Ucranianos se mobilizam diante de ameaça russa na fronteira
Cidadãos da região de Donbass estão se preparando para um eventual conflito entre os dois países
Internacional|Da EFE
A Ucrânia está melhor equipada do que há sete anos para uma eventual guerra com a Rússia pelo controle da região de Donbass, mas de qualquer forma seus cidadãos estão se preparando para o pior após o aumento da presença militar russa na fronteira.
"Tenho recebido muitos pedidos nos últimos dias. Os médicos da linha de frente estão me pedindo para enviar mais suprimentos para estarem preparados em caso de possíveis ataques", disse Irina Guk, uma voluntária que tem ajudado as Forças Armadas ucranianas com kits de primeiros socorros desde 2014, à Agência Efe.
Como ela, muitos ucranianos reviveram nas últimas semanas o pesadelo da guerra no leste do país com a chegada de más notícias do front, onde quase 30 soldados morreram neste ano.
Modernização
Para não repetir os mesmos erros, a Ucrânia gastou desde então US$ 1 bilhão (R$ 5,64 bilhões) anualmente para comprar novos equipamentos militares, mas a questão de saber se as Forças Armadas estão prontas permanece sem uma resposta definitiva.
"É difícil falar sobre a possibilidade de uma vitória fácil (contra a Rússia). Mas, é claro, as Forças Armadas ucranianas de 2014 e o atual são duas organizações completamente diferentes", disse Mikhailo Samus, diretor do portal "New Geopolitics Research Network", à Efe.
As Forças Armadas passaram por uma profunda reforma e dobraram seu efetivo para cerca de 250 mil integrantes, incluindo profissionais civis.
"Novos equipamentos incluem drones Bayraktar turcos, sistemas de comunicação turcos-americanos, navios de guerra e mísseis anti-tanque americanos", acrescentou Samus.
Ainda de acordo com ele, foi aprovada uma nova doutrina militar que prepara o caminho para que a Ucrânia cumpra as normas da Otan, um bloco ao qual pretende aderir no futuro.
Mísseis patriot para frear Rússia
As tropas ucranianas estão em alerta desde o início da revolta armada em Donbass, em abril de 2014, mas Samus admite que, no caso de uma invasão russa em larga escala, Kiev teria dificuldade em repelir o ataque, pois não possui sistemas de defesa antimísseis.
"A Rússia não atacará no solo, mas lançará mísseis primeiro. Portanto, a Ucrânia precisa urgentemente comprar e criar um sistema de defesa antimíssil", explicou.
O chefe da administração presidencial, Andrei Yermak, pediu a Washington que fornecesse a Kiev mísseis Patriot para garantir a segurança nacional.
Um coronel ucraniano, que pediu anonimato, disse à Agência Efe que seria difícil para a Ucrânia enfrentar a invasão russa sem ajuda externa.
"Os ucranianos estão prontos para lutar e vão lutar. Mas as forças não são as mesmas e, sem ajuda, passaríamos por dificuldades. Desde 2014, nossas Forças Armadas mudaram, mas ainda são 'um pequeno exército soviético", argumentou.
Para ele, "os soldados ainda estão sendo treinados para combater guerras do passado, a preparação dos militares não é suficiente e há escassez de alguns tipos de armas".
Medo em área leal a Kiev
O medo do som de disparos de artilharia é palpável em Sloviansk, cidade na região de Donetsk onde a insurgência separatista apoiada pela Rússia entrou em erupção há sete anos e agora está sob o controle de Kiev.
"As pessoas estão preocupadas. Eu não diria que há pânico, mas fala-se em possíveis bombardeios de artilharia. Alguns temem muito que isso aconteça", disse à Efe Oleksandr Slavianets, um repórter local.
Embora ele admita que "com um vizinho como a Rússia não se pode excluir nenhuma opção", ele acredita que os medos são infundados.
"Em 2014 era óbvio que algo estava em andamento desde janeiro. Havia muita propaganda pró-russa em grupos na internet. Agora, isso não está acontecendo", comentou.
Slavianets visitou no último fim de semana locais onde militares ucranianos estão posicionados e ressaltou que eles parecem confiantes.
"Agora também temos uma base da Guarda Nacional na cidade. O cenário de sete anos atrás não será repetido", frisou.
Kits de primeiros socorros para as linhas de frente
Só por precaução, Irina Guk continua a distribuir seus kits de primeiros socorros. Ele acredita que a assistência internacional cairia bem, mas os ucranianos devem aprender a se defender por si mesmos.
"As pessoas estão doando novamente para as Forças Armadas, como em 2014-2015. Ainda ontem escrevi uma mensagem pedindo ajuda nas redes, e durante a noite coletamos 100 mil hryvnas (cerca de US$ 3 mil). Assim, mostramos aos nossos soldados na linha de frente que eles não estão sozinhos. Agradecemos seu sacrifício e estamos com vocês, não importa o que aconteça", disse.
Nos últimos meses, ela vinha se dedicando exclusivamente a cuidar de sua filha, mas as baixas sofridas pelos militares em Donbass a deixaram sem opção a não ser arrecadar dinheiro para as necessidades das Forças Armadas.
Entre outros itens, os médicos lhe pedem torniquetes hemostáticos, "muito necessários para primeiros socorros a um soldado ferido".
"Com as tropas russas se mobilizando na fronteira, os médicos sentem a necessidade de estocar equipamentos", afirmou.