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Volta de dissidentes às Farc é novo fracasso para a Colômbia, diz Mujica

Ex-presidente do Uruguai lamentou que acordo de paz entre o governo da Colômbia e os guerrilheiros das Farc tenha seguido 'caminho de frustração'

Internacional|Da EFE

José Mujica foi guerrilheiro nos anos 1960
José Mujica foi guerrilheiro nos anos 1960

O ex-presidente do Uruguai José Mujica afirmou nesta quinta-feira (29), em entrevista exclusiva à agência EFE, que o anúncio de vários líderes dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) de retomar a luta armada pode ser vista como um "novo fracasso" para a história do país.

Mujica, que integrou na condição de "notável" a comissão que ajudou a mediar o acordo de paz entre o governo da Colômbia e os guerrilheiros das Farc, ressaltou que lamenta profundamente que o processo tenha seguido este caminho de frustração.

O ex-chefe da delegação de paz das Farc, Luciano Martín Arango, mais conhecido como Iván Márquez, afirmou ao anunciar a volta à luta armada que tanto ele como os outros dissidentes sentem que foram traídos pelo governo. Entre os motivos também estão o assassinato de mais de 500 líderes sociais e pelo menos 150 ex-guerrilheiros, crimes que contaram, segundo o líder dos dissidentes, com a "indiferença do Estado".

Na entrevista à EFE, Mujica, que foi guerrilheiro nos anos 1960, considerou que a postura do atual presidente da Colômbia, Iván Duque, teve bastante relação com a decisão dos dissidentes de voltarem às armas.


"Sim, a mudança de presidente trouxe uma notória mudança de atitude do governo. Tínhamos esse temor quando mudou o governo, tínhamos a responsabilidade de verificar como avançava o processo e, quando mudou o governo, ficamos sem assunto", lamentou o ex-presidente uruguaio.

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Mujica destacou o papel do ex-presidente Juan Manuel Santos, um dos responsáveis pelo acordo, e afirmou que ele atuava "de boa fé" e que por isso foi capaz de conseguir avançar com o processo de paz no país.


"Por isso sinto profundamente esse fracasso. Acompanhei em tudo o que pude o ex-presidente, mas houve uma forte resistência interna, expressada por algumas correntes políticas de peso", disse Mujica.

Para o ex-presidente uruguaio, há interesses em jogo que "menosprezam o papel" da paz e não medem o preço que a Colômbia pagou pelos 50 anos de conflito armado com as guerrilhas que atuam no país.


"Não é fácil manter uma máquina de 500 mil soldados de movimentando de um lado para o outro sem que isso não se transforme em uma penúria de caráter econômico. Sem contar as questões humanas, sacrifício, ódio, que significa uma guerra", destacou.

Sobre os motivos que levaram os dissidentes das Farc a anunciar a volta à luta armada, Mujica disse que há uma "violência social" na Colômbia, que ele não sabe dizer se foi exercida pelo governo de Duque, mas que custou a vida de muitas lideranças sociais nos últimos anos.

Além disso, o ex-presidente do Uruguai considerou que é provável que os dissidentes não tenham tido outra opção e por isso decidiram pegar em armas outra vez.

"É provável que a outra alternativa oferecida a eles seja a prisão. Entre ir à prisão ou ir para as montanhas, eles preferem as montanhas, imagino", afirmou o ex-presidente uruguaio.

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