Venezuela escolhe presidente em meio a crise e boicote da oposição
Nicolás Maduro reúne cerca de 20% das intenções de voto, mas opositor tem chances de vitória; maior desafio de vencedor será economia
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
Os venezuelanos vão às urnas eleger seu presidente neste domingo (20) e, por ora, o panorama é de incerteza: embora o atual mandatário, Nicolás Maduro, conte com o apoio de boa parte dos eleitores, seu principal concorrente — o ex-governador Henri Falcón — tem reais chances de vitória.
Segundo levantamento divulgado pelo Datanálisis — um dos principais institutos de pesquisa da Venezuela —, Falcón tem aproximadamente 30% das intenções de voto, enquanto Maduro fica com 20% dos eleitores. O terceiro e o quarto lugar na corrida são ocupados, respectivamente pelo ex-pastor evangélico Javier Bertucci e o engenheiro Reinaldo Quijada.
Henri Falcón tem apoio de políticos importantes e conta%2C a seu favor%2C com descontentamento em relação à crise
“Falcón foi governador do importante estado de Lara e um dos principais líderes em campanhas eleitorais passadas da oposição. Ele tem o apoio de políticos importantes e conta, a seu favor, com o descontentamento geral dos venezuelanos com a atual crise”, pondera Igor Fuser, professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC paulista.
O que ainda pesa a favor de Nicolás Maduro, de acordo com Fuser, é a noção de que um novo líder poderia descontinuar os programas de assistência social restantes ou agravar ainda mais a situação da economia: “Há uma parcela dos venezuelanos que, mesmo insatisfeitos com o governo, tendem a votar em Maduro por acreditar que a situação pode se tornar ainda pior em caso de uma vitória eleitoral da oposição ou do agravamento do conflito político. A população apoia a busca de uma solução pacífica, por meio das urnas e do diálogo, rejeita a insurreição e, mais ainda, a intervenção externa”.
Existe apoio ao projeto original chavista. Há parcela da população que não vai passar a apoiar as antigas elites em função da crise econômica
Andrea Hoffman, professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, reforça o coro: “Creio que existe um apoio ao projeto original chavista — a ideia da inclusão social e distribuição de renda, ainda que a realidade do governo de Maduro esteja distante desse ideal. Esta parcela da população não vai passar a apoiar as antigas elites em função da crise econômica. Ou ela vota em Maduro, ou desiste da política”.
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Boicote da oposição
Outro fator em jogo neste domingo é o boicote à votação, convocado pelos principais grupos opositores ao governo. O chamado se deu desde que as eleições presidenciais na Venezuela — que deveriam acontecer em dezembro de 2018 — foram remarcadas para abril.
“É um posicionamento legítimo, uma vez que a oposição entendeu que, com a antecipação do pleito, não haveria tempo de os candidatos se organizarem. Para Maduro ficou mais fácil, já que ele participou de outras eleições e tem a máquina do governo a seu favor”, comenta Manuel Furriela, que é especialista em Relações Internacionais e reitor do Complexo Educacional FMU/FIAM-FAAM, de São Paulo.
Oposição entendeu que%2C com antecipação do pleito%2C não haveria tempo para organização de candidatos
Parte dos especialistas em política internacional acredita, entretanto, que o boicote só fez reduzir as chances de articulação da oposição — já comprometidas pelo fato de que os principais críticos ao governo estão impossibilitados de participar do pleito.
Enquanto Leopoldo López está em prisão domiciliar cumprindo uma pena de 14 anos por ter convocado protestos contra o governo em 2014, Henrique Capriles, que disputou as eleições em 2013 e perdeu para Maduro, foi declarado inelegível por 15 anos pela justiça venezuelana no ano passado. “Henri Falcón foi o que restou como candidato oposicionista”, diz Furriela.
Desafio econômico
De um jeito ou de outro, quem for consagrado pelas urnas terá como principal desafio estabilizar a economia do país, derrotando a hiperinflação — que pode chegar a 14.000% em 2018, segundo cálculos do Congresso venezuelano. Para Andrea Hoffman, a crise não deve ser superada tão cedo.
“Há praticamente um consenso que o maior problema da Venezuela é a dependência do petróleo — questão nunca superada por nenhum governo anterior. A diversificação da economia, por sua vez, é um projeto de longo prazo e, certamente, não será fácil de ser implementada na conjuntura atual, de saída de investimentos dos países emergentes. A aposta da Venezuela na cooperação com a China, desta forma, parece ser a única alternativa viável para saída do colapso econômico”, conclui a professora.