Canalização de córrego explica alagamentos em área nobre de BH
Córrego do Leitão, que passa pelos bairros Santo Antônio e Lourdes foi canalizado nos anos 60 com a promessa de acabar com enchentes na região
Minas Gerais|Camila Cambraia, da RecordTV Minas
A chuva que atingiu a região Centro-Sul de Belo Horizonte na noite de terça-feira (28) deixou alagado um trecho de cerca de 4 quilômetros que vai do bairro Santa Lúcia até o Mercado Central.
Esse é o trecho por onde passava o córrego do Leitão. Até os anos 60, as águas do ribeirão, que nasce no bairro Santa Lúcia, corriam a céu aberto pela avenida Prudente de Morais, pela praça Marília de Dirceu até desaguar no ribeirão Arrudas, perto da Rodoviária.
Naquela época os bairros de Santa Lúcia, Santo Antônio e Lourdes eram fazendas que começaram a ser ocupadas. Com isso, as cheias passaram a ficar mais frequentes e, na década de 60, a canalização foi a promessa da prefeitura para evitar as enchentes.
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O problema é que a canalização do córrego não acabou com as inundações na região. Ao contrário, as obras alteraram o curso natural e prejudicaram a absorção da água da chuva pelo solo.
A arquiteta e urbanista Elisa Marques explica que as cheias são naturais em qualquer rio. Mas a questão é que, em Belo Horizonte, a água não tem para onde ir.
— A água está vindo com muito volume e muita velocidade. Ela deveria infiltrar em outros pontos dessa vertente, dessa bacia. Mas os quintais não existem mais, os canteiros estão cada vez mais escassos, está tudo recoberto por porcelanato, asfalto e concreto. E a água corre, com velocidade, e vai descendo pela bacia abaixo.
Elisa ressalta que em Belo Horizonte há pelo menos 700 km de cursos dágua. Muitos deles estão canalizados, como o córrego do Leitão. A urbanista explica que, enquanto eles estiverem cobertos, situações como a que ocorreram nesta terça-feira vão continuar a acontecer.
— A ocupação humana, a ocupação do espaço, nossas habitações, nossas ruas, estão sobrepondo aos rios, literalmente. Se, até pouco tempo a gente poderia pensar em mudar o modelo e passar a fazer diferente com as áreas que não foram transformadas ainda, eu imagino que agora com as consequências que a gente está vendo, é preciso reverter.
Solução
Elisa afirma, ainda, que o problema tem solução mas que ela não é simples. Para proteger a população, por enquanto, somente medidas paliativas.
— A gente pode mudar a nossa maneira de habitar as calçadas, por exemplo. Elas podem ser muito mais permeáveis, com vegetação, com solo exposto, sem as camadas de concreto. A gente pode ter medidas que beneficiem, que valorizem práticas do cidadão para manter suas áreas descobertas, sem impermeabilizar. Isso tudo, somado, faz muita diferença