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Ucranianos de regiões libertadas da ocupação russa se sentem 'abandonados'

Kiev retomou controle das cidades de Yampil e Zaritchné, mas habitantes continuam com cicatrizes dos violentos confrontos

Internacional|Do R7

Forças ucranianas retomaram em setembro o controle das cidades de Yampil e Zaritchné
Forças ucranianas retomaram em setembro o controle das cidades de Yampil e Zaritchné

Eles nunca deixaram suas casas no leste da Ucrânia, onde foram alvo de bombardeios e viveram meses de ocupação russa. Sem eletricidade, gás ou água encanada, afirmam que se sentem “abandonados”.

Após cinco meses de ocupação russa, as forças ucranianas retomaram em setembro o controle das cidades de Yampil e Zaritchné, cerca de 50 km a nordeste de Kramatorsk, no Donbass. Porém os habitantes continuam carregando as cicatrizes dos violentos confrontos ocorridos durante a primavera e o verão.

Muitas casas foram destruídas e na floresta que faz fronteira com Yampil as árvores foram derrubadas. Os restos de armaduras ainda são visíveis.

Nesta região de maioria russófona, os habitantes são principalmente pessoas idosas, para quem a libertação da área tem um sabor amargo.


Habitantes de Yampil são principalmente pessoas idosas
Habitantes de Yampil são principalmente pessoas idosas

Na casa de Nina Martchenko, em Yampil, um projétil "entrou pelo telhado, atravessou a parede e destruiu a parte superior do porão", onde muitas vezes se refugiaram, disse esta mulher de 72 anos à AFP.

Mora com o filho Andriï, de 50 anos, e a nora Liudmila, de 60 anos. No dia do ataque, estavam em um abrigo na casa de um vizinho.


Repararam sozinhos os danos porque "nos disseram para não esperar que as autoridades locais o fizessem", explica Nina.

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A família divide uma casa de apenas 30 m², onde o papel de parede descasca em alguns lugares. Um dos quartos foi condenado porque quando chove "há vazamentos de água por toda parte", detalha.


Nina não pode sacar o dinheiro que tem no banco, apesar dos esforços das autoridades para restabelecer os assuntos cotidianos.

A família recebe macarrão e arroz, às vezes carne e patê, quando a ajuda alimentar é distribuída.

Não há eletricidade desde abril. Pegam água de um poço no jardim e coletam lenha de casas destruídas. A floresta é muito perigosa por causa das minas.

Por favor, parem a guerra

Responsáveis locais ainda não repararam os danos causados pela guerra
Responsáveis locais ainda não repararam os danos causados pela guerra

"Seis projéteis caíram no jardim. Não eram russos, eram ucranianos", insiste Andriï.

"Só rezo a Deus para que, por favor, parem a guerra! Não quero mais nada", implora a mãe, à beira das lágrimas. "Não é apenas minha opinião. Todos aqui querem que a guerra termine", afirma.

Em um campo em Zaritchné, três mulheres e um homem da mesma família estão perto de vinte caixas de batatas que acabaram de colher. Nenhum deles quer dizer seu nome.

"Não confio em ninguém. Todo mundo nos engana. A Rússia nos engana. A Ucrânia nos engana. Todos nos prometeram uma montanha de ouro. No final, eles nos abandonaram", diz uma das mulheres.

Um ataque destruiu a casa onde moravam seus dois netos, que sobreviveram. "Foram os ucranianos que dispararam os projéteis. Não tenho medo de dizer. Não havia russos aqui", afirma, lamentando não poder mais ver os pequenos, que partiram com os pais.

Maioria das obras públicas foi adiada para a próxima primavera devido à chegada do inverno boreal
Maioria das obras públicas foi adiada para a próxima primavera devido à chegada do inverno boreal

Logo à frente, Sergei, de 37 anos, aponta para um pequeno cilindro cinza com abas pretas no chão do lado de fora da porta da frente. Ao lado dele, uma estaca com uma bandeira branca.

Na noite de 3 de novembro, ocorreu um ataque perto de sua casa, com várias explosões, devido, segundo ele, a uma bomba múltipla. Parte dela caiu em frente à sua porta, sem explodir. Ele pediu às autoridades locais que a apreendessem, mas segue aguardando.

As autoridades também "prometeram me pagar, mas ninguém me pagou nada ainda. Nem sequer nos fornecem ajuda humanitária, e já faz um mês que fomos libertados", queixa-se.

Até agora, os responsáveis locais não repararam os danos causados pela guerra e a maioria das obras públicas foi adiada para a próxima primavera devido à chegada do inverno boreal.

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