualmente, a organização vive um momento de “bastante debilidade”.

Segundo o especialista, a dificuldade de mediação diplomática, devido ao aumento da tensão entre potências, somado à ascensão de movimentos políticos nacionalistas e céticos, contribui para o enfraquecimento da organização.

“Então, houve a sensação desses movimentos políticos muito nacionalistas, que são extremamente céticos de organizações multilaterais como a ONU. Isso é particularmente forte hoje nos Estados Unidos, porque o governo americano é o maior financiador individual da ONU, financia mais de 20% do orçamento das Nações Unidas. E o Trump tem questionado muito, né? Tem ameaçado ali cortar verbas”, explica.

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