Em depoimento, empresário reforça suspeita de caixa dois de Pimentel
Presidente do Sintram, Rubens Lessa, transferiu R$ 1,1 milhão para consultoria ligada a Pimentel, mas serviço nunca foi entregue, nem cobrado
Minas Gerais|Ezequiel Fagundes, da Record TV Minas
Um conhecido empresário do setor do transporte de ônibus em Minas Gerais confirmou ter realizado um pagamento milionário para uma empresa de consultoria ligada ao ex-governador Fernando Pimentel (PT). Ele, no entanto, admite que o serviço contratado nunca foi entregue de fato.
Em depoimento à Polícia Federal, Rubens Lessa Carvalho, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) afirma ter repassado R$ 1,1 milhão para o caixa da OPR Consultoria.
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A empresa é do ex-assessor especial de Pimentel no governo de Minas, Otílio Prado, um dos aliados mais próximos de Pimentel. O depoimento faz parte da operação Monograma, desencadeada em agosto do ano passado pela PF a partir da Acrônimo, que tem como principal investigado o ex-governador petista.
Para PF, Rubens Lessa disse que, em maio de 2014, contratou a OPR com o objetivo de realizar uma avaliação patrimonial das empresas associadas ao sindicato. De acordo com Lessa, a contratação foi necessária caso as empresas tivessem a necessidade de obter créditos junto ao mercado financeiro.
O empresário afirmou que depositou R$ 1,1 milhão na conta da OPR, sendo a quantia paga em quatro ou cinco parcelas, via transferência eletrônica. Questionado se o trabalho foi feito efetivamente, o empresário admitiu que o trabalho não foi entregue e que nunca cobrou nada de Otílio Prado.
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Campanha 2014
Neste inquérito, Pimentel está sendo investigado pelos crimes de falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro. Para os investigadores, trata-se de um contrato de fachada para encobrir caixa 2 na campanha de 2014, quando o petista foi eleito governador de Minas Gerais.
Depois da eleição, o Sintram fechou um convênio com o Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social). Pela acordo, o sindicato forneceria passagens de ônibus para alunos carentes e, em troca, o governo estadual concedia benefícios fiscais para os empresários do setor de transporte. O convênio está sendo investigado pela PF.
A suspeita é que os benefícios fiscais seriam uma compensação pelos R$ 1,1 milhão repassados a OPR.
Outro lado
Em nota, o advogado do empresário Rubens Lessa, Guilherme Grimaldi, afirmou que o seu depoimento na Polícia Federal esclarece as circunstâncias da lícita contratação da OPR pelo Sintram. Segundo ele, a contratação não teve vínculo com o ex governador Fernando Pimentel ou com órgãos e instâncias do governo do Estado, tampouco com o Servas, cuja relação com o sindicato tem caráter social e remonta ao ano de 2002.
A defesa de Otílio Prado, por meio do seu advogado Estêvão Melo, afirmou que nunca foi intimada e não teve acesso a essas informações, de modo que é impossível se manifestar sobre dados incompletos vazados na imprensa.
E que tal atitude, inclusive, pode ser considerada crime, conforme a nova Lei de Abuso de Autoridade. Por fim, disse que Otílio sempre trabalhou dentro da legalidade e refuta qualquer insinuação maldosa envolvendo o seu nome.
O ex-governador Fernando Pimentel foi procurado, mas não se manifestou.