Zelenski visita o leste da Ucrânia, e Rússia intensifica cerco à região
Presidente viajou para Kharkiv pela primeira vez desde o começo da guerra no país, em 24 de fevereiro
Internacional|Do R7
O presidente ucraniano Volodmir Zelenski visitou neste domingo (29) o leste do seu país pela primeira vez desde o início da invasão russa, que aperta o cerco sobre as cidades de Severodonetsk e Lyssychansk, no Donbass.
Em imagens divulgadas no Telegram, ele aparece vestido com colete à prova de bala, inspecionando prédios em ruínas, bem como veículos destruídos na beira da estrada, acompanhado por colaboradores e soldados armados.
Kharkiv, bombardeada quase diariamente desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, vivencia uma pausa de algumas semanas, com a saída de tropas russas para outras direções, no leste e no sul da Ucrânia. A parte leste da cidade, no entanto, continua sendo bombardeada às vezes pela artilharia russa.
A Rússia assumiu a responsabilidade pela tomada da cidade-chave de Lyman no sábado (28), um avanço que acentua a pressão contra Lyssychansk e Severodonetsk.
Zelenski permaneceu na capital, Kiev, desde que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, lançou a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.
"Nesta guerra, os invasores estão tentando obter um resultado, seja ele qual for. Mas eles devem saber há muito tempo que defenderemos nossa terra até o fim", disse Zelenski.
Zelenski falará na segunda-feira (30) na cúpula europeia em Bruxelas, onde os líderes dos 27 Estados-membros se reunirão para tomar uma decisão sobre um possível embargo ao petróleo russo. O bloco europeu está considerando excluir o oleoduto que entrega petróleo à Hungria do novo pacote de sanções, disseram fontes da UE à AFP.
'Bombardeios constantes'
A situação em Lyssychansk "claramente se agravou", disse o governador da região de Lugansk, Serguei Gaidai, no aplicativo de mensagens neste domingo.
No sábado, o ministério da Defesa russo anunciou a ocupação da cidade-chave de Lyman. Seu controle abre caminho para Sloviansk e Kramatorsk, no Donbass.
O comandante das Forças Armadas russas do distrito central, general Alexandre Lapine, elogiou no domingo "a coragem e o heroísmo" dos soldados russos que participaram na tomada de Lyman.
No domingo, o Exército ucraniano também informou que as tropas russas estavam se reagrupando massivamente nessa área.
Até Zelenski reconheceu que "a situação nesta região do Donbass [era] muito, muito difícil", com bombardeios pesados de artilharia e mísseis.
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Por sua vez, o prefeito de Severodonetsk, Olexander Stryuk, assegurou que "os russos usaram muitos meios para tomar a cidade mas não conseguiram [...]. Achamos que a cidade vai resistir".
Os "bombardeios constantes" dificultam muito o abastecimento, especialmente de água potável, e a cidade está sem eletricidade há mais de duas semanas, disse o funcionário via Telegram.
Cara nova
Durante sua viagem a Kharkiv, Zelenski discutiu planos de reconstrução com as autoridades locais. Segundo ele, existe a possibilidade de que as áreas devastadas pelos combates "tenham uma cara nova".
Os moradores apareceram para tomar um café, comer alguma coisa ou tomar o sorvete Biloshka, uma especialidade da casa que é servida desde a década de 1960.
"Precisamos manter o trabalho. A cidade está voltando aos poucos ao que era", disse Alyona Kostrova, proprietária do café, à AFP.
O cardápio foi cortado por problemas de abastecimento, e o estabelecimento funciona com mão de obra reduzida.
A atmosfera é muito diferente em Saltivska, um bairro distante do centro onde ainda caem mísseis russos.
"Eu não diria que as pessoas compram muito. As pessoas não têm dinheiro", disse Vitaly Kozlov, 41, enquanto vendia ovos, carne e legumes.
"Venho uma vez por semana" para vender coisas, disse Volodymyr Svidlo. O homem, de 82 anos, que não tem aposentadoria, vive do que colhe em sua roça.
'Negociações na UE sobre sanções'
Zelenski recorrerá ao bloco europeu para continuar suas tentativas de aumentar a pressão contra Moscou.
Até agora, uma nova rodada de sanções contra a Rússia que atinge a maior parte do setor de hidrocarbonetos foi interrompida pela Hungria, que depende fortemente desses recursos e teme consequências para sua economia.
O país da Europa Central — sem litoral e abastecido pelo gasoduto Druzhba — pediu 800 milhões de euros (US$ 860 milhões) em fundos da UE para adaptar suas refinarias e capacidades de gasodutos para receber suprimentos alternativos, por exemplo, da Croácia.
Atualmente, uma nova proposta está sendo discutida para excluir Druzhba do embargo de petróleo para limitar as sanções sobre o fornecimento de petróleo por navio.