'Fui acusado de estupro', diz brasileiro deportado dos EUA
Oitenta pessoas que tentaram entrar de forma irregular nos EUA desembarcaram em BH nesta sexta e relatam maus tratos e humilhação
Minas Gerais|Virginia Nalon, da RecordTV Minas, com Lucas Pavanelli, do R7
Oitenta brasileiros detidos ao tentar entrar de forma irregular nos Estados Unidos desembarcaram na noite desta sexta-feira (14) no Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte. Ao menos 40 crianças estavam no voo. Eles ficaram sob custódia do Departamento de Imigração norte-americano e denunciam que passaram por humilhações e sofreram maus tratos.
Este foi o quarto voo com brasileiros que foram deportados do país norte-americano desde o ano passado. Os relatos de quem pisou em solo brasileiro novamente são parecidos: fome, frio e humilhações constantes. Roberto César, que trabalhava como padeiro no Brasil, conta que passou por uma situação que nunca imaginou que poderia passar.
— Fui acusado de estupro. O policial me algemou, machucou meu braço e me levou para uma sala gelada. Eu fiquei lá e minha filha na outra sala, me vendo pelo vidro e chorando.
De acordo com o relato de Roberto, policiais o agrediram e ele só ficou sabendo mais tarde que havia sido acusado de estupro.
— Eles falaram que era para separar os pais das crianças porque um pai teria estuprado a filha no banheiro. Depois viram na câmera que não teve nada disso.
Ele voltou para o Brasil sem os pertences e não sabe, ainda, como voltar para casa.
Leia também
'Lá, faxineiro tem uma vida': deportados contam por que escolheram viver ilegalmente nos EUA
Quarto avião com deportados dos EUA chega a Belo Horizonte
Travessia de migrantes do México aos EUA cai 74,5%, diz secretário
'Aqui não é sua casa': os relatos dos brasileiros detidos e deportados dos Estados Unidos
Humilhação
Relatos de humilhação e maus tratos são comuns entre os 80 brasileiros que desembarcaram na capital mineira na noite desta sexta.
Breno Silva Coelho, de 33 anos, que é de Ipatinga, a 211 km de Belo Horizonte e está desempregado tentou a sorte de atravessar a fronteira dos Estados Unidos pelo México. Mas a experiência foi "terrível".
— La a gente é humilhado mesmo. As crianças são maltratadas. Eles levam a gente para uma sala gelada, não tem coberta, deixa a gente sentado lá. A gente fica debaixo de uma tenda com vários estrangeiros e a gente não consegue se comunicar com a família. Eu acho uma covardia ainda maior por causa das crianças. Eles não querem nem saber.
A professora Fabrícia Alves foi ao aeroporto para receber um sobrinho. Ela não tinha notícias dele desde o mês passado.
— Ele tentou a primeira vez, mas não deu certo. Agora, ficou mais de 15 dias preso. Foi muito dificil ter notícias dele. Eu acho desumano. Não ter deixado fazer uma ligação, naã ter um telefone. Tem família aqui desesperada querendo saber notícia. Ele não é ladrão, ele só queria ter uma vida melhor.
O eletricista Francisco Lagares Garcia tinha o sonho de trabalhar durante um período no país e ajudar a família, que ficou no Brasil. Mas não foi isso o que aconteceu.
— Nosso país nao tá bom de emprego. Os coiotes enchem a gente de conversa, mas quando chega lá é como se a gente caísse na boca de um lobo.
Recepção
Além dos abraços de familiares que esperavam no saguão da área de desembarque, os deportados foram recebidos com um café preparado pela equipe do aeroporto. No lanche tinha pastel, bolo, suco e pão de queijo. Bem diferente da alimentação que receberam nos Estados Unidos, basicamente chips, leite e biscoito.
Outros casos
Outros três aviões deixaram o estado do Texas rumo a Belo Horizonte desde o ano passado. O último deles pousou na capital mineira na sexta-feira passada (7), com 130 pessoas a bordo de vários Estados, como Minas Gerais, Roraima e Goiás.
Brasileiros deportados relatam humilhação e maus tratos nos EUA
O governo federal tem facilitado a deportação de cidadãos nacionais que entraram de forma irregular nos Estados Unidos. O presidente Jair Bolsonaro já declarou que não iria interferir na maneira como o país norte-americano conduz a questão.
“Você acha que eu vou pedir para ele descumprir a lei dele? Tenha santa paciência. A lei americana diz isso. É só você não ir para os Estados Unidos de forma ilegal”, declarou em janeiro