Viena, melhor cidade do mundo para se viver, abriga 5 mil brasileiros
Capital da Áustria, país governado por coalizão de ultradireita que rechaça imigrantes, reúne benefícios de anos de investimento público na área social
Internacional|Carolina Vilela, do R7*
Eleita como a melhor cidade do mundo para se viver, pelo ranking do Economist Intelligence Unit (a unidade de inteligência da revista britânica Economist) de 2018, Viena tem feito os olhos dos brasileiros que vivem na capital austríaca brilharem.
Os entrevistados pelo R7 concordam com a pesquisa. “Não é muito simples achar um defeito na cidade”, afirmou Stefan Spitzl, que mora em Viena há três anos. “O título de melhor cidade do mundo para se viver está em boas mãos com certeza!”
Áreas verdes, belos parques, boas universidades, prédios históricos conservados e uma população cosmopolita são os motivos pelos quais o jornalista Ian Linck, 27, que mora em Viena há 1 ano e cinco meses, concorda com a pesquisa.
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Para o jornalista, décadas de investimento em moradias sociais deram resultado. Ele relata que em todas as esquinas é possível ver ofertas de aluguéis baratos em prédios construídos pelo governo.
Cinco mil brasileiros em Viena
Apesar da boa posição no ranking, a Áustria não é a estrela dos jornais ou o primeiro destino de quem está pensando em sair do Brasil, como a Alemanha por exemplo, e para os brasileiros que vivem lá, isso é um ponto positivo.
Com pouco mais de 1.700 milhões de habitantes, a Áustria conta com cerca de 4.950 brasileiros, segundo uma estimativa do Itamaraty.
“Pouco se ouve falar de Viena ou da Áustria em geral nas notícias. A maioria das pessoas nem imagina como o custo de vida, ao menos em se tratando de transporte e moradia, é bem mais barato do que nas cidades grandes alemãs. Pensando bem, melhor assim, que permaneça um segredo, assim a cidade não enche tanto e os preços não sobem tanto”, afirmou o jornalista Ian Linck, 27, que mora em Viena a 1 ano e cinco meses.
Imigrantes não tão bem-vindos
Mas como todos os lugares, Viena tem seus poréns. "É indiscutivelmente um lugar maravilhoso de se morar, mas depende de quão integrado você está", afirmou Lizandra Pereira, 45, que mora na capital austríaca há seis anos.
A Áustria hoje é governada por uma coalizão de direita e ultra-direita. O primeiro ministro, Sebastian Kurz, é o principal porta-voz do discurso ultranacionalista e contra as cotas de imigração que foram estabelecidas pela UE.
Além disto, a história austríaca é marcada pela xenofobia e o preconceito étnico-racial. O país foi anexado a Alemanha de Hitler em 1938 e muitos acreditam que a xenofobia é uma das heranças deixadas por essa época.
Mesmo assim, a Áustria tem uma grande proporção de imigrantes em sua população.
Uma pesquisa do Eurostat, em 2015, mostrou que o país registrava 19 imigrantes a cada mil pessoas.
Os brasileiros ouvidos pelo R7 afirmaram nunca terem sofrido por serem imigrantes e sim por não falarem a língua do país, o alemão.
A questão tomou tanta proporção que, segundo a agência de notícias Efe, o governo chegou a apresentar planos de diminuir o salário de imigrantes que não passassem em uma prova de nível médio da língua.
'Organização e segurança sobram em Viena. Empatia sobra no Brasil'
Segurança e organização da cidade foram alguns dos pontos que fizeram muitos brasileiros deixarem o clima praiano para trás.
“Organização e segurança sobram em Viena. Empatia sobre no Brasil”, essa foi a resposta de Greice Ferreira Drumond Holzweber, 42, quando questionada sobre a principal diferença entre Viena e o Brasil.
Rafaela Sant’Ana, 19, se mudou para Viena assim que terminou o ensino médio por "não conseguir ver um futuro bom no Brasil" e afirmou que a segurança é o maior contraste entre os dois países.
"Demorou para eu me 'adaptar' com tanta segurança. Não tenho medo de sair sozinha na rua, mesmo sendo mulher, jovem e aparentemente ‘frágil’. Não sinto medo de voltar para casa no escuro, não sinto medo de atender o celular na rua, etc”, afirmou a estudante.
O custo de vida na capital também é um atrativo. O salário mínimo para um trabalho de 40 horas semanais gira em torno de 1.900 euros, que equivale a mais de R$7 mil. "Você consegue viver 'numa boa' com bem menos que isso", contou Daniel Urpia, 29, que está a quase dois anos na Áustria.
"O transporte público aqui funciona mesmo", exaltou Ian, que também contou que o ticket anual custa certa de 365 euros (pouco mais que R$1 mil). Ou seja, com 1 euro por dia, as pessoas tem o direito de usar o ônibus, metrô e bondes de maneira ilimitada e andar por toda a cidade.
'Crianças têm toda a vida educacional delas pagas pelo governo'
Fernanda Schonardie, 26, publicitária e estudante de mestrado em comunicação, trabalhou como baby-sitter e contou que pôde perceber o quanto a educação das crianças é exigida na capital.
"Elas têm aula até à tarde e é inadmissível uma criança faltar a aula. Se os pais querem viajar e a criança vai perder um dia de aula, eles têm que pedir permissão para o governo ou se a criança começa a tirar notas ruins ela tem que procurar uma escola especial", afirmou a publicitária que mora em Viena há dois anos e meio.
"Aqui é o povo é mais frio, distante, mas com o tempo acabam mudando. As pessoas são mais concientes do seu papel na sociedade e te cobram por isso", afirmou Horst Fernandes, 35, ressaltando umas das principais diferença entre os austríacos e brasileiros.
Choque de cultura
Apesar das maravilhas da capital austríaca, o "calor brasileiro" faz falta.
"Aqui, diferente do Brasil, funciona tudo: segurança, saúde, transporte público... Basicamente tudo o que o Estado oferece. Aqui se come muito porco, carne de boi é muito cara. Não tem praia mas o (rio) Danúbio quebra um galho", declarou Hosrt, que mora na capital há 12 anos. "Mesmo após 12 anos, Viena continua a me surpreender."
*Estagiária do R7 sob supervisão de Cristina Charão