Trump corre riscos legais e eleitorais com processos de ex-aliados

Condenação de Manafort, ex-gerente de campanha, e confissões do ex-advogado de Trump, Michael Cohen, colocam presidente em situação delicada

22/08/2018 - 10h05 (Atualizado em 20/04/2024 - 14h41)

Donald Trump, sofreu dois contratempos na terça-feira (22), quando dois ex-auxiliares do presidente dos EUA enfrentaram a ameaça de ir à prisão. Um deles disse que Trump o instruiu a cometer um crime, o que pode prejudicar as perspectivas eleitorais do seu Partido Republicano e ampliar uma investigação criminal que vem ofuscando sua Presidência.

Com minutos de intervalo em tribunais diferentes, Paul Manafort, ex-gerente de campanha de Trump, foi condenado por acusações de fraude bancária e tributária, enquanto o ex-advogado pessoal do presidente, Michael Cohen, se declarou culpado de uma série de acusações.

Leia também

Cohen ainda disse em seu depoimento que Trump o orientou a cometer um crime planejando pagamentos antes da eleição presidencial de 2016 para silenciar duas mulheres que disseram ter tido um caso com o então candidato.

Investição sobre Rússia ganha impulso

‌

As adversidades voltaram a direcionar os holofotes ao inquérito do procurador especial Robert Mueller, que investiga se a Rússia interferiu na votação de 2016, se houve um conluio da campanha de Trump com Moscou e se Trump obstruiu a justiça ao demitir o então diretor do FBI James Comey, que estava formalmente encarregado da investigação.

Trump negou um conluio, classificando o inquérito de Mueller de "caça às bruxas".

‌

Dos dois desdobramentos mais recentes, a admissão de culpa de Cohen é o mais problemático, disseram pessoas do entorno de Trump.

"Um dia ruim para o time da casa", disse uma fonte próxima do presidente, que pediu para não ser identificada.

‌

Efeito sobre eleições de novembro

A fonte acrescentou que as complicações legais podem reduzir o comparecimento do eleitorado e aumentar o risco de os republicanos perderem sua maioria de 23 cadeiras na Câmara dos Deputados nas eleições parlamentares de novembro.

"Isso prejudica nossas perspectivas de (eleições de) meio de mandato".

Uma vitória democrata em novembro limitaria a capacidade de Trump para ditar a pauta legislativa e aumentaria o perigo de pedidos de impeachment.

O advogado de Cohen, Lanny Davis, disse na noite de terça-feira que seu cliente está "mais do que feliz" de contar à equipe legal de Mueller tudo que sabe sobre Trump.

Nesta terça-feira (21), Michael Cohen, ex-advogado do presidente dos EUA, Donald Trump, se declarou culpado de oito acusações criminais perante um juiz federal em Nova York. Duas dessas acusações envolvem diretamente um "candidato a cargo federal" durante a eleição presidencial de 2016. Cohen era advogado de Trump na época. Conheça um pouco da trajetória que o levou de braço direito do presidente ao banco dos réus

Cohen, 51, se tornou um dos principais assessores do então empresário Donald Trump no início da década. Em 2011, ele era um dos principais executivos da empresa e chegou até o cargo de vice-presidente. Era considerado homem de confiança e resolvia os problemas particulares, sempre com técnicas pouco ortodoxas. Em 2015, ele ameaçou um repórter do site Daily Beast que tentava coletar informações sobre conflitos entre Trump e a ex-esposa Ivana

No ano passado, surgiram relatos de que Cohen teria se reunido em Praga, na República Tcheca, durante a campanha eleitoral de 2016, para receber informações sigilosas de emissários russos sobre a adversária de Trump na eleição, Hillary Clintion. O advogado sempre negou essa informação, mas o caso ainda está sendo apurado pelo procurador-especial Robert Mueller, que investiga a interferência da Rússia na corrida eleitoral vencida por Trump

Até o início de 2018, Cohen era visto como uma das pessoas mais leais a Trump. Em uma entrevista, ele chegou a dizer que "levaria um tiro" pelo presidente, se necessário. Tudo isso mudou a partir do momento que os escritórios usados por Cohen foram alvo de uma operação do FBI. Os agentes apreenderam cerca de 7 milhões de documentos, que davam indícios de diversos crimes que ele teria cometido

Na audiência desta terça, Cohen se declarou culpado de ter 'agido para ocultar informações' que poderiam alterar o resultado da eleição de 2016. Uma das acusações que ele confirmou foi de ter pago, a mando de Trump, US$ 130 mil (cerca de R$ 500 mil) à atriz pornô Stormy Daniels, para que se mantivesse em silêncio sobre um caso que ela teria tido com o futuro presidente na década passada

A ex-modelo da Playboy Karen McDougal afirma que teve um caso de 10 meses com Donald Trump em 2006. Recentemente, ela quebrou o silêncio e falou sobre o relacionamento em uma entrevista. Disse que foi apaixonada pelo presidente norte-americano e que ele dizia que a amava

Além de interferir na eleição, Cohen cometeu crimes por receber um reembolso do dinheiro por meio de recibos frios emitidos por serviços que ele jamais forneceu à empresa de Trump. Os valores ultrapassam o limite que uma empresa pode doar a comitês eleitorais

Durante as investigações, Trump se afastou de seu ex-advogado. Em julho, Cohen disse que colocaria o país e sua família em primeiro lugar. Neste mês, divulgou uma gravação em que ele e Trump discutem o pagamento a Karen McDougal. Agora, ele pode ser convocado a testemunhar contra Trump na investigação de Mueller, e seus depoimentos podem afetar profundamente o futuro político e legal do presidente

Acompanhe o noticiário internacional no R7

Nesta terça-feira (21), Michael Cohen, ex-advogado do presidente dos EUA, Donald Trump, se declarou culpado de oito acusações criminais perante um juiz federal em Nova York. Duas dessas acusações envolvem diretamente um "candidato a cargo federal" durante a eleição presidencial de 2016. Cohen era advogado de Trump na época. Conheça um pouco da trajetória que o levou de braço direito do presidente ao banco dos réus

Os democratas capitalizaram os casos Cohen e Manafort, dizendo que estes reforçam seu argumento de que a Casa Branca de Trump está curvada sob o peso de escândalos.