Especialistas defendem reformulação do contrato dos ônibus em BH
Estudiosos também indicam que a melhoria da mobilidade urbana na cidade passa pela diversificação de meios de transporte
Minas Gerais|Luis Casoni e Luciana Hübner, da Record TV Minas
Com tantos problemas no transporte público de Belo Horizonte, especialistas defendem que a integração de diversos tipos de veículos pode ser a solução para um serviço mais ágil, sustentável e eficiente, com um preço acessível. Profissionais que estudam mobilidade urbana afirmam que o sistema está colapsando, já que é fundamentado principalmente nos ônibus.
Nessa perspectiva, os especialistas defendem que é necessário repensar o modelo de contrato que vem sendo firmado nas últimas décadas com os proprietários dos ônibus que prestam o serviço na capital. Segundo o Governo de Minas, o contrato de concessão do transporte público metropolitano, assinado em 2008, é válido até 2028 e tem muitas falhas. Para alterar os termos, o estado criou uma mesa técnica no Tribunal de Contas para mediar as negociações com as empresas e melhorar a prestação do serviço.
“O ideal é que a gente consiga alterar o contrato para que as empresas, de fato, cumpram a qualidade do serviço desejada, né, porque a multa deveria ser uma coisa excepcional, né? não é uma coisa para você ficar aplicando o tempo inteiro e arrecadando dinheiro. É para o contrato fluir normalmente, mas esse contrato não flui, é um contrato antigo, antiquado e obsoleto.” esclareceu Fernando Marcato, secretário de Estado de Infraestrutura e Mobilidade.
Naprimeira reportagem da série, foi mostrado que o contrato em vigor privilegia o número de passageiros transportados, quanto mais gente couber dentro de um ônibus, mais os empresários lucram e menos gastam com os custos. No entanto, o contexto da pandemia colocou em evidência a perda de passageiros de ônibus pela falta de investimentos. No ano passado, o número de usuários foi de quase 209 milhões mas, dez anos antes, em 2011, era mais que o dobro: mais de 455 milhões, segundo a BHTrans. Dessa forma, é necessário a adaptação do transporte coletivo para essa nova realidade
“A gente não pode continuar refém das empresas de ônibus. a população é refém pela qualidade, pela superlotaçao, agora por essa ameaça de aumento de R$ 1,30 na tarifa, de uma hora para outra, e a prefeitura sendo conivente, sem nenhum instrumento de controle disso" desabafou André Veloso, do movimento Tarifa Zero.
Modernização do transporte
Especialistas são unânimes em afirmar que o transporte coletivo precisa se adequar às demandas de uma população que precisa se locomover, mas quer agilidade, sustentabilidade e preço acessível.
“Se você pegar cidades como Paris, Milão, Barcelona, estão refazendo linhas de bonde que tinham sido extintas justamente nessa época que a gente dizia, nos anos 50. Então, é um movimento que existe porque é um meio de transporte mais sustentável" explicou o professor e pesquisador da UFMG Roberto Andrés.
Tecnologia da informação, infraestrutura e planejamento devem trabalhar juntos para que as cidades sejam mais humanas e sustentáveis. Segundo especialistas, a integração de vários tipos de veículos pode ser dividida em três tipos: física, tarifária e informacional.
Belo Horizonte já deu os primeiros passos na integração física. Na estação São Gabriel, na região nordeste de Belo Horizonte, por exemplo, o passageiro pode optar pelo ônibus convencional, que circula dentro da capital, pelo metropolitano, que roda nas cidades da Grande BH ou pelo metrô. Quem se locomove de bicicleta também conta com um espaço para guardar a bike antes de embarcar ou pode levar a bicicleta junto, se seguir as regras.
A integração tarifária é a possibilidade de usar a mesma forma de pagamento, como um cartão, para fazer viagens nos diversos meios de transporte disponíveis. Na capital mineira, já é possível pagar passagem de ônibus com cartão, mas ele não funciona para todo tipo de transporte.
Pela internet é possível ter um sistema de informação integrado, que permite que os passageiros planejem as viagens de forma eficiente. Pelo celular, é possível acompanhar o horário das partidas e escolher a mais adequada. A integrações dos meios, tarifas e das informações tornam o deslocamento mais fluido, sem interrupções e inconveniências. No entanto, quem usa ônibus na capital e na região metropolitana denuncia que as informações divulgadas nos aplicativos nem sempre estão corretas.
Investir no transporte coletivo é uma forma de solucionar diversos problemas sociais . Especialistas alertam que toda vez que alguém escolhe o transporte individual, a coletividade perde: “A pessoa vai preferir pelo conforto individual. O problema é que esse conforto individual de cada um tem o seu, dá um problema coletivo, que é congestionamento, que é poluição. a gente tem problemas de poluição do ar que prejudicam os pulmoes de nós todos e que são gerados por esse modelo, muito carro na rua. por isso a gente precisa de política pública.” disse Andrés.
Metrô como solução
De acordo com a arquiteta Flavia Papini, o transporte coletivo na capital está colapsando porque é fundamentado principalmente nos ônibus, já que o metrô atende apenas uma pequena parte da cidade e é justamente por isso que os passageiros tanto sonham com a ampliação desse modal.
“A gente implantar o metrô aqui de belo horizonte é tecnicamente viável. Não é uma coisa que a gente não consegue fazer. A gente vê, por exemplo, cidades com a topografia muito mais desafiadora do que a nossa, a gente vê locais com um relevo muito mais impactante do que o nosso e com metrô” explicou a arquiteta.
Reféns do Ônibus
A RecordTV Minas estreou, na última segunda-feira (2), uma série de reportagens sobre o transporte público em Belo Horizonte e seus problemas. No total, três episódios trouxeram um panorâma da situação dos coletivos na capital mineira. No segundo episódio, a reportagem mostrou que as multas por falta de cobradores em ônibus ultrapassam R$ 24 milhões em BH.