Enfermeiro e médica são indiciados em BH por morte de idoso após superdosagem em quimioterapia
Falta de registro de aplicação das doses superiores de medicamentos pode ter custado a vida do paciente oncológico, de 69 anos
Minas Gerais|Andréa Silva
O enfermeiro e a médica responsável pelo tratamento do idoso Nilton Carlos Araújo, de 69 anos, que morreu após superdosagem durante quimioterapia em hospital em Belo Horizonte, foram indiciados pela Polícia Civil. Os dois vão responder por homicídio por dolo eventual - quando o agente não quer o resultado, mas assume o risco de cometê-lo.
O indiciamento dos dois foi informado nesta quinta-feira (26). A vítima havia iniciado um tratamento contra o câncer em março de 2024 e em 19 de agosto recebeu do enfermeiro uma dose injetável de medicamentos significativamente superior a prescrita pela médica. O erro resultou em uma overdose que evoluiu para complicações que causaram o óbito.
De acordo com as investigações, “foram aplicadas quatro injeções, totalizando 8,78 mg do remédio, enquanto a prescrição médica indicava apenas 2,29 mg. O profissional ignorou as identificações individuais das seringas, que estavam destinadas a outros pacientes” informou a Polícia Civil.
Mal-estar
Após a superdosagem, o paciente apresentou mal-estar e foi atendido em duas ocasiões consecutivas. Entretanto, o quadro clínico se agravou, resultando em internação, sendo necessário o suporte com ventilação mecânica. A vítima não resistiu e morreu quatro dias depois.
Conforme apurado, apesar de o enfermeiro ter comunicado o erro à enfermeira-chefe, ele não registrou o incidente no prontuário médico, o que impediu a adoção de medidas corretivas por parte dos médicos plantonistas.
Além disso, a médica responsável pelo tratamento da vítima foi informada sobre a situação, mas escolheu por não tomar providências para tentar reverter o quadro grave do paciente. “Essa conduta contribuiu para o agravamento do estado de saúde da vítima”, indicou a investigação.
Investigações
Após ouvir testemunhas, analisar prontuários médicos, realizar sindicâncias internas e laudos periciais, a PC concluiu que os investigados, o enfermeiro e a médica, agiram com dolo eventual. Ambos assumiram o risco de causar a morte ao optar por não agir, mesmo tendo plenas condições de tentar evitar a morte do paciente.