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Vitória apertada de Merkel põe em risco estabilidade da União Europeia

Chanceler precisa formar governo de coalizão para enfrentar extrema-direita

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Questão dos refugiados é um dos principais desafios a serem enfrentados por chanceler no novo mandato
Questão dos refugiados é um dos principais desafios a serem enfrentados por chanceler no novo mandato

Com pouco mais de 30% dos votos, o partido CDU (União da Democracia Cristã), da chanceler Angela Merkel, garantiu sua quarta vitória nas eleições gerais da Alemanha no último domingo (24). O êxito, entretanto, não deve ser motivo de celebração. De acordo com especialistas ouvidos pelo R7, o resultado apertado representa um risco não somente para a estabilidade do país, como para toda a União Europeia — principalmente pelo crescimento de movimentos de extrema-direita no continente.

Sidney Ferreira Leite, especialista em Relações Internacionais e Pró-reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, lembra que Merkel emerge como a grande líder europeia no contexto do Brexit, já que o presidente da França, Emmanuel Macron, enfrenta problemas internos muito desafiadores no campo da economia.

— A estabilidade econômica conquistada pela Alemanha nos últimos anos credencia Angela Merkel como a principal liderança neste momento em que o Reino Unido sai do bloco. Caso ela não consiga formar alianças dentro do próprio país, entretanto, nós provavelmente veríamos um efeito dominó na Europa, com os partidos de extrema-direita ganhando cada vez mais espaço em parlamentos importantes para a União Europeia, como o da Holanda.

Para governar com tranquilidade e aprovar seus projetos sem grandes transtornos, Merkel precisa formar um governo de coalizão que tenha mais de 50% dos assentos no Bundestag, o parlamento alemão. “O principal acordo feito por ela nos últimos mandatos foi com o SPD (Partido Social Democrata), que já afirmou que vai passar para a oposição neste novo mandato. O mais provável agora é que ela vá se unir a legendas menores, como o Partido Verde e os Liberais, que se elegeram com 8,9% e 3,2% dos votos respectivamente”, afirma Demetrius Pereira, professor de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).


O desafio dos refugiados

A rejeição de boa parte dos eleitores à legenda de Merkel e o crescimento do partido de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha) — que conquistou 12,6% dos votos em 2017, contra 4,7% em 2013 — são vistos como uma resposta à política migratória da chanceler, que concordou em abrir as portas do país para mais de 900 mil refugiados nos últimos anos. Segundo Leite, essa questão dos migrantes é um dos principais desafios a serem enfrentados por Merkel em sua nova fase no poder.


— O problema não vai ser tanto econômico, mas quase um milhão de migrantes geram demandas e dificuldades do ponto de vista social com as quais o governo vai ter que lidar. Deve-se haver políticas de inserção dessas pessoas na sociedade e políticas para a aceitação dos migrantes pelos alemães. Esse processo não vai ser fácil especialmente porque um dos principais posicionamentos da AfD é ‘devolver a Alemanha aos alemães’, o que se parece muito com o discurso nazista.

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Leite pondera que a exclusão social dos imigrantes, por sua vez, pode tornar o país um novo alvo de ataques terroristas como os que têm sido vistos na Inglaterra e na Espanha. “Isso transforma a Alemanha em um ambiente ainda mais favorável para o discurso da extrema-direita, que vai passar a exigir medidas mais rígidas de combate à violência e ao terrorismo”. Outros pontos de embate entre Merkel e seus opositores, na opinião dos especialistas, devem ser a permanência do país na União Europeia e a volta do marco alemão — que foi a moeda oficial da Alemanha entre 1949 e 2002.


Resistência à extrema-direita

Apesar das dificuldades, a chanceler deve conseguir formar seu governo de coalizão com legendas menores. Desta forma, os projetos de Merkel não serão diretamente afetados pelo crescimento da AfD no Parlamento. “Não é o ideal, mas, caso a coalizão não ocorra, ela poderia ainda formar um governo minoritário. Ela seguiria em seu direito de governar, mas sempre obrigada a negociar com os grupos do Parlamento e formar novas alianças de acordo com os assuntos a serem aprovados. Em última hipótese, seriam convocadas novas eleições”, aponta o professor de Relações Internacionais da ESPM.

Neste último caso — da convocação de um novo pleito — Sidney Leite aponta que Merkel provavelmente atrairia de volta eleitores do Partido Social Democrata, do Partido Verde e de outros setores da Alemanha que repudiam a ideia de uma extrema-direita forte.

— A Alemanha é consciente de tudo o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, de todos os perigos dos discursos nacionalistas. Assim, eu acho muito improvável que a AfD cresça. O resultado de domingo surpreendeu e assustou os alemães, tanto que muitos já foram às protestar contra a AfD nesta segunda-feira (25).

Por ora, o pró-Reitor da Belas Artes afirma que Merkel — que já é chanceler há 12 anos — deve se preocupar com o desgaste de sua imagem à frente do governo.

— As democracias são implacáveis com políticos que ficam muito tempo no poder. Existe o desgaste de estar sempre exposto, o desgaste de não ter respostas para as novas questões que vão surgindo. A Angela Merkel deve lidar com o esgotamento de uma agenda que já é proposta há três governos e que vai enfrentar mais quatro anos à frente de um país. Isso aconteceu com a Margareth Tatcher e com o Tony Blair. Do ponto de vista estratégico, deve-se começar com urgência uma transição de poder dentro do próprio partido dela, para que alguém possa assumir com uma imagem sem desgaste no pós-Merkel. 

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