Engenheiro da Vale disse que cúpula sabia de problemas na barragem
Em depoimento ao MP, Felipe Figueiredo Rocha, que foi denunciado, disse que assunto foi tratado em reunião interna em outubro de 2018
Minas Gerais|Ezequiel Fagundes, da RecordTV Minas
Em depoimento ao Ministério Público de Minas Gerais, um engenheiro da Vale apresentou uma versão diferente da do ex-presidente da mineradora Fábio Schvartsman sobre a segurança da barragem de Brumadinho. A estrutura se rompeu em 25 de janeiro de 2019, matando 270 pessoas. Os dois foram denunciados na última terça-feira (21).
Felipe Figueiredo Rocha era engenheiro de recursos hídricos na época do rompimento da barragem. Em depoimento ao MP, ele foi categórico ao afirmar que a cúpula da mineradora tinha conhecimento dos riscos de erosão interna e liquefação, causas apontadas pelas investigações para a tragédia.
Segundo o depoimento do engenheiro, o assunto foi tratado em uma reunião interna, em outubro de 2018 em que estavam presentes executivos do alto escalão da empresa. Na ocasião, segundo ele, as informações foram compartilhadas.
— Todas as apresentações foram encaminhadas para todos os presentes
O depoimento do engenheiro é diferente da versão apresentada pelo ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman. Ele assumiu em 2017 e disse que já montou um grupo de trabalho para elaborar um diagnóstico da situação.
Segundo o executivo, o resultado atestava a qualidade das barragens da empresa e também as dificuldades para se obter licença ambiental para novos empreendimentos. Schvartsman disse também que o diagnóstico não alertava sobre riscos em barragens e que estava tranquilo com relação às barragens.
— Eu tinha paz de espírito em relação a esse assunto. Não discutia, não debatia, porque não parecia ter nenhum problema.
Ainda no depoimento, o ex presidente da vale culpou a empresa alemã tuv sud.
— Ela foi responsável pelo laudo que atestou a segurança da barragem.
Denúncia
O ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, outros dez funcionários da mineradora e cinco da empresa de consultoria alemã Tüv Süd vão responder por homicídio duplamente qualificado por cada uma das 270 mortes causadas pelo rompimento da barragem B1 em Brumadinho.
Entre os denunciados está o gerente geral da empresa alemã Chris-Peter Meier. Ele está na Alemanha, onde vive, e não quis colaborar para a investigação e, por isso, está com um pedido de prisão e teve o nome inserido na lista de procurados da Interpol.
Por causa disso, o andamento do processo pasou a ser uma preocupação a mais para o MP, que já anunciou a criação de um grupo de trabalho para acompanhar o caso. O procurador geral de Justiça de Minas já pensa em dividir o processo da Vale para dar celeridade na tramitação e evitar o risco de impunidade.
Resposta
A defesa do ex-presidente da Vale disse que ele nunca participou de nenhuma reunião com o engenheiro Felipe Figueiredo e que não existe contradição nos depoimentos. Ainda segundo o advogado, o engenheiro pode ter falado com vários superiores sobre os problemas da barragem, menos com o ex-presidente da Vale.
O advogado do engenheiro felipe figueiredo disse que só vai falar em juízo. O defensor chamou a denúncia de absurda e que por causa da dor das vítimas não dará publicidade que o MP quer dar ao processo.