Últimos moradores de cidade ameaçada pelas tropas russas se recusam a deixar suas casas
Disputa para assumir o controle de Bakhmut se tornou a batalha mais sangrenta desde o início da guerra em fevereiro de 2022
Internacional|Do R7
Os últimos moradores de Bakhmut, uma cidade do leste da Ucrânia devastada após meses de combates, recusam-se a deixar suas casas, apesar do avanço das tropas russas.
"Como poderia fugir?", pergunta Natalia Shevchenko, uma mulher de 75 anos que teme que partir seja caro demais.
Ela está escondida em um porão há tanto tempo que se sente "como uma toupeira" quando vai à superfície e sente que seus olhos precisam se ajustar à luz.
"Não se preocupe", diz ela a um repórter da AFP, em meio ao barulho de obuses. "Estão longe. Agora já aprendi a saber onde vão cair", completa.
As forças russas tentam há meses assumir o controle de Bakhmut, que se tornou a batalha mais sangrenta desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.
Apesar do envio de armas ocidentais, nos últimos dias, a Rússia reivindicou vários avanços na região.
Antes da guerra, Bakhmut tinha 75.000 habitantes, mas agora é uma cidade fantasma, com ruas repletas de defesas antitanque e carros queimados. Não há mais gás, eletricidade, ou água.
Sangue na neve
Ainda assim e apesar dos tiros de artilharia, disparos e sobrevoo de drones, cerca de 7.000 pessoas, idosos em sua maioria, permanecem na cidade.
Na terça-feira (31), um menino de 12 anos e um homem de 70 anos morreram em um bombardeio russo. No mesmo dia, um veículo militar ucraniano também foi atingido por um ataque aéreo no oeste da cidade. No lugar, a equipe da AFP encontrou vestígios de sangue na neve e, perto de alguns vidros quebrados, havia vestígios que pareciam ser restos humanos.
Em uma visita a Bakhmut na quarta-feira (1º), uma equipe da AFP viu fumaça, subindo da parte norte da cidade.
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O rio que corta Bakhmut marca a fronteira entre os dois lados do conflito, mas Natalia Shevchenko, que mora na margem leste, atravessa uma ponte todos os dias para buscar água.
Quem tinha condições de fugir, já foi embora. Outros, como Shevchenko, parecem resignados com seu destino.
“O problema do gás não é tão grave. Se tivéssemos eletricidade, tudo seria mais fácil”, lamenta, acrescentando que, com isso, poderia se aquecer e cozinhar.
“O pior é que não tenho mais sinal”, diz ela, angustiada por não conseguir falar com a família.
Tem dois filhos: um na capital Kiev, e outro, em Odessa. "São pequenos, por isso tiveram que ir embora", explicou.
Nadiya Burdinska, de 66, disse que viveu em Bakhmut sua vida inteira e não pretende sair. "Só um louco não teria medo", reconhece.
"Tudo é possível. Se Deus quiser, vou sobreviver", afirma, do lado de fora de seu apartamento da era soviética, enquanto arrasta sacos de lenha.
Para poder se aquecer, teve de comprar um fogão por cerca de 3.500 grivnas (US$ 95).
"É assim que vivemos no século XXI", completou.