Delator incrimina Pimentel em depoimento à Justiça em BH
Empresário Benedito de Oliveira, o Bené, e ex-governador de Minas compareceram ao Fórum, na capital mineira; petista negou irregularidades
Minas Gerais|Ezequiel Fagundes, da Record TV Minas
O empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, incriminou o ex-governador Fernando Pimentel (PT) em depoimento, nesta terça-feira (30), no Fórum Lafayette em Belo Horizonte.
Pimentel e Bené foram interrogados na condição de réus pela juíza Luiza Teixeira, da 32ª Vara Eleitoral da capital mineira. Eles respondem por lavagem de dinheiro e tráfico de influência.
Empresário bem-sucedido do setor gráfico em Brasília, Bené é o primeiro delator da Operação Acrônimo, desencadeada em 2014 pela Polícia Federal para investigar um suposto esquema de lavagem de dinheiro, desvio de verbas e caixa 2 eleitoral.
Pimentel é o alvo principal da operação. É a primeira vez que Bené depõe em juízo contra o petista, de quem já foi amigo bastante próximo. Em entrevista, antes do interrogatório, o promotor de Justiça Ivan Eleutério, afirmou ter elementos para pedir a condenação dos acusados.
Primeiro a ser interrogado, Bené confirmou depoimento dado em delação premiada e reafirmou ter operado de forma irregular recursos para a campanha de Pimentel em 2014.
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Pimentel é convocado a depor em processo da Operação Acrônimo
Segundo denúncia do Ministério Público, com base na delação do empresário, Pimentel teria cobrado R$ 5,2 milhões de um empresário na época em que o petista era ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. Em troca, Pimentel teria atuado a favor de um empresário interessado na construção de um aeroporto em São Paulo.
O teor do depoimento de Bené foi confirmado pela assessoria de imprensa do tribunal, já que foi proibida a presença de jornalistas na sala da audiência sob a alegação que parte do processo corre em segredo de Justiça. Ao sair do depoimento pela porta da frente do gabinete, Bené falou rapidamente e disse ter reafirmado o que já está no processo. "Tá tudo lá nos autos. Meu acordo é sigiloso", resumiu.
Depoimento
Logo em seguida, Pimentel entrou na sala de audiências e falou por cerca de meia hora. De acordo com a assessoria de imprensa do tribunal, ele negou a todo momento ter solicitado a Bené para arrecadar dinheiro de forma ilegal. O ex-governador entrou para depor pela porta de acesso restrito a magistrados, promotores de Justiça, defensores públicos e funcionários.
No final, ele se pronunciou antes de ir embora pelo elevador privativo. "O que já tinha de dizer já foi dito nos autos do processo. Agora é esperar a Justiça".
Foram interrogados ainda Marcos Coimbra, dono do Vox Populi, e o então diretor da empresa, Márcio Hiran. Parte do dinheiro repassado pelo empresário com interesse no aeroporto teria sido pago via caixa 2 de campanha de Pimentel, por meio de contratação do instituto de pesquisa. "Tudo será dito no lugar adequado", disse Coimbra, antes de depor. Hiran não se pronunciou.
Ao todo, a operação Acrônimo gerou cinco processos contra o petista, sendo que dois deles ainda estão em fase de inquérito. Em um deles, o MP pediu a prisão de Pimentel e o pagamento de multa no valor de R$ 5 milhões.