Vacinação avança lentamente na América Latina 100 dias após início
Desde 1º de janeiro deste ano, mais de 19,7 milhões de casos e 475 mil mortes foram registrados na região
Internacional|Da EFE
A América Latina completou nesta quinta-feira 100 dias desde o início da vacinação contra a covid-19, um período marcado por atrasos na distribuição de doses e com aumento de casos em países como Brasil e Chile.
Apesar de um avanço gradual, de acordo com os calendários nacionais de vacinação, o panorama do crescimento do número de casos e mortes preocupa a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), já que a América Latina está se aproximando de uma terceira onda da pandemia do novo coronavírus.
"Desde 1º de janeiro de 2021, houve mais de 19,7 milhões de casos registrados nas Américas, e perdemos mais de 475 mil pessoas na região, o que equivale a mil aviões do tipo 747-8 completamente lotados", disse a diretora da Opas, Carissa F. Etienne.
As vacinas não estão sendo distribuídas de forma eficiente, motivo pelo qual a Opas pediu que este processo seja conduzido de forma mais igualitária.
"Estamos vendo exemplos demais de nacionalismo nas vacinas, o que limita ainda mais a disponibilidade global", acrescentou Etienne.
Segundo a Opas, desde terça-feira "124 milhões de pessoas receberam pelo menos uma dose de vacina nas Américas, e mais de 58 milhões completaram o seu calendário de vacinação".
Vacina a conta-gotas no Brasil
O Brasil registrou em março 66 mil mortes por covid-19, mais do que o dobro do número registado em fevereiro. Em meio ao colapso do sistema de saúde, o país reportou 12,75 milhões de casos, reafirmando sua posição como segundo país do mundo com mais óbitos e contágios, atrás dos Estados Unidos.
Além disso, o país conta com a presença das variantes sul-africana — cujo primeiro caso foi relatado ontem pelo governo de São Paulo —, brasileira e britânica, e com um processo de vacinação lento. Apenas 11% da população recebeu a primeira dose, e 3,2% a segunda, um total de quase 19 milhões de vacinas aplicadas.
O Ministério da Saúde informou que nos próximos dias começará a maior distribuição de vacinas de uma só vez desde o início da campanha, com 9,13 milhões de doses destinadas principalmente a profissionas da área de saúde e a pessoas com mais de 65 anos.
México: entre os primeiros a vacinar
O México foi um dos primeiros países a começar a vacinação contra a covid-19, em 24 de dezembro de 2020, mas, devido a atrasos nas entregas, apenas 6,85 milhões de doses foram administradas, e um total de 825.185 pessoas foram imunizadas com as duas doses necessárias das vacinas disponíveis.
O presidente do país, Andrés Manuel López Obrador, apostou no acesso antecipado à vacina como estratégia fundamental para combater a pandemia. Com mais de de 2,2 milhões de casos e quase 202 mil mortes, o México é terceiro país com mais óbitos pela doença.
López Obrador, que deve se vacinar na próxima semana, disse que o México foi um dos primeiros países do mundo a aplicar a vacina porque previu a tempo a aquisição de imunizantes. No entanto, o ritmo da campanha é lento.
Chile: entre dar o exemplo e fechar as fronteiras
Com quase 6,5 milhões de pessoas já vacinadas pelo menos com uma dose (3,3 milhões com as duas), o Chile é o terceiro país do mundo com a maior percentagem de população vacinada (41,9%), atrás apenas de Israel e dos Emirados Árabes Unidos.
No entanto, ao mesmo tempo em que o ritmo da vacinação segue acelerado, o país tem registrado um agravamento da segunda onda da covid-19, com hospitais à beira do colapso e mais de 80% da população sob uma quarentena rigorosa.
Além disso, o Chile decidiu fechar suas fronteiras durante o mês de abril após superar a marca de 1 milhão de casos desde o início da pandemia em 2020.
Fura-fila e "vacinagate"
Nestes 100 dias, os escândalos relacionados à imunização de pessoas não contempladas pelo calendário oficial de vacinação atingiram a Argentina, que aplicou um total de 4.023.017 doses até quinta-feira (1º), quando foi descoberto que membros do governo e outras personalidades "furaram a fila".
Esse mesmo tipo de situação também ocorreu no Peru, onde foi divulgado que o ex-presidente Martin Vizcarra e outros funcionários públicos receberam a vacina da Sinopharm antes mesmo que ela fosse aprovada pelo Ministério da Saúde, um episódio que ficou conhecido como "vacinagate".
No Equador, casos semelhantes forçaram a demissão de Juan Carlos Zevallos como ministro da Saúde à medida em que a indignação popular crescia devido à maior facilidade de ricos e poderosos se vacinarem antes do resto da população.