Ucraniano que perdeu toda a família em um ataque russo diz que reconheceu os corpos pelas malas
Serhiy Perebyinis contou ao jornal NYT como a tentativa de fuga da esposa, do filho de 18 anos e da filha de 9 anos virou uma tragédia
Internacional|Do R7
Uma família de ucranianos destruída pela guerra com a Rússia. Esse é o resumo da história contada por Serhiy Perebyinis ao jornal americano New York Times. No último domingo (6), sua esposa, Tetiana Perebyinis, de 43 anos, e os dois filhos, Mykyta, de 18 anos, e Alisa, de 9 anos, foram mortos em um ataque do Exército russo durante sua tentativa de fugir da cidade de Irpin, próximo da capital, Kiev.
Serhiy não estava com a família durante os dias que antecederam a tragédia. Ele tinha viajado para Donetsk para cuidar da mãe, que estava com Covid-19. O ucraniano sofre hoje com a perda e com o sentimento de culpa por não ter conseguido proteger os três.
"Perdoe-me por não poder defendê-los", disse à esposa na véspera do ataque que mataria toda a família. “Eu tentei cuidar de uma pessoa, e isso significa que não posso protegê-la.” Tetiana tranquilizou o marido e se mostrou confiante em que conseguiria sair da cidade.
Após esse último contato, Serhiy soube da morte da esposa e dos filhos ao ver postagens nas redes sociais: "Eu os reconheci pelas malas". Uma foto tirada pelo fotógrafo do NYT mostrava uma mala azul com rodinhas, uma mala cinza e algumas mochilas espalhadas perto dos corpos, junto com a caixa de transporte do cachorrinho.
O animal de estimação da família chegou a ser resgatado e teve uma das patas amputada, mas também não resistiu aos ferimentos e morreu.
Dos preparativos ao ataque
Antes da tentativa de fuga, a família ficou escondida no porão de casa. O filho mais velho ficava acordado durante a noite para vigiar e acordar os outros caso os russos estivessem próximos. "Meu filho estava sob muito estresse", conta o pai. No sábado (5), eles chegaram a deixar o esconderijo, mas ficaram com medo e retornaram.
Quando Serhiy deixou de ter notícias da família, tentou monitorar sua movimentação pela localização do celular. O último registro ainda era de dentro da casa e algum tempo depois de um hospital. Esse era o sinal de que a fuga tinha dado errado. Apesar de suas tentativas de entrar em contato, ninguém respondia às ligações.
Família na guerra
Esta foi a segunda vez que um conflito em território ucraniano afetou a família Perebyinis. Em 2014, ano em que a Rússia anexou a Crimeia, os quatro viviam em Donetsk, situada naquela região, e buscaram um local mais seguro para morar: Irpin, nas proximidades de Kiev.
Hoje a cidade escolhida pela família para viver é o local onde as tropas dos dois países estão se enfrentando. Pelo menos 2.000 pessoas já deixaram Irpin, e a morte de civis irritou o presidente Volodmir Zelenski, que prometeu vigança após a morte da família ucraniana.
Leia também
Segundo estimativa da ONU, o conflito entre Rússia e Ucrânia já gerou 2,3 milhões de refugiados. O prefeito de Kiev disse que a população da cidade foi reduzida à metade desde o dia 24 de fevereiro, quando começou a invasão russa.