Ucranianos tentam retomar a vida após um ano de guerra em meio ao temor de novos ataques
Guerra deixou um rastro de morte e destruição, mas também uniu a população em torno de um inimigo em comum: Vladimir Putin
Internacional|André Azeredo, Lúcio Severino e Tony Chastinet, da Record TV na Ucrânia
Na praça Maidan, a principal de Kiev, a capital da Ucrânia, milhares de bandeirinhas azuis e amarelas representam os mortos na guerra. Em duas placas, com inscrições em ucraniano e em inglês, está escrito: "Ucranianos e estrangeiros assassinados por Putin".
A invasão completa um ano neste 24 de fevereiro. Naquele momento, o mundo assistiu estarrecido às tropas russas chegarem a poucos quilômetros de Kiev, deixando um rastro de morte e destruição por onde passaram.
Por uma semana, a equipe da Record TV esteve na Ucrânia, viu de perto como está a vida em meio à guerra e conversou com dezenas de ucranianos — pessoas comuns que tiveram a vida afetada para sempre pela violência da invasão.
São histórias tocantes, como a do advogado de 59 anos, avô de duas crianças, que foi convocado para a guerra e ferido em batalha e hoje luta para se recuperar das sequelas.
Também encontramos um serralheiro que tinha uma pequena oficina em Makariv, cidadezinha a 56 quilômetros de Kiev que foi explodida por uma bomba. Desolado, ele conta que ainda não tem dinheiro para retomar o negócio.
E a professora de literatura que ficou com a mãe idosa e a filha pequena durante uma semana em um porão, em uma cidade tomada por soldados e tanques russos.
Há também o triste caso do técnico de engenharia de Mariupol, cidade devastada pelos russos, no extremo leste, que há dez meses mora com a mulher e a filha pequena em um contêiner de 12 metros quadrados em Lviv, a mais de 1.200 quilômetros da casa em que viveu a vida inteira e para a qual não sabe se um dia poderá voltar.
De Lviv, no oeste do país, à capital, Kiev, o sentimento é o mesmo: dor, revolta e incerteza com uma situação que eles não esperavam e jamais imaginavam vivenciar.
Por mais de uma vez, ao perguntarmos o que fazer para acabar com a guerra, a resposta foi direta: matar o presidente russo. Se o plano era conquistar o apoio dos ucranianos, o fracasso é medido na união do povo em torno de quem apontam como seu algoz.
O país invasor reivindica territórios do leste que têm grande influência russa, incluindo a língua falada por parte da população. Esse teria sido o pretexto para a invasão. Mas, para quem perdeu a casa destruída por uma bomba ou parentes na frente de batalha, ou teve que deixar a cidade onde passou toda a vida, não há justificativa nem perdão.
As batalhas no leste e as constantes ameaças veladas ou diretas de uma nova ofensiva deixaram o clima tenso nesta semana em que a guerra completou um ano. Barricadas, bloqueios nas estradas e nas cidades e alguns alertas de mísseis já foram incorporados à rotina do povo ucraniano, que tenta seguir uma rotina em meio à guerra.
Em Kiev, cidade com 3 milhões de habitantes, é visível a tentativa de se adaptar e continuar a viver em tempos de guerra. Pessoas vão e voltam do trabalho ou da escola de ônibus ou metrô, há engarrafamento no fim do dia, e restaurantes e bares funcionam normalmente, mas têm que fechar às 23h, por causa do toque de recolher.
Até o campeonato de futebol ucraniano foi retomado, porém com um aspecto peculiar: o jogo é interrompido com o alerta das sirenes de ataque aéreo. Os jogadores vão para o abrigo e, quando o alerta cessa, a partida é retomada.
Em meio à tentativa de seguir adiante, os estragos dos ataques dos russos ainda são visíveis em Kiev e nas cidades que circundam a capital da Ucrânia. Uma imagem impressiona: as ruínas da ponte que liga a cidade de Irpin a Kiev, bombardeada pelos invasores. Uma montanha de concreto e aço retorcido sobre o rio Dnipro, que desenha na paisagem o cenário de guerra que eles enfrentam desde o ano que passou.